Hamilton, o fenômeno

domingo, 9 de janeiro de 2011 às 15:26

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O Fenômeno

Por: Adauto Silva

Lewis Hamilton, esse é o nome da fera. Começou a dirigir com 6 anos de idade. Isso mesmo, aos 6 anos já fazia parte de um clube de minicarros em sua cidade, Stevenage, sudeste da Inglaterra. Com 8 anos ganhou um kart e a partir dali pegou o vírus do automobilismo.

O problema é que essa “doença” chamada automobilismo custa caro, sempre custou, e o pai de Lewis era um sujeito simples, que normalmente não poderia bancar a carreira do filho. Então ele arrumou um segundo emprego, depois um terceiro, e assim seu filho pôde começar a mostrar seu enorme talento. Tanto talento que chamou a atenção de John Button, pai de Jenson, piloto da Honda que administrava uma empresa de preparação de karts na época. John passou a patrocinar Lewis com os motores enquanto outros patrocínios também chegavam.

Aos 10 anos de idade Lewis ganhou seu primeiro título, tornando-se o mais jovem campeão britânico da classe cadete. Apesar de importante, esse título foi mais que isso, pois possibilitou o primeiro encontro do jovem piloto com seu “messias”, Ron Dennis, o todo-poderoso da McLaren, que lhe entregou o troféu de campeão. Impressionado com a tocada e a simpatia do garoto, Dennis resolveu bancá-lo e assinaram um contrato de longo prazo.

Lewis então começou a ganhar títulos em profusão, vários no kart, depois na F3 e finalmente na GP2, onde venceu um duelo espetacular com Nelsinho Piquet para arrebatar o título de 2006. Tudo muito bonito, muito bacana, mas será que havia chegado a hora de entrar na F1? Já vimos muitas histórias assim, ou seja, pilotos que arrebentaram nas categorias de base, mas chegando na F1 tudo muda de figura, a pressão aumenta demais, o carro é completamente diferente de tudo que o piloto já guiou, a equipe não ajuda e a coisa não vinga..

Mas Dennis resolveu apostar, mesmo com a maioria da imprensa contra, afinal Lewis seria companheiro do bicampeão mundial Fernando Alonso, incontestavelmente o melhor piloto do mundo e o homem que derrotou Schumacher. Na F1 você é sempre comparado a seu companheiro de equipe, pois ele é o único que tem um equipamento igual ao seu. Não importa se seu carro é bom ou não, se você tem chances de título ou de ficar no meio do pelotão. Importa mesmo é onde está seu companheiro de equipe, o quão bom, rápido e consistente ele é. Quanto melhor for seu companheiro de equipe, mais difícil batê-lo. E ser comparado a Alonso, contratado a peso de ouro para ser o líder da equipe, ter um carro feito sob medida para sua tocada, logo de cara, seria uma fria, diziam todos, aliás, uma gelada, pois a chance de ser massacrado pelo espanhol parecia iminente. Eu mesmo, apesar de fã de Hamilton após vê-lo brilhar na GP2 e louco para vê-lo na F1, temia pelo seu futuro imediato…

Mas os temores acabaram rápido, logo na estréia de Hamilton na F1 em Melbourne, quando o garoto simplesmente andou no mesmo ritmo de Alonso. No mesmo ritmo? Não, andou melhor, numa pista que nunca tinha andado na vida e que Alonso conhece como a palma da mão. Mas se andou melhor por que chegou atrás de Alonso? Pergunte à McLaren, que entrou em desespero ao ver que seu líder seria batido logo de cara pelo novato e mudou a estratégia no meio da corrida para que a tragédia não se materializasse!

Porém, contudo, entretanto… uma corrida é só uma corrida. Sorte de principiante, diziam alguns. Circunstância, diziam outros. Será? Vamos então para a segunda corrida, Malásia, outra pista que Hamilton não conhecia. Logo na largada Hamilton ganha duas posições, agüenta firme durante várias voltas uma forte pressão da Ferrari de Felipe Massa e novamente chega ao pódio, agora em segundo lugar, atrás de Alonso.

Terceira corrida na F1 da vida de Hamilton e estamos no Bahrain, pista na qual ele treinou na pré-temporada. A expectativa é grande, já que o garoto parece muito à vontade nos treinos, inclusive batendo Alonso na classificação pela primeira vez. Coincidência ou conhecimento da pista? Vamos ver na corrida. E não dá outra… após mais uma excelente largada Hamilton faz uma corrida impecável e chega em segundo a apenas 2 segundos de Felipe Massa. Alonso completa na quinta posição, inclusive atrás de uma BMW.

Nessas alturas, com a F1 indo para a Europa correr na casa de Alonso, Hamilton é o centro das atenções. O novato está ali, embolado na liderança do campeonato com os outrora franco favoritos Alonso e Raikkonen.

O circo em Barcelona está todo armado. A torcida de Alonso toma de assalto as arquibancadas e o espanhol parece mais confiante do que nunca. Nos treinos Felipe Massa fica com a pole com Alonso em segundo. Hamilton fica somente em quarto, atrás de Raikkonen.

Na largada Alonso tenta uma ultrapassagem forçada em Massa, mas se dá mal e perde algumas posições. Hamilton se aproveita, ultrapassa Raikkonen e assume o segundo lugar, que não mais perderá até o final. Alonso chega em terceiro e seu incômodo no pódio é visível.

Lewis Hamilton é o novo líder do mundial, em sua quarta corrida. Detalhes: andando sempre muito forte, sem cometer qualquer erro, suportando pressão e fazendo ultrapassagens.

Chegamos então em Monte Carlo, pista considerada por muitos como a mais difícil da F1. O histórico dele nas outras categorias é simplesmente perfeito; 3 corridas, 3 vitórias. Nos treinos dá show a ponto das pessoas pararem para vê-lo pilotar como um alucinado pelas ruas monagescas. Os comentários eram do tipo “já já vai bater”. E não deu outra, bateu mesmo, mas assumiu o erro sem qualquer problema. Sábado, e Hamilton parece imbatível nas duas primeiras partes da classificação. Mas quando chegamos na terceira e decisiva, na hora de fazer a pole ele encontra um carro mais lento e fica apenas em segundo. Decepção? Não, pelo contrário, muita surpresa quando se descobre que ele estava com bem mais combustível no tanque que Alonso.

A corrida começa e as McLarens abrem grande frente. Hamilton combóia Alonso de perto até a primeira parada do espanhol. Aproveitando a maior quantidade de combustível, aquele era o momento de Hamilton ganhar a corrida. Mas a McLaren não deixa, muda a “estratégia” do inglês e manda que ele entre nos pits, mesmo tendo gasolina para fazer apenas 1 parada na corrida, como confessou Ron Dennis depois. Dali em diante a ordem foi “mantenham posições” e assim Hamilton foi usurpado de sua primeira vitória na F1.

Agora é co-líder do campeonato juntamente com Alonso. Poderia ser líder isolado e deveria ser, já que na minha opinião tem sido o melhor até agora. Os que antes duvidavam da precocidade de Hamilton estar na F1, hoje não duvidam que ele pode se tornar campeão mundial em sua primeira temporada. Nem eu, que apesar de torcer para o brasileiro Felipe Massa, estou absolutamente espantado com o maior fenômeno que já vi até hoje na categoria.

Hamilton pode até não ser o campeão deste ano, já que sua inexperiência pode atrapalhá-lo quando a panela ferver, mas não tenho dúvida que estamos vendo o nascimento de um multicampeão que ainda vai bater recordes e fazer história na F1.

Grande abraço!

Adauto Silva, 29/05/2007
adauto@autoracing.com.br

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