F1 – O preço da sinceridade

segunda-feira, 28 de outubro de 2019 às 12:22

Verstappen e a bandeira amarela

Por: Bruno Aleixo

Treino oficial de sábado, GP do México, 2019. Max Verstappen, em sua primeira tentativa, marca a pole position. Aí, na segunda volta rápida de todos os pilotos, Valtteri Bottas estampou o muro na última curva, a direção de prova deu bandeira amarela e todos tiveram que abdicar de suas tentativas. Menos Verstappen, que manteve o pé no fundo e confirmou a primeira posição no grid.

Eu não vou entrar no mérito da legalidade ou não da punição. Isso já foi muito bem explorado pelo Autoracing ontem  e, de fato, há muitas coisas esquisitas no regulamento da Fórmula 1. Pessoalmente, apenas registro minha opinião de que, com bandeira amarela, todos deveriam reduzir a velocidade mesmo. E quem não o faz, coloca em risco a integridade dos outros pilotos. Na minha visão, portanto, Verstappen foi punido corretamente embora, vejam, a volta anterior também lhe valeria a pole. Porém, também é verdade que não sabemos se Vettel, que tirou o pé, poderia tê-lo superado.

Mas meu ponto aqui é outro. Na entrevista coletiva, após o treino, Max foi perguntado sobre o procedimento que adotou. Sem qualquer indício de rodeio, afirmou que viu a bandeira amarela,viu a Mercedes #77 destruída e deliberadamente continuou acelerando. E mais: que se os fiscais quisessem, poderiam lhe tirar a volta. E isso foi o bastante para que uma parte relevante da imprensa brasileira se referisse ao holandês com termos como “arrogante” ou “prepotente”. Um deles, talvez o mais famoso inclusive, chamou Max de “idiota”, acreditem ou não.

Interessante a má vontade que a imprensa tem com Verstappen, um piloto rápido, que comete erros, mas que tem grande potencial para um dia tornar-se campeão. O holandês não tem papas na língua e suas entrevistas, na maioria esmagadora das vezes, para não dizer todas, fogem do script pré-aprovado das assessorias de imprensa. Suas respostas são sempre diretas e sinceras.

Cabe a pergunta: por que Verstappen foi arrogante? Ora, ele apenas disse a verdade, que não tirou o pé. A FIA tem sensores espalhados por toda a pista, qual seria o motivo para que ele dissesse que fez o que não fez? Então o correto é dizer mentiras para a imprensa? Afirmar dissimuladamente que tirou o pé, que foi responsável e tudo mais? Bem, Schumacher fez isso quando estacionou o carro em Mônaco /2006 para garantir a pole e a mesma imprensa caiu de pau em cima dele, com toda a razão.

A você que está acompanhando meu raciocínio mas ainda não concorda, faço um convite: substitua o personagem em questão. Ao invés de Max Verstappen imagine Nelson Piquet dando a mesma entrevista (e essa é uma entrevista que Piquet certamente daria). Ao invés de “arrogante”, “prepotente” e “idiota” estaríamos lendo adjetivos como “mito”, “gênio” e, para usar uma palavra da moda “lacrador”.

Verstappen comete seus erros e, na minha visão, não tirar o pé em uma clara situação de perigo é um deles. Porém, massacrá-lo por ser sincero em uma entrevista me parece muito mais o papel de uma imprensa que gosta mesmo é de declarações bonitinhas para pôr no jornal.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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