Rachel Loh: História de Superação, Pioneirismo Feminino no Motorsport, e presença na Copa Truck e Stock Car

domingo, 6 de agosto de 2023 às 8:20

Thiago Camilo

Autoracing: Rachel, primeiramente é uma honra tê-la como entrevistada no Autoracing. Você que passou a ter um gosto pelo automobilismo durante a faculdade, como descreveria seu percurso até os dias de hoje dentro do Motorsport?

Rachel Loh- Foi na faculdade que comecei a descobrir minha paixão pelo Motorsport. Durante os anos da faculdade, acabei por conhecer o Projeto Baja SAE.

Autoracing: Como que a Baja influenciou fortemente seu desejo de trabalhar como automobilismo? Como você (Rachel) se sente ao ser uma das inspirações, além de pioneiras no Motorsport, para diversas meninas e mulheres que sonham em trabalhar com o automobilismo?

Rachel Loh– O Baja foi um projeto no qual nós da faculdade podíamos construir protótipos de competição, e eu, Rachel, entrei como pilota de uma das equipes. Naquela época que ingressei no Baja, somente haviam homens e alunos da engenharia mecânica no referido projeto.

Atualmente esse projeto Baja é aberto a várias mulheres, assim como várias engenharias, não só a mecânica. Com isso posso dizer que fui a primeira mulher a participar dessa competição estudantil, além de ser a primeira mulher pilota e capitã. Sinto que foi um pioneirismo que abriu portas para outras meninas seguirem nesse projeto, e ao mesmo tempo me sinto honrada por poder ter sido exemplo para outras mulheres conquistarem seu espaço dentro da equipe e do projeto, algo que já era inevitável e necessário acontecer na Universidade Federal Fluminense, onde fui graduada.

O Baja por ser esse projeto tão inspirador, ao ponto de permitir que coloquemos a mão na massa, deixou-me mais apaixonada pelo automobilismo e com extremo desejo em trabalhar com automobilismo. E poder ser (eu Rachel) a inspiração de várias meninas e mulheres, além de estar atuando junto a Comissão Feminina de Automobilismo e dentro da Stock Car, é de extrema alegria, já que, juntamente com Girls Like Racing, estou trazendo mais meninas e mulheres para perto do esporte.

Autoracing- Além da Stock Car, você tem contato com a Copa Truck e a Formula 1. Qual a sensação de trabalhar tanto na AMattheis Ipiranga como engenheira chefe, na ASG como chefe de equipe e engenheira chefe, e Fiscal de Pista no Grande Prêmio de Singapura do ano passado?

Rachel Loh: Gosto muito do que faço nessas categorias, então ter começado na Copa Truck agora em 2023 junto a Bia Figueiredo, cujo seu retorno para as pistas foi de imensa alegria, ainda mais porque estou ao lado dela.

A Copa Truck é uma categoria super desafiadora, assim como a Stock que é super competitiva. Amo trabalhar na Stock Car e já tenho quase 20 anos na categoria, assim como sou apaixonada em trabalhar na Amattheis.

Quanto a F1, trabalhar como fiscal de pista, especialmente no Gp do Brasil, é uma das atividades que mais amo desempenhar. Adoro participar da comissão técnica do Gp Brasil.

Um dos meus momentos favoritos, sem dúvida, foi o programa de intercâmbio patrocinado pela FIA Women que acabou por me levar para Singapura, local que nunca havia ido. Posso dizer com a absoluta certeza que a experiência obtida em ter trabalhado em um grande prêmio noturno da Formula 1, e ainda como comissária de pista- trabalhando como bandeirinha, ficar no radio com a direção de prova, controlar os painéis luminosos-, foi uma experiência totalmente diferente e animadora, principalmente por ver os carros passando há menos de 01 metro de onde eu estava, sendo uma emoção indescritível para quem é apaixonado pelo esporte.

Em termos de legado, sou muito abençoada por ter conhecido outras 23 mulheres do mundo inteiro, e até hoje nos falamos.

Autoracing- Como é sua relação com a AMattheis Ipiranga, Sr Andreas, os pilotos César Ramos e Thiago Camilo? Qual o balanço que vem fazendo das temporadas de 2022 e 2023 dá AMattheis?

Rachel Loh: Primeiramente é uma honra poder trabalhar ao lado do Andreas Mattheis, assim como já ter sido pupila dele (Andreas). O Andreas é uma lenda do automobilismo, além de um profissional que admiro muito, principalmente por conta de sua bagagem, conhecimento e da forma que trabalha junto a equipe.

Sou também bastante agradecida por trabalhar ao lado de dois pilotos muito competitivos: César Ramos e Thiago Camilo. O César e o Thiago são pilotos com alto potencial de fazer poles, obter vitórias, e disputar campeonatos.

As últimas temporadas têm sido bem desafiadoras, visto que a Stock Car está bem competitiva. Foi bastante prazeroso ter começado essa temporada de 2023 com pé direito, diferente que 2022 que foi um ano dificil.

