MotoGP – O sonho acabou?

segunda-feira, 4 de setembro de 2017 às 20:49
Valentino-Rossi

Valentino Rossi

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Em 31/agosto, durante um treino com uma moto de enduro na localidade de Parchiule, próxima de Tavulia onde fica o complexo esportivo de propriedade de Valentino Rossi, o piloto italiano sofreu um acidente que resultou em fratura da tíbia e da fíbula, lesão semelhante a que sofreu nos treinos que antecederam a prova de Mugello em 2010. O acidente arquivou temporariamente a principal meta do italiano, de ser de fato e de direito o piloto mais vitorioso de todos os tempos no motociclismo esportivo. Ele está muito próximo.

Existe um consenso mundial que Valentino Rossi é o maior nome do esporte nos dias atuais. Nenhum outro reúne as condições de longevidade (disputou a primeira prova em 1996 na classe 125cc) e obteve tanto sucesso (9 títulos mundiais, 115 vitórias, 226 pódios, 64 poles e 95 voltas mais rápidas), seus números não podem ser superados por qualquer piloto em atividade nos próximos anos. Desde a sua estreia na MotoGP em 2000, ninguém fez mais que ele pelo esporte em termos de divulgação e espetáculo.

Este acidente remete a lembranças de um evento semelhante ocorrido em Mugello, que pode ser interpretado como um ponto de inflexão na carreira do italiano. Após dois campeonatos, 2008 e 2009, em 2010 era um forte concorrente para o terceiro título seguido até o acidente na quarta etapa da temporada, ficou fora por quatro provas e permitiu a ascensão de Jorge Lorenzo. Depois desta ocorrência a carreira de Valentino continua vitoriosa, mas não recuperou mesmo brilho, a média de 8 vitórias por temporada obtida entre 2002 e 2009 nunca foi igualada.

O Dr. Raffaele Pascarella, médico que supervisionou a cirurgia para reconstruir a perna traumatizada acredita que Rossi vai precisar de 30 a 40 dias de recuperação antes de voltar a pilotar uma moto. O médico descreveu que a fratura como complicada, mas está confiante quanto a sua total recuperação. Supondo que todos os prognósticos otimistas sejam comprovados, o piloto deve estar ausente dos GPs de San Marino (Misano) e Aragon, devendo retornar ainda sem as condições ideais no GP do Japão de em 15 de outubro.

A força de vontade dos pilotos da MotoGP não é semelhante às pessoas normais, em 2013 Jorge Lorenzo estava disputando a liderança do campeonato com Dani Pedrosa e sofreu um acidente nos treinos iniciais de sexta-feira do GP da Holanda em Assen, sofreu uma fratura da clavícula. Transferido para Barcelona foi operado no sábado, de volta ao circuito e entupido de analgésicos alinhou para a largada no domingo. Classificou-se em quinto lugar.

Os argumentos que a idade de Valentino seja um fator importante que possa limitar a sua capacidade não encontra respaldo nos fatos. Alguns dos pilotos que participam de competições bem mais estressantes como as do Duke Road Racing Rankings, que inclui os GPs Isle of Man TT, North West 200 e Ulster Grand Prix são mais longevos, John McGuinnes por exemplo, o multicampeão de provas TT (Turist Trouphy) e piloto da equipe oficial Honda tem 45 anos de idade.

A temporada de 2016 da MotoGP foi atípica. Os organizadores patrocinaram uma radicalização do regulamento buscando nivelar a competitividade, obrigando todos as equipes a utilizarem um pacote eletrônico padronizado. Yamaha e Honda criticaram as mudanças, especialmente o uso coercitivo do software Magneti-Marelli, classificando-o como uma regressão tecnológica de mais de 10 anos.

O fornecedor exclusivo de pneus também mudou, a japonesa Bridgestone foi substituída pela Michelin. Os resultados da temporada provaram o acerto inicial destas medidas, nas 89 etapas disputadas entre 2011 e 2015, em uma única oportunidade a vitória não ficou restrita às equipes de fábrica da Yamaha e Honda (Ben Spies na Holanda em 2011). Com o novo regulamento as 18 etapas do campeonato apresentaram 9 vencedores diferentes, incluindo pilotos das 4 equipes oficiais (Honda, Yamaha, Ducati & Suzuki) e 2 de satélites (Cal Crutchlow da LCR e Jack Miller da Marc VDS). O objetivo de proporcionar um nível maior de disputas no campeonato só não foi totalmente alcançado porque com uma performance excepcional Marc Márquez garantiu o título faltando três etapas para o final. Neste ambiente, Valentino Rossi conseguiu mais duas vitórias totalizando 114, restando 8 para igualar o recorde de Agostini, o maior vencedor de todos os tempos.

Até a 12ª etapa do campeonato de 2017 as vitórias estão concentradas nas três principais equipes oficiais, Ducati, Honda e Yamaha, com 4 cada. Isto pode ser interpretado como depois de um ano onde tudo era novidade, organizações com orçamentos mais generosos voltam a ter pequena vantagem. Rossi somou mais uma vitória e está na disputa do título, seu oitavo na classe principal que igualaria ao número dos obtidos por Agostini. Estes planos estão temporariamente arquivados.

Apesar de restritas por um regulamento único, os diferentes protótipos da MotoGP têm personalidade própria. A Honda RC213V foi originalmente projetada para aproveitar ao máximo o extraordinário grip dos pneus dianteiros da Bridgestone e tem uma capacidade brutal de frenagem, a Ducati GP17 busca transferir a máxima potência e a Yamaha M1 desenvolveu um conjunto equilibrado, adequado para estilo de seus pilotos. A equipe está experimentando dificuldades com a durabilidade dos pneus traseiros, como chassis e a aerodinâmica são os únicos pontos que o regulamento permite trabalhar, a experiência de Valentino é importante para identificar e sanar este problema. A sua ausência em duas, talvez mais etapas, é uma dificuldade adicional para a equipe.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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