F1 – Vai ser de bandeja mesmo, Ferrari?

terça-feira, 10 de outubro de 2017 às 19:21

Hamilton vence em Suzuka

Por: Adauto Silva

Antes de mais nada, preciso dizer  que estou impressionado pela maneira com a qual a Ferrari e seus pilotos estão perdendo esse campeonato.

Todo mundo tem o direito de errar, lógico. A diferença é que na F1 você paga por qualquer erro imediatamente. Um erro numa volta de classificação custa a pole. Um erro durante a corrida pode lhe custar a liderança. Uma largada ruim tem grandes chances de custar a vitória. Uma largada bizarra pode te tirar da corrida. Uma atitude impensada te causa uma punição durante a corrida e você a perde. Uma unidade de potência velha demais pode quebrar a qualquer momento, inclusive no treino de classificação ou até no grid de largada. Uma vela de ignição defeituosa te tira da corrida mesmo antes de largar.

Então você soma tudo isso e joga fora um trabalho de engenharia majestoso. Sim, o SF70H é uma obra-prima da engenharia, sem dúvida o melhor carro de 2017 da Formula 1. A melhor aerodinâmica, a melhor suspensão, a melhor dirigibilidade e empatado com a Mercedes em termos de motor.

Mas mesmo assim vai conseguir perder os dois títulos, a menos que aconteça um milagre. Hamilton agora está 59 pontos na frente faltando 4 corridas.

Mas como assim, a Ferrari tem o melhor carro e Hamilton está tudo isso na frente? Lógico, Hamilton e Mercedes não cometeram um erro sequer até agora na temporada! Andaram mal em algumas corridas? Andaram, mas não foi erro operacional da equipe ou erro do piloto. Foi erro de projeto.

A Mercedes é um carro que tem pouco arrasto, mas também tem menos downforce que a Ferrari e que a Red Bull. A Mercedes errou completamente na sua suspensão e por isso sofre com os pneus superaquecendo nas corridas com clima quente. Não há o que fazer, a não ser outro carro com outra suspensão. E os pacotes novos de aero não têm dado muito certo, afinal eles tentam consertar algo que não começou muito bem.

Desde o GP da Hungria a equipe vem tentando diferentes acertos para minimizar o problema da suspensão, mas não encontrou solução. Deviam tentar copiar a da Red Bull, que também começou a temporada com problemas na suspensão, mas conseguiu resolver e está vindo pra cima nas últimas corridas. Se a Red Bull tivesse uma unidade de potência Ferrari ou Mercedes eles seriam os favoritos para todas as últimas quatro corridas. Max Verstappen só não venceu em Suzuka por falta de potência.

E justamente por causa disso Ricciardo tentou um acerto diferente. Vendo que a falta de potência o impediria de lutar pela vitória, Ric foi com um acerto extremamente radical para a corrida: Menos downforce que o carro pedia.

O problema é que pouquíssimos pilotos conseguem guiar um carro assim de maneira competitiva, ou seja, tirar aqueles pentelhésimos que o carro perde em todas as curvas mudando a tocada, freando mais tarde, reacelerando antes e aproveitando mais qualquer retinha no circuito, que no caso da Mercedes é o que o carro tem de melhor. Dos pilotos que me lembro foram Senna, Jacques Villeneuve, Montoya, e agora Hamilton.

Hamilton já fez isso antes e começou a fazer de novo depois do GP da Hungria. Inclusive Bottas não está conseguindo andar com o mesmo acerto do inglês por causa disso. Lógico que Bottas é um ótimo piloto, mas Hamilton é um dos melhores da história.

Se no caso de Ricciardo esse acerto radical foi devido ao motor fraco, no caso de Hamilton é por causa da suspensão, que é importante demais. É ela que transfere toda a potência e dinâmica do chassi para os pneus. Nas retas ela mal trabalha, mas nas curvas é a combinação dela com a aero que faz um carro de F1 contornar uma curva a 200 kph ou a 195 kph. Na classificação isso importa menos, porque em uma única volta você superaquece, mas não consegue chegar a destruir os pneus contornando aquela curva a 200 kph, se puder.

O problema é na corrida. Você tem que dosar, porque se tentar contornar todas as curvas em todas as voltas no limite, os seus pneus vão se destruir, afinal você está com menos downforce, o que torna a dependência dos pneus ainda maior.

Repare como a Mercedes perde desempenho quando está atrás e perto de outros carros. Aquele vácuo – ou mesmo um ar muito sujo – aquece ainda mais os pneus e o carro perde desempenho imediatamente. É muito difícil guiar um carro assim, que tem extremos de comportamento dentro da mesma corrida. É a tal “diva” que aparece de repente.

O GP de Suzuka, que foi disputado sob uma temperatura 8º acima do que estava na classificação, serviu perfeitamente para entender o que acabei de dizer. Tanto no meio da corrida, quando Hamilton estava imediatamente atrás de Bottas – que ainda não havia feito a parada – quanto no final dela, uma sucessão de retardatários fez os pneus de Lewis superaquecerem e perder desempenho imediatamente. Max encostou na hora. Não precisou de algumas voltas para chegar. Foi ali, na hora mesmo. A diferença é brutal.

Brutal também é Max Verstappen. Fenômeno, vai detonar na categoria no dia que tiver um carro vencedor. Max não tem apenas uma habilidade fora do normal. Ele tem atitude.

Mas e de agora em diante?
Em relação ao título, Lewis Hamilton só perde se acontecer uma tragédia. Talvez mesmo com uma tragédia ele ainda ganhe. Acho que a Ferrari precisará que aconteçam algumas tragédias com ele.

A próxima corrida é em Austin, EUA, dia 22. Vejo muito equilíbrio com temperatura amena e vantagem para a Ferrari se o clima estiver ao redor dos 30º. Para Red Bull vai faltar potência de novo na grande reta oposta e na reta do box em subida. Mas se chover…

Adauto Silva
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