Quem vai querer a Honda no futuro?

segunda-feira, 5 de outubro de 2020 às 12:06
Ayrton Senna em Monza 1988

Ayrton Senna – McLaren 1988

Por: Bruno Aleixo

O duro de colaborar para um site como o Autoracing é que às vezes você tem uma ideia genial para uma coluna, mas aí, quando vai ver, alguém já foi gênio bem antes de você. Foi assim que me deparei com a última coluna do graaaaaaaaaande Adauto Silva, dando um malho bem dado na Honda, depois que os japoneses anunciaram que vão deixar a F1. De novo, aliás.

Não sobra muito para falar depois do que o mestre já disse, mas vou tentar, porque quero dar minha opinião, embora pudesse apenas manifestar minha cara de pau de dizer que assino embaixo de tão brilhante texto.

Mas o fato é que a Honda merece cobranças também. E fortes. Sim, a F1 precisa repensar seu formato, porque está se tornando inviável. E, vejam vocês, com apenas três fornecedores de motor. Três, para a principal categoria do automobilismo. Aquela que diz ser o olimpo do esporte a motor. Aquela cujos fãs têm faniquitos só de ouvirem falar em padronização de peças, como já debatemos no Loucos por Automobilismo. E não há nada que não possa piorar: sem a Honda, a Red Bull terá que buscar abrigo na Renault, com quem saiu às turras em tempos recentes. Já pensaram se a turma das latinhas se enche da brincadeira e pega o boné? Pois é, o olimpo do automobilismo ficará com um grid de 16 carros. Então, à F1 a responsabilidade que lhe cabe.

Agora, a Honda hein… Tida como supercompetente, uma fama de vencedora incontestável e trá lá lá… Mais uma vez os japoneses deixam a F1 depois de uma participação claudicante, utilizando a crise financeira mundial como justificativa (crise que é para todos, diga-se) e deixando seus clientes a ver navios. Na boa, se a Honda resolver voltar em 2026 e ninguém quiser fechar contrato com ela, será mais do que compreensível.

Tudo isso me fez pensar se toda essa fama dos japas é mesmo justificável. A Honda entrou na F1 em 1964, produzindo carro e motor. Uma autêntica equipe japonesa em uma categoria europeia. Não era pouca coisa. Os resultados, embora modestos, foram considerados razoáveis até 1968. Porém, os custos da operação somados à morte do piloto Jo Schlesser, no circuito de Rouen, levaram os japoneses a desistir do negócio.

No final da temporada de 1983, com a popularização das transmissões pela TV, a Honda achou que era a hora de voltar a investir, e aliou-se com a Williams, equipe que era a atual campeã. E, logo de cara, percebeu-se que o motor japonês era bom. Com o time de Frank Williams a Honda cresceu na F1, e conquistou o campeonato de 1987, com Nelson Piquet. A bem da verdade, poderia ter conquistado também o de 86, mas Mansell e Piquet se engalfinharam durante todo o ano, enquanto Alain Prost foi comendo pelas beiradas para pegar o caneco no final do ano.

Depois, a Honda foi para a McLaren e o resultado foi aquele massacre, que todos nós lembramos. Com a ascensão da Williams e da Renault, a Honda deixou a F1 pela segunda vez, em 1992. Foi para a Indy, numa história que já contei aqui, recentemente. Os japoneses permaneceram ligados à categoria principal por meio da Mugen, que montava seus motores. E voltaram, em 2000, numa parceria com a BAR.

Foi um período bem fraco, muito porque o time não era lá essas coisas. Mas depois que conseguiram se livrar de Jacques Villeneuve, fizeram um bom papel nas temporadas de 2004 e 2005, com Jenson Button e Takuma Sato. No ano seguinte, já como equipe de fábrica, conquistaram uma vitória com Button, na Hungria. Mas aí vieram as temporadas de 2007 e 2008, em que a equipe mal conseguiu marcar alguns pontinhos. E, no final da temporada, mais uma vez, lá se foi a Honda embora da F1, alegando crise financeira.

A volta, em 2015, foi com aquele alarde. Parceria com a McLaren, Fernando Alonso ao volante e tudo mais. Um horror. O motor parecia de outra categoria (“GP2 engine”, lembram?). Chutada da McLaren por influência direta do bicampeão espanhol, a Honda encontrou abrigo na RedBull que lhe ofereceu a possibilidade de construir o carro em função do motor. Estava começando a dar certo, embora a parceria tenha dado uns passos para trás em 2020. Mas já não era um vexame.

Não era até a semana passada, quando a Honda, mais uma vez, desistiu da brincadeira. Bom, o saldo, na minha visão, é que a Honda pode ser considerada uma empresa superestimada, esportivamente falando. O saldo final de sua passagem pela F1 somente pode ser considerado positivo nos anos 1980 e início dos 1990. De resto, foi bem fraco. E, saindo novamente, é fato que a Honda levanta dúvidas sobre sua competência. Dúvidas bastante justificáveis, aliás.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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