Em 2023 estamos conseguindo nos manter na frente, com o Thiago na liderança do campeonato. Todavia o importante está nos milésimos de segundo, e, para permanecer na frente, temos ótimas pessoas trabalhando na equipe- como o Francisco, Guilherme e o João-. O time que temos é maravilhoso, e que me faz a cada dia adorar cada vez mais a AMattheis

Autoracing- Chefe de Equipe na ASG, como que foi ver a Bia Figueiredo vencer pela primeira vez na Copa Truck? E como está sendo conciliar o trabalho na Copa Truck com a Stock Car?

Rachel Loh: O mais especial, além dessa vitória da Bia, foi ver a própria Bia Figueiredo voltar as pistas e estar disputando essa temporada inteira da Copa Truck, e espero ver ela continuar comigo na Truck por vários anos.

Ver como ela (Bia) se adaptou muito rápido foi incrível. Voltamos de Goiânia neste fim de semana com a terceira pole position do ano em seis etapas, o que já é metade das provas disputadas até o momento.

Emplacamos também a vitória em Cascavel, algo que foi uma conquista muito suada, mas valeu muito a pena em razão do desafio e da sensação de ver essa lenda do automobilismo no lugar mais alto do pódio, o que se leva pelo fato de ela ser uma das maiores pilotas brasileiras.

Quanto ao “conciliar” (risos), já venho trabalhando na Stock Car há vários anos, e agora, em 2023, estar na Copa Truck se tornou um grande desafio, principalmente porque voltar a trabalhar em duas categorias depois de ser mãe é muito desafiador. Os dois projetos exigem muito planejamento, apoio da família- no qual conto com meu marido que me ajuda com nossa filha de 09 anos de idade-, mas que vem dando muito certo.

Como funciono em tempo integral na AMattheis, temos um time maravilhoso de profissionais que se colaboram, assim deixo tudo planejado caso eu precise estar na Copa Truck. O Andreas brinca que ele me “empresta” para Bia (risos).

Autoracing- Desde 2022 estamos vendo o Girls Like Racing e o Girls On Track trazendo meninas e mulheres para Motorsport. Qual a sensação de participar desses dois projetos maravilhosos?

Rachel Loh: Tive um estalo bastante grande na pandemia com o intuito de poder fazer mais pelo sonho que almejava.

Sempre tive o sonho de ver mais meninas e mulheres no automobilismo, e verifiquei que não bastava somente eu como exemplo, precisava abrir portas, amparar e incentivar outras mulheres para que essas pudessem ter contato com automobilismo. E o marco para traçar esse sonho foi o regresso do público aos autódromos no ano de 2022

Foi a partir daquele ano (2022) que decidi por realizar ações na pista só com mulheres, e foi nesse caminho que originou a parceria do Girls Like Racing, comandado pela Erika Prado, com a AMattheis. A parceria vem sendo muito notada, e com patrocínio da Ipiranga e da Toyota, além claro junto do apoio da Stock Car.

O trabalho com esses dois projetos é maravilhoso, pois além das sementes serem cultivadas, já está sendo possivel colher os frutos desses projetos, assim como a Imersão Motorsport.

O Girls On Track é um projeto dirigido no Brasil pela Comissão Feminina de Automobilismo. No mundo a fora existem outros Girls On Track que são comandados pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo).

Autoracing- E, por fim, se pudesse conversar com a Rachel que estava entrando na faculdade, que conselho daria para ela?

Rachel Loh: Essa última pergunta é extremamente incrível. O questionamento de conversar com você do passado é algo que eu tento praticar com as novas gerações, principalmente com as pessoas que participam do “Acolhimento Estudantil”.

“Acolhimento Estudantil” é o projeto com o intuito de trazer os estudantes universitários para observarem como é um dia no autódromo ou na oficina da equipe.

Tanto no autódromo ou na oficina, posso falar para esses estudantes tudo que eu queria que alguém tivesse perguntado para mim, desde quando acabei por entrar na universidade.

As grandes reflexões principalmente com referência ao amadurecimento pessoal são bastante importantes, pois não nascemos sabendo as coisas, e vamos adquirindo os conhecimentos ao longo da vida, já que sempre teremos muitas coisas a aprender. Com isso é importante a cada erro, queda, e tombo, levantar e observar a frustação como se ela fosse combustível para achar a solução de um obstáculo ou situação.

Quando queremos achar tal solução para o problema, acabamos por dar um jeito de melhorar nosso desempenho cada vez mais. Além disso, devemos cuidar sempre da nossa saúde, já que posso dizer que com tanta informação que temos sobre recursos, remédios e treinamento, a saúde é indispensável e que sempre deve estar presente. Principalmente porque ela (saúde) traz várias ramificações, sendo uma delas a Saúde “Mental”, que acaba por ser bastante frágil, ao ponto de poder nos derrubar.

Com 20 anos de idade, entrei em depressão, algo que foi difícil de superar devido ao tabu pela sociedade que havia na época quanto a depressão, sendo que precisei do apoio da família e de remédios.

Existem três saúdes, no meu ponto de vista, que devemos cuidar: Saúde Espiritual, Saúde Física e Saúde Mental. A Saúde Espiritual se envolve no fato de você ter fé em alguma coisa, todavia essa saúde demora para ser observada, e uma das consequências da ausência dessa saúde é acabar por não saber quem você é, o que você deve fazer. No entanto, o benefício é que você acaba por amadurecer e passa a conviver melhor em sociedade.

Jonathan Bianchini para Autoracing

EB - www.autoracing.com.br

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