F1 – O favorito em Spa-Francorchamps 2017

terça-feira, 15 de agosto de 2017 às 14:24
Spa-Francorchamps

Spa-Francorchamps

Por: Adauto Silva

Nessa semana o chefe da Mercedes, Toto Wolff e o diretor técnico da Ferrari, Mattia Binotto, reconheceram que suas equipes chegaram agora num ponto de equilíbrio tão grande que não conseguem mais afirmar qual delas é a favorita ao título.

Sim, agora isso pode ser verdade. Neste momento elas estão muito parelhas mesmo e o desenvolvimento e as características das pistas restantes é que vão definir as vitórias, isso sem contar os problemas com troca de componentes da unidade de potência e/ou câmbio, que terão um papel tão crucial quanto o dos pilotos de ambas as equipes.

Como expliquei na minha última coluna, quando afirmei que a Ferrari tinha que vencer na Hungria – e venceu com grande folga – Mercedes e Ferrari tem diferenças conceituais de projeto. A Ferrari começou melhor – muito em virtude da suspensão problemática da Mercedes – e poderia ter vencido 7 das 10 corridas até aqui. Mas não venceu e com isso a Mercedes foi desenvolvendo seu carro em várias áreas para tentar compensar a perda de sua suspensão semi-hidráulica, que “conversava” perfeitamente com o resto do conjunto.

Como você leitor sabe, um carro de F1 é projetado e construído para que todos seus componentes “conversem” em perfeita harmonia uns com os outros. Quando um dos principais componentes – como a suspensão – não funciona como deveria, isso é como se fosse um elo fraco dentro uma corrente forte. O ideal é você substituir esse elo fraco para tornar a corrente inteira forte, mas quando você não consegue isso, o jeito é ir mexendo nos outros elos para que aquele elo fraco não seja sempre o ponto de ruptura da corrente.

A Mercedes conseguiu fazer isso mexendo no acerto do carro, notadamente em Sochi e Baku, mas não conseguiu em Mônaco e na Hungria, onde levou passeios fáceis da Ferrari. Está certo que em Sochi a largada mais que perfeita de Bottas foi fator determinante para a vitória da Mercedes, mas mesmo assim a Ferrari deveria ter vencido, já que seu carro era cerca de meio segundo mais rápido por volta.

Em Silverstone deveríamos ter tido um certo equilíbrio, mas deu tudo errado para a Ferrari. Seus pilotos não deram voltas realmente boas no Q3 e na corrida a Ferrari errou totalmente na estratégia e no acerto. Errou na estratégia porque parou Vettel muito precocemente – para que ele conseguisse ultrapassar Verstappen – e isso deixou o alemão sem pneus no final da corrida. E errou no acerto porque seus dois pilotos tiveram seus pneus dechapados nas últimas voltas, o que os obrigou a fazer uma parada extra e com isso perder muitas posições e pontos preciosos no campeonato.

De qualquer maneira, devido à concepção diferente entre seus projetos, a Mercedes não tem mais muito o que fazer daqui em diante, a não ser encontrar uma suspensão inteiramente mecânica que resolva seus problemas definitivamente, o que é bem pouco provável. A Ferrari tem um pouco mais de margem, uma vez que seu carro não apresenta nenhum elo da corrente realmente fraco, o que faz com que Maranello tenha mais liberdade em fortalecer um pouco mais todos os elos da corrente sem medo de estourar algum deles.

Spa-Francorchamps x Monza
Tenho visto muita gente dizendo que na Bélgica e na Itália a Mercedes vai dominar totalmente a Ferrari. Não vejo assim.

Spa e Monza são pistas bem diferentes. Monza é uma pista de altíssima velocidade com três chicanes, sendo que uma delas é de alta, a Variante Ascari. Além disso, ela tem a Curva Grande – que é como se fosse uma reta – as duas de Lesmo de média e a Parabólica, que é uma curva de alta e raio longo. O resto são retas. Isso faz com que a pista seja percorrida com aceleração plena em 76% da volta e onde os carros precisam de menos downforce na temporada, 2/10.

Monza

Monza

Spa é completamente diferente. Há curvas de alta, média, baixa, inclusive um grampo, além de subidas e descidas. Há uma chicane e há a Eau Rouge, a mais famosa curva de todas as pistas da F1. Com os carros atuais provavelmente todos vão fazê-la flat, se o tempo estiver seco. Em Spa o nível necessário de downforce também não é muito alto, mas mesmo assim é o triplo do de Monza, 6/10 e a volta é percorrida com aceleração plena em 60% dela, bem menos que em Monza.

Spa-Francorchamps

Spa-Francorchamps

Na Hungria, onde a pista é travada a Ferrari humilhou a Mercedes. Vettel venceu sem ser ameaçado, mesmo com seu carro apresentando problemas na direção desde o começo, o que é incrível. Ah, venceu porque Raikkonen comboiou. E daí? Raikkonen estava atrás de Vettel e não foi ameaçado nem por Bottas e nem por Hamilton, que tentou tudo e só conseguiu pegar o vácuo de Raikkonen uma única vez, mas mesmo assim sem qualquer chance de ultrapassar.

Lógico que não dá pra comparar Spa com Hungaroring. Enquanto Hungaroring é uma pista de kart travada, Spa é uma senhora pista de corrida, certamente a mais bonita e uma das mais desafiadoras, tanto para carros quanto para os pilotos.

Mas como descrevi mais acima, em Spa os carros precisam de mais downforce, precisam fazer mudanças de direção em médias e em altas velocidades. Nisso a Ferrari é melhor, ainda mais que a Mercedes não resolveu seus problemas com o pneu ultramacio, que será usado pela primeira vez na pista belga e pode ser o Cavalo de Troia dos alemães. Por isso eu vejo um equilíbrio no setor 1 de Spa, que vai da linha de chegada até a freada para a Les Combes, uma vantagem clara da Ferrari no setor 2, da Les Combes até a entrada da Stavelot e uma vantagem da Mercedes no setor 3, que vai da saída da Stavelot até a linha de chegada.

E por tudo isso, acho muito difícil afirmar quem será favorito lá. Vejo um equilíbrio grande entre as duas equipes concorrentes ao título. Lógico que essa análise é considerando tempo seco durante toda a corrida, o que não é tão comum assim em Spa.

Em relação aos pilotos, Spa é a melhor pista de Kimi Raikkonen, portanto é sua melhor chance de vencer no ano, ou no mínimo chegar à frente de Vettel, se a Ferrari deixar. Hamilton e Vettel venceram duas vezes cada um oficialmente. Em 2008 os comissários roubaram a vitória de Hamilton, senão ele teria três lá. Em poles Hamilton tem três e Vettel uma. Raikkonen só tem uma pole em 2007, mas é o que mais venceu, quatro vezes.

Sobre Bottas não há muito o que dizer. Ele nunca teve carro para vencer em Spa, mas chegou na frente de Massa em 2016 e 2014 perdendo para o brasileiro em 2015, quando ambos estavam na Williams. Aliás, em 2014 Bottas conquistou o terceiro lugar e o pódio atrás do vencedor Ricciardo e de Rosberg.

Adauto Silva
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