F1 – Hamilton x Verstappen, o veredicto atual

quinta-feira, 17 de setembro de 2020 às 18:18

Lewis Hamilton e Max Verstappen

Por: Adauto Silva

Anteontem, terça-feira, tive mais um papo com minha fonte – que está se tornando um amigo – dentro da Red Bull. Ele foi apresentado para mim numa churrascaria em São Paulo pelo Dude, que trabalha na Mercedes desde 2013 e antes na McLaren desde o início do século.

Tivemos uma ótima empatia desde o primeiro momento e assim, na primeira vez que fomos conversar para publicação, combinamos que o pseudônimo dele seria “Mate”, já que se não fosse assim, ele nunca poderia me dizer nada que fugisse às declarações oficiais da equipe, o que não adiantaria nada.

Nessa última conversa publicada, ele levantou um assunto que mexe bastante com as emoções de todo fã e na verdade de todo o mundo da Formula 1 atual: Quem andaria na frente entre Hamilton e Verstappen no mesmo carro?

De acordo com o Mate, “nunca vamos saber” porque Lewis certamente não vai para a Red Bull ser companheiro de Max e nem Max seria contratado pela Mercedes para ser companheiro de Lewis.

Eu concordo com ele. Dois pilