Lewis Hamilton, um verdadeiro campeão

segunda-feira, 30 de outubro de 2017 às 14:22

Lewis Hamilton – campeão de 2017

Por: Adauto Silva

Lewis Carl Davidson Hamilton é o nome da fera. Acompanhando Formula 1 desde 1972 quando meu pai me levou ao longínquo Autódromo de Interlagos, que na época ficava fora da cidade de São Paulo, numa área totalmente desabitada, é um dos maiores campeões que vi até hoje na F1.

Negro, Lewis “sofreu” mais do que o normal durante sua carreira até chegar na F1. Lógico, apesar da grande maioria das pessoas ter evoluído e hoje saber que a raça humana é uma só, independente da cor, credo ou orientação sexual, muitos seres humanos ainda vivem nas trevas da ignorância e dificultam muito as coisas para quem parece “diferente” da maioria. Mas tenho esperança na humanidade e um dia acho que as pessoas só serão definidas pelo seu caráter e determinação, porque afinal é só isso que importa.

Lewis ainda por cima escolheu um esporte de “brancos”, ou seja, assim que chegou na F1 foi visto por muitos como um “penetra” numa festa na qual pessoas como ele não costumavam frequentar. Por isso seu enorme talento mostrado imediatamente incomodou muitos e incomoda até hoje. Mas aos poucos foi conquistando o respeito tanto de seus pares como da maioria da torcida.

Escrevi uma coluna em 29 de maio de 2007, ano da estreia de Hamilton, enaltecendo o que pra mim era o nascimento de um fenômeno das pistas de Formula 1, a categoria mais difícil em tudo o que você possa imaginar do automobilismo mundial. Naquela época eu já tinha certeza que o “Negão” bateria muitos recordes e conquistaria muitos títulos. E ele não decepcionou. Quase foi campeão no ano de estreia lutando contra um monstro experiente e bicampeão da F1 chamado Fernando Alonso, também um dos melhores pilotos que vi ao vivo até hoje.

O quarto título conquistado por Hamilton neste domingo foi especial, muito especial. Tão especial quanto o primeiro em 2008. Pouquíssimos pilotos na história da F1 venceram um título sem ter claramente o melhor carro do grid. Hamilton conseguiu isso não apenas uma, mas duas vezes. E são títulos como esses, principalmente o deste ano, que colocam Hamilton na parte de cima da galeria dos grandes campeões.

Hamilton logo após título de 2017 conquistado

Schumacher tem 7 títulos, mas nenhum deles foi conquistado com carro que não fosse claramente o melhor do grid. Todos os outros campeões que vi, com exceção de Prost em 1986 (principalmente) e Alonso em 2006, ganharam seu(s) títulos a bordo do melhor carro. Até Ayrton Senna, pra mim ainda o melhor dos melhores, ganhou seus três títulos com o melhor carro. O grande feito de Senna – além de sua tocada arrasadora em quaisquer circunstâncias -, foi ter vencido Prost, que era o melhor piloto da época e provavelmente da história até então, com o mesmo carro.

A construção deste título improvável de Lewis deu-se principalmente nas 9 primeiras corridas, onde em apenas 2 delas a Mercedes era favorita; Canadá e Áustria. Canadá porque aquela é “a” pista de Hamilton e Áustria porque o clima ameno, a deficiência da suspensão e da aero da Mercedes em pistas de baixa e média fariam pouca ou nenhuma diferença. Ele venceu no Canadá, mas venceu também na China e na Espanha, pistas amplamente favoráveis ao carro da Ferrari. Com isso, Sebastian Vettel tinha “apenas” 20 pontos de vantagem após 9 corridas, quando devia ter cerca de 50, caso fizesse valer a superioridade de seu carro na China, Rússia, Espanha e Azerbaijão.

Na volta das férias, Vettel em Cingapura e a equipe Ferrari na Malásia e no Japão mostraram que nem Ferrari nem Vettel mereciam esse título. Vettel porque guiou abaixo do que se espera de um tetracampeão grande parte da temporada, cometeu pequenos erros em profusão tanto em corrida quanto em classificação, fez duas patacoadas absolutamente incríveis no Azerbaijão e em Cingapura e a Ferrari, por ter cometido duas falhas imperdoáveis na Malásia e no Japão. Aliás, se Vettel tivesse guiado na temporada toda como guiou na Malásia, seria ele quem estaria comemorando o título de 2017, não Hamilton.

Lewis, por outro lado, faz uma temporada impressionante até aqui. A não ser na Rússia, quando não achou seu carro em momento algum do final de semana, em todas as outras corridas não cometeu erros, ao contrário, tirou tudo o que o carro podia e mudou seu acerto e sua tocada para se adaptar às mudanças feitas na “diva” Mercedes, que se recusava a andar bem em pistas de baixa e de média e principalmente com clima quente. Com isso, Bottas, que vinha andando muito perto do inglês, ficou bastante para trás dele e agora já é chamado injustamente por alguns de piloto mediano.

Bottas não é mediano, Hamilton que é um gênio atrás do volante.

Desde sua estreia em 2007 Hamilton pegou vários regulamentos na F1. Pneus sulcados depois slicks, motores aspirados V8 depois turbo híbrido V6, carros com alguns driving-aids e depois sem a maioria deles, difusor soprado, diusor duplo e difusor simples, aero presa, depois solta e depois presa novamente, reabastecimento e sem reabastecimento, três companheiros de equipes campeões mundiais, embreagem automática e depois semi-automática, enfim, tudo que mudou e continua mudando na F1 nesses últimos 10 anos. E ele venceu todos os anos sempre andando na frente e sempre mudando sua tocada para superar as eventuais dificuldades de seus carros.

No final de 2012, após uma temporada em que ele perdeu o título devido a uma série de problemas na McLaren, ele decidiu mudar de equipe indo para a equipe Mercedes. Quase todos o chamaram de louco, já que a Mercedes não tinha uma única vitória na F1 – nesta segunda passagem -, enquanto a McLaren sempre tinha carro para ao menos disputar vitórias. Mas Lewis encarou o desafio e foi ser companheiro de equipe de Rosberg, que se não era um super piloto, no mínimo tinha massacrado ninguém menos que Michael Schumacher por 3 anos seguidos.

Dito e feito. Lewis calou os críticos ajudando a equipe Mercedes tornar-se dominante por 3 temporadas seguidas, enquanto a McLaren nunca mais sequer disputou uma vitória na F1 desde então, mesmo correndo em 2014 com o motor Mercedes, o melhor disparado da época.

Além disso, Lewis nunca escolheu companheiro de equipe, nunca exigiu ser o piloto nº 1 e nunca se comportou como “diva”, tão típico nos grandes campeões. Ao contrário, nesta temporada, mesmo lutando contra o melhor carro de Vettel pelo título e estando atrás na pontuação, Lewis devolveu a posição a Bottas na Hungria depois de tê-la conquistado através de uma ordem da equipe. Você já viu um campeão fazer algo assim, ou mesmo parecido durante uma disputa pelo título?

É por tudo isso que alguns de seus pares na F1 já o consideram o melhor piloto de todos os tempos. Pra mim isso não importa. O que importa é estar vendo a história sendo escrita por um dos melhores. E curtir isso.

Parabéns Lewis!

E o GP do México?
A corrida deste domingo serviu para algumas coisas, além da consagração de Hamilton. A primeira delas é que Verstappen será o próximo piloto dominante da F1. Mais uma vez o garoto mostrou que não precisa do melhor carro para vencer, basta que o carro seja competitivo. Mas vamos deixar esse assunto para uma próxima coluna. O GP do México foi dominado por Max com uma tranquilidade assustadora. Logo na primeira curva ele ultrapassou Vettel por fora, bateu rodas com o alemão e simplesmente sumiu na frente. Ninguém tiraria essa vitória dele, nem Hamilton ou Vettel, que ficaram pelo caminho.

E falando em ficar pelo caminho, outra coisa que essa corrida mostrou foi que Vettel está por um triz de perder o respeito de muita gente. A batida com Max e logo em seguida com Hamilton foram no mínimo suspeitas demais. Com Max ele alargou a curva quando não dava mais e jogaria o garoto pra fora dela, caso Max não tivesse muita personalidade, confiança e uma boa dose de sorte. Logo a seguir ele acertou Hamilton com sua asa dianteira no pneu traseiro direito do inglês numa saída de curva de baixa. Dá pra afirmar que foi de propósito? Eu não afirmo isso, não tenho certeza. Mas se não foi isso, então foi mais uma barbeiragem indesculpável.

Aí você soma esses dois incidentes de hoje com aquela batida proposital que ele deu em Hamilton no Azerbaijão e a largada pra cima de Verstappen em Cingapura e temos o que? Um tetracampeão que faz mega-barbeiragens toda hora, ou um novo Dick Vigarista?

E a Williams? O que foi aquilo que fizeram com Felipe Massa? Chamá-lo para o box sem ele sentir nada errado no carro na volta 3 de depois deixá-lo 67 voltas com o mesmo jogo de pneus? Simplesmente absurdo e um grande indicativo que Felipe não estará na equipe em 2018, infelizmente. E pra mim o favorito para essa vaga é Daniil Kvyat, assim que ele avisar a equipe que tem um grande patrocinador.

Adauto Silva
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