Vinte anos depois, Cascavel vê Stock Car totalmente renovada

sexta-feira, 14 de setembro de 2012 às 16:09
Felipe Maluhy em 2012

Felipe Maluhy

Da categoria que passou pela última vez pela cidade há 20 anos, restou apenas o nome. É uma Stock Car totalmente renovada que o público de Cascavel está vendo neste fim de semana, encerrando o exílio de mais de duas décadas daquela que se tornou neste período a principal grife do automobilismo brasileiro. Quando se despediu do autódromo do oeste paranaense em 1992, a Stock Car perdia prestígio a cada etapa, cedendo espaço para a emergente Fórmula 3 sul-americana e sua garotada ansiosa por seguir os passos do ídolo Ayrton Senna, tricampeão da Fórmula 1. Mas a tragédia em Ímola em 1994 induziria as séries de monopostos a uma agonia lenta e irreversível até a extinção de seu último campeonato nacional – a Fórmula Futuro – no começo deste ano. Recentemente, a Vicar – promotora da Stock Car – deu a largada de um ambicioso e incerto projeto de exumação da Fórmula 3, que nas últimas temporadas não passou de um rascunho malfeito de seus dias de glória dos anos 80 e 90.

Ninguém poderia imaginar que a corrida de 1992 seria a derradeira da Stock Car em Cascavel por muito tempo. O ano, aliás, foi de intensa efervescência política no Brasil e culminou com o impeachment de Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito depois do golpe militar de 1964. Seria também marcado pelo massacre do Carandiru, onde 111 presos foram mortos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, e o desaparecimento nas águas de Angra dos Reis em acidente de helicóptero de Ulysses Guimarães, duas vezes presidente da Câmara dos Deputados e um dos líderes da luta pela redemocratização do País.

Nas pistas, com um protótipo ainda baseado no Opala que deu origem à categoria em 1979, Ingo Hoffmann e Angelo Giombelli, catarinense radicado em Cascavel, davam as cartas e estavam a caminho do segundo dos três títulos consecutivos que a parceria – o regulamento permitia que cada piloto disputasse uma das provas do sistema de rodada dupla – conquistaria. O carro em nada lembrava o puro-sangue de corrida atual, concebido para as pistas e empurrado por um motor V8 de 480 cavalos que pode chegar a 570 com o auxílio do botão de ultrapassagem. Giombelli logo deixaria as corridas e Ingo seguiria em carreira solo até 2008, quando se aposentou com 12 troféus de campeão e o status de maior nome da história da Stock Car. Neste fim de semana, Giombelli tem comparecido com autódromo e prestando consultoria informal aos velhos amigos, na maior parte chefes de equipe e pilotos novatos em busca de dicas sobre o traçado.

Os pilotos da Medley/Full Time sequer sonhavam na época que estariam no grid na volta da Stock Car a Cascavel em 2012. Aproximando-se dos 7 anos e vivendo a infância na plenitude em Campinas, Xandinho Negrão estava apenas começando a acompanhar as corridas do pai Xandy em divisões de turismo. “Foi com essa idade que ele passou a me levar para os autódromos”, lembra Xandinho, que acabaria fisgado pela mesma paixão paterna pelo automobilismo. O companheiro Felipe Maluhy, adolescente de 15 anos, estudava em Manchester, cidadezinha próxima a Boston, nos Estados Unidos. “Só depois que voltei ao Brasil é que fui andar de kart pela primeira vez”, diz Maluhy, cujo pai também foi piloto de turismo e fórmula. “Mas meu quarto já era todo decorado com recortes de jornais com reportagens de automobilismo.”

Mudou o Brasil, que nas três últimas eleições presidenciais escolheu um ex-operário (duas vezes) e uma ex-militante política torturada pela ditadura, mudou a Stock Car, cuja contínua evolução tecnológica e promocional a colocou entre as principais competições automobilísticas de todo o mundo, e mudou o autódromo de Cascavel. Inaugurado em 1970 e em pleno regime de exceção, Cascavel passou por um amplo processo de modernização com o propósito de atrair de volta as categorias que dele se afastaram em sua longa noite de decadência. O traçado permanece com os mesmos 3.032 metros originais, mas as áreas de escape foram ampliadas em consonância com os atuais padrões de segurança e os acanhados boxes foram ampliados. O circuito também ganhou novo asfalto, um tapete negro que foi apresentado à nova geração da Stock Car nos treinos extras desta sexta-feira.

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