MotoGP – A difícil meta de Valentino

quinta-feira, 24 de agosto de 2017 às 12:58
Valentino Rossi e Maverick Vinales

Valentino Rossi e Maverick Vinales

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Um autor desconhecido, provavelmente um matemático extasiado com o visual das garotas em uma praia, criou a frase “Estatística é como biquíni, mostra tudo menos o essencial”. Decididamente não faz sentido comparar resultados de eventos diferentes, ocorridos em ocasiões distintas e sob condições desiguais para basear uma única conclusão. Poucos discordam que Valentino Rossi é o maior nome do motociclismo esportivo nos dias atuais, embora o consenso desapareça se o espectro for ampliado até os primeiros campeonatos mundiais organizados pela FIM desde 1949.

Analisando exclusivamente campeonatos obtidos ou número de vitórias Giacomo Agostini é o líder inconteste, 15 mundiais, 8 na principal categoria, 122 vezes no degrau mais alto do pódio. Rossi está muito próximo, 7 mundiais na classe de maior potência e 115 vitórias no total. Outro nome que se destaca é Angel Nieto, que nas categorias de menor cilindrada venceu 90 vezes e conquistou 13 (12+1) títulos. Se na comparação for acrescida a contribuição para divulgação do esporte e/ou sucesso financeiro pessoal, Rossi é imbatível.

Valentino Rossi é o maior vencedor desde 2002, depois da MotoGP ter sido totalmente reestruturada. A carreira do italiano neste período pode ser dividida em duas fases, antes e depois da Ducati. Nos anos anteriores à sua mudança para a fábrica italiana Rossi havia disputado 153 GPs e vencido 66, depois de dois anos com a Ducati sem nenhum triunfo, de volta à Yamaha em 83 provas conseguiu 10 vitórias. Esta mudança de produtividade em muito se deve a ascensão de pilotos espanhóis que disputam o mundial, nos últimos 5 anos Jorge Lorenzo venceu 21 vezes, Marc Márquez 32 e Dani Pedrosa 8.

Red Bull Ring é um circuito de layout simples, basicamente três retas conectadas por curvas à direita e um miolo com um longo contorno à esquerda, tudo distribuído em um desnível de 65 m. É o circuito mais veloz do calendário da MotoGP e, nos dias que antecederam a prova a inconstância do clima provocou sérias discussões sobre a possibilidade de sua realização com chuva, a velocidade de aproximação das curvas é muito alta e alguns muros muito próximos. No domingo o tempo esteve firme, o GP foi fantástico, candidato a ser classificado como um dos dez melhores de todos os tempos, houve disputa pela liderança, disputa por posições intermediárias e uma indefinição que durou até a última curva da última volta para coroar um vencedor.

A equipe oficial da Yamaha decepcionou, sexto e sétimo lugares não são colocações esperadas pelo investimento da fábrica e potencial dos pilotos. Mais constrangedor ainda porque pela quarta vez em onze provas as máquinas da equipe oficial ficam atrás da Tech3, satélite que utiliza equipamentos da temporada passada. Na prova o maior problema de Rossi e Vinales foi o pneu traseiro. O pneu de Rossi durou doze das 28 voltas, depois a moto ficou complicada para pilotar. Este tem sido um problema recorrente nas últimas corridas, por alguma razão, a Yamaha M1 2017 consome muito o pneu traseiro e, enquanto ele dura, a moto tem aderência e é rápida. A proeza de Johann Zarco com a Tech3 não é tão notável assim, ele terminou a prova 7 segundos atrás dos líderes e, em MotoGP, este tempo é quase uma eternidade.

Na última semana o jornal de Roma “La Republica”, o segundo diário mais importante na Itália (depois do “Corriere della Sera” de Milão) publicou declarações de Alessio Salucci, o Uccio, amigo pessoal e membro da equipe de Valentino, que o piloto cogita estender o contrato com a Yamaha que se encerra em 2018. Esta hipótese só é viável se ele tiver condições plenas de lutar pelo campeonato, caso contrário irá ceder o seu lugar a outro piloto. Uccio acredita que haverá um contrato depois de 2018, talvez por um ano, porque Rossi quer igualar o número de vitórias e mundiais de Agostini.

Este ano ele já considera perdido depois do frustrante resultado das Yamaha oficiais, Rossi ficou 9 segundos atrás do líder, 2,5 segundos atrás de Johann Zarco com uma Yamaha do ano anterior e não conseguiu sequer disputar colocação com seu colega de equipe. Depois da corrida fez críticas contundentes ao comportamento do equipamento, citou que o núcleo que acompanha a equipe nas pistas tinha esgotado a sua capacidade e que uma solução devia obrigatoriamente vir da fábrica no Japão. A moto que encantou nos testes pré-temporada e venceu as provas do Catar e Argentina piorou muito com as modificações introduzidas, algumas a pedido de Rossi, durante a temporada.

A troca de chassis criou problemas em todos os itens essenciais em uma prova, aderência, aceleração e velocidade final. Na Áustria a Yamaha utilizou a eletrônica para reduzir a potência e tentar e reduzir o desgaste do pneu traseiro, obrigando os condutores a ousar mais nas frenagens, característica incomum no estilo dos pilotos da fábrica. Adicione-se a este caldo de cultura a deterioração gradativa do ambiente interno da equipe. Um Rossi sem a possibilidade de vitória não é exatamente uma pessoa feliz e Vinales está indignado por já completar quatro provas este ano atrás da Tech3, que utiliza o equipamento do ano passado. “Como isto é possível” perguntava nos boxes da Áustria. Não é ainda a atmosfera de beligerância explícita das temporadas anteriores com Lorenzo, mas o clima fraterno e amistoso do início do ano já não mais existe.

Parte do problema de desempenho das Yamaha pode ser creditado a melhorias das concorrentes Honda e Ducati. As evoluções da marca italiana contam com a colaboração de três pilotos experimentados, Dovizioso, Lorenzo e Petrucci, que competem com a Desmosedici 2017, a Honda utiliza o feedback fornecido por Márquez, Pedrosa e Crutchlow para adequar seus protótipos, em todas as outras equipes, incluindo a Yamaha, só dois equipamentos 2017 participam do grid. Na Áustria a RC213V de Márquez e Pedrosa mostrou sensíveis progressos em termos de retomada de aceleração, seu maior problema nos dois anos anteriores, as Ducati estão freando melhor, enquanto a M1 detona o pneu traseiro muito rápido.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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