Ferrari tem o melhor carro da F1 no início da temporada de 2017

segunda-feira, 13 de março de 2017 às 17:50
Vettel - Ferrari 2017

Vettel – Ferrari SF70H 2017

Por: Adauto Silva

Antes de qualquer coisa é preciso dizer que a F1 alcançou o que vinha buscando para 2017. Os carros realmente estão muito mais rápidos em voltas únicas e em stints longos e os pneus muito mais duráveis. Isso significa que estão mais difíceis de guiar (quanto mais rápido mais difícil guiar no limite sem cometer erros) e os pilotos podem forçar a tocada por muito mais tempo sem se preocuparem com o desgaste mecânico e térmico dos pneus.

É um bom sinal, pois lá para a metade da temporada – com os carros bem mais desenvolvidos – certamente teremos os carros mais rápidos da história da F1. Se isso vai tornar as corridas mais interessantes não sabemos, mas certamente vai exigir mais dos pilotos. O foco dos pilotos muda de gerenciar os pneus para “pé no porão” e isso pode trazer um monte de surpresas, algumas agradáveis, outra nem tanto – para os pilotos.

Veja no vídeo abaixo a diferença abissal entre a pole de Hamilton em 2016 e a volta mais rápida dos testes deste ano de Kimi. Foram 3.366s de diferença pró-carro de 2017. Repare como o início da volta na reta principal eles estão iguais, mas assim que eles entram na primeira curva longa do traçado, Kimi começa a se distanciar com grande facilidade e assim vai até o final da volta, mostrando que os carros de 2017 são muito mais rápidos em curva.

E o que eu desconfiava depois da primeira parte dos testes de pré-temporada – que aconteceram de 27/02 a 02/03 – acabou se materializando na segunda parte, de 7 a 10 de março.

Então por que eu disse que a Mercedes ainda era o carro a ser batido, quando fiz aquela primeira análise depois dos primeiros quatro dias aqui? Simples, eu não tinha certeza, mas parecia que a Mercedes estava ‘escondendo’ um pouco o jogo.

O caso é que parece que não estava. Nos dois primeiros dias, apesar de Hamilton ter feito o melhor tempo no dia 1, ele foi apenas 0,2s mais rápido que Vettel mesmo tendo feito seu tempo com pneus macios contra médios de Vettel. Nos stints longos eles foram muito parecidos, mas com uma leve vantagem para Vettel.

O dia 2 havia sido muito parecido com o primeiro, só que a Ferrari levou vantagem tanto em volta voadora quanto em stint longo. Raikkonen foi mais rápido que Hamilton pela manhã em volta voadora e Vettel melhor que Bottas a tarde em stints longos.

No dia 3 pareceu que as coisas tinham voltado aos devidos lugares, com Bottas sendo mais rápido que Vettel que volta voadora pela manhã, e Hamilton ligeiramente melhor em stints longos a tarde. E foi isso que me ‘enganou’ porque no dia 4 a Mercedes teve problemas elétricos pela manhã, quando impediu Hamilton de andar, e a tarde Bottas andou menos voltas do que estava previsto.

A Ferrari andou muito bem no dia 4, mas sem a Mercedes andando forte, não deu pra comparar. Por isso eu escolhi a Mercedes com a melhor da primeira parte dos testes, mas deixei claro que a Ferrari estava muito perto e a Red Bull tinha sido muito discreta, ou seja, pior do que o esperado.

Mas então chegamos na segunda parte dos testes de 7 a 10 de março e as coisas começaram a ‘clarear’. O pessoal da Mercedes chegou em Barcelona dia 7 claramente tenso e a Red Bull pior, pareciam assustados.

Quem tinha mais novidades aparentes no carro era a Mercedes e quem tinha menos era a Ferrari. Isso já era um indicativo que os italianos pareciam mais satisfeitos e confiantes em seu carro do que a Mercedes. A Red Bull também não apareceu com muitas novidades, mas já começou um zumzumzum no paddock que a unidade de potência da Renault tinha alguns pequenos problemas de confiabilidade.

E os dias foram se passando e as novidades da Mercedes não pareciam fazer muita diferença no carro, que continuava a escapar de frente tanto com os pneus macios (menos) quanto com os médios (mais). Enquanto isso, os pilotos da Ferrari estavam colocando o carro onde queriam, sempre dentro da linha de corrida com todos os compostos de pneus, tanto em voltas voadoras quanto em stints longos.

E mais, quem parecia estar ‘escondendo’ o jogo agora era a Ferrari, já que Vettel tirava o pé 20 – 30 metros antes da linha de chegada em suas voltas voadoras. Dava para ouvir isso na pista, portanto ficou claríssimo que a Ferrari tinha alguns décimos na manga em voltas de classificação, que tem sido justamente um de seus pontos fracos nos últimos anos.

O último dia foi para estourar a boca do balão, com Kimi sendo o único piloto a baixar da casa do 1:19s e de supermacio, não de ultramacio como seria de se esperar. O melhor tempo da Mercedes com supermacios foi marcado com Bottas no dia 6 e foi quase 0.7s mais lento que esse de Kimi.

Isso deixou muito claro que a Ferrari tem o melhor carro para uma volta rápida. Lógico, não sabemos que tipo de configuração de motor a Mercedes usou para fazer suas voltas voadoras (de classificação), já que existe um forte boato no paddock que os alemães tem uma configuração especial de motor para a classificação. Mas é um boato e mesmo que seja verdadeiro, o carro não fica sequer 0.4 segundo mais rápido por volta por causa disso numa pista como Barcelona. O ganho deve ser de no máximo 0.3 segundo, se chegar a isso, até porque as outras fabricantes também tem uma configuração especial de motor para a classificação.

Ferrari e Mercedes

Ferrari e Mercedes

Ok, mas e em corrida, quem tem o carro mais rápido? Para isso, a melhor comparação possível é pegar as simulações de corrida feitas por todas as equipes e compará-las.

As melhores simulações de corrida foram feitas na Mercedes por Hamilton, na Ferrari por Vettel e na Red Bull por Verstappen, todas nos 4 dias finais dos testes. Mercedes e Red Bull usaram a mesma sequência de compostos e a Mercedes foi em média 0,4s mais rápida por volta nos stints com pneus médios, mas somente 0,1s melhor com os macios. Isto significa, por incrível que pareça, que falta downforce para a Red Bull, ou os taurinos não puderam acelerar de fato devido aos pequenos problemas de confiabilidade do motor Renault já mencionados.

A comparação entre Mercedes e Ferrari ficou um pouco mais complicada, já que eles usaram uma sequência diferente de compostos; Vettel usou macios no início – onde ele foi extremamente rápido – e médios no final. Mesmo assim a simulação de Vettel foi melhor no geral que a de Hamilton.

Portanto, a Ferrari foi melhor tanto em voltas voadores quanto em simulação de corrida. Não é uma vantagem absurda, já que as projeções apontam 0,2s por volta pró-Ferrari, que tem um carro inovador com sidepods altos e retangulares, braços das suspensões muito baixos e cortes acentuados no assoalho que parecem estar funcionando muito bem aerodinamicamente. Além disso, o motor Ferrari mostrou alguma melhoria em potência e extrema confiabilidade. Nenhum de seus motores, tanto na equipe de fábrica quanto nas clientes, apresentou qualquer problema em todos os dias de testes.

A Mercedes pode tirar essa diferença até Melbourne? Pode sim, mas a Ferrari também pode melhorar. A Red Bull tem mais problemas. Além do motor precisar de mais confiabilidade, o carro precisa andar melhor com pneus médios. Não duvido que isso aconteça em algum momento do início da temporada. A sorte da Red Bull é que na primeira corrida em Melbourne, os compostos serão os Ultra macio / Super macio / Macio e isso deve ajudá-los muito.

Mas e as outras equipes?

Felipe Massa - Williams 2017

Felipe Massa – Williams 2017

A Williams certamente parece ser a quarta equipe. O carro é rápido em volta voadora e melhorou em stints longos. A dianteira do carro está bem mais ‘pregada’ do que costumava ser e isso ajuda muito Felipe Massa, que precisa disso para andar bem, além de pneus mais duráveis. Resta esperar que a equipe tenha recursos financeiros para desenvolver o carro durante a temporada

A Force India deu um salto nesta segunda parte dos testes e agora parece mais próxima da Williams. Apesar de não parecer tão rápida em voltas de classificação – o que é um problema -, pareceu muito consistente em stints longos. Ocon fez uma simulação de corrida muito boa, mas se largar sempre atrás da Williams vai ser difícil ultrapassar. Treinaram pouco de tanque vazio, por isso é bom ficar de olho para ver se esconderam um pouco o jogo em voltas voadoras.

E se a Force India melhorou na segunda parte dos testes, a Renault piorou. Seu chefe de equipe disse que foi devido a problemas no ERS e que isso será resolvido até Melbourne. Parece verossímil, apesar de Hulk não estar tão otimista. Resta esperar, afinal eles tem recursos.

No começo da temporada parece que teremos uma briga ferrenha pelo Q3 entre Force India, Renault, Haas e Toro Rosso, esta última ainda apresentando uma série de pequenos problemas de adaptação ao motor Renault e no próprio motor Renault. Mas como eu disse na análise da primeira parte dos testes, a Toro tem grande potencial de melhora.

O ponto fraco da Force India é volta de classificação, da Renault é a confiabilidade do ERS e aero, da Haas é a aerodinâmica e da Toro Rosso de confiabilidade geral.

A McLaren está de dar pena. O novo motor Honda tem se mostrado uma decepção completa e o carro anda mal com os pneus médios e é sofrível com os macios. Vai ser muito difícil – para não dizer milagroso – a McLaren não ter uma temporada decepcionante mais uma vez. Neste momento o carro não tem condições sequer de brigar por Q3 nas classificações.

E a Sauber é a última em velocidade. Tudo é sofrível no carro, menos o motor Ferrari de 2016, que é menos potente que o atual, mas é confiável. A tática da Sauber vai ser rezar para muitos quebrarem e/ou baterem para ela ter alguma chance mínima de pontuar em alguma corrida.

Em resumo, hoje eu apostaria na Ferrari para Melbourne, seguida bem de perto pela Mercedes, que também será seguida de perto pela Red Bull, apesar de essa ordem poder mudar nas corridas seguintes, principalmente quando chegaram em Barcelona novamente em maio.

De qualquer maneira, essas três equipes tem potencial para vencer corridas este ano. É improvável um domínio pleno de alguma delas como vem acontecendo na F1 desde 2010, primeiro com a Red Bull e depois com a Mercedes.

E olho na Williams, porque ela pode incomodar bastante e buscar pódios, especialmente com a contratação de Paddy Lowe e os recursos trazidos por Lance Stroll.

Veja abaixo uma comparação do recorde da pole-position em Barcelona de Mark Webber em 2010 (com a configuração de pista atual) com a melhor volta de Bottas – que foi apenas a terceira melhor nestes testes de 2017:

Tabela completa do melhor tempo de cada piloto

Pos Piloto Equipe Motor Tempo Diferença Pneu
1 Kimi Raikkonen Ferrari Ferrari 1’18.634 0 Super Macio
2 Sebastian Vettel Ferrari Ferrari 1’19.024 0.390 Ultra Macio
3 Valtteri Bottas Mercedes Mercedes 1’19.310 0.676 Super Macio
4 Lewis Hamilton Mercedes Mercedes 1’19.352 0.718 Ultra Macio
5 Felipe Massa Williams Mercedes 1’19.420 0.786 Ultra Macio
6 Max Verstappen Red Bull TAG-Heuer 1’19.438 0.804 Super Macio
7 Carlos Sainz Jnr Toro Rosso Renault 1’19.837 1.203 Ultra Macio
8 Nico Hulkenberg Renault Renault 1’19.885 1.251 Ultra Macio
9 Daniel Ricciardo Red Bull TAG-Heuer 1’19.900 1.266 Ultra Macio
10 Sergio Perez Force India Mercedes 1’20.116 1.482 Ultra Macio
11 Esteban Ocon Force India Mercedes 1’20.161 1.527 Ultra Macio
12 Jolyon Palmer Renault Renault 1’20.205 1.571 Ultra Macio
13 Lance Stroll Williams Mercedes 1’20.335 1.701 Macio
14 Daniil Kvyat Toro Rosso Renault 1’20.416 1.782 Super Macio
15 Kevin Magnussen Haas Ferrari 1’20.504 1.870 Ultra Macio
16 Stoffel Vandoorne McLaren Honda 1’21.348 2.714 Ultra Macio
17 Fernando Alonso McLaren Honda 1’21.389 2.755 Ultra Macio
18 Romain Grosjean Haas Ferrari 1’21.389 2.755 Ultra Macio
19 Marcus Ericsson Sauber Ferrari 1’21.670 3.036 Ultra Macio
20 Pascal Wehrlein Sauber Ferrari 1’22.347 3.713 Ultra Macio
21 Antonio Giovinazzi Sauber Ferrari 1’22.401 3.767 Ultra Macio
22 Alfonso Celis Force India Mercedes 1’23.568 4.934 Ultra Macio

Voltas por equipe (segunda parte dos testes):
1. Williams (587 voltas)
2. Mercedes (538 voltas)
3. Force India (507 voltas)
4. Ferrari (488 voltas)
5. Sauber (447 voltas)
6. Toro Rosso (401 voltas)
7. Red Bull (390 voltas)
8. Haas (372 voltas)
9. Renault (304 voltas)
10. McLaren (217 voltas)

Voltas por equipe (geral):
1. Mercedes (1096 voltas)
2. Ferrari (953 voltas)
3. Williams-Mercedes (800 voltas)
4. Sauber-Ferrari (793 voltas)
5. Force India-Mercedes (785 voltas)
6. Haas-Ferrari (712 voltas)
7. Red Bull-TAG Heuer (684 voltas)
8. Renault (597 voltas)
9. Toro Rosso-TBC (Renault) (584 voltas)
10. McLaren-Honda (424 voltas)

Voltas por motor (segunda parte dos testes):
1. Mercedes (1632 voltas)
2. Ferrari (1307 voltas)
3. Renault (1095 voltas)
4. Honda (217 voltas)

Voltas por motor (geral):
1. Mercedes (2681 voltas)
2. Ferrari (2458 voltas)
3. Renault (1865 voltas)
4. Honda (424 voltas)

Adauto Silva
Leia e comente outras colunas do Adauto Silva

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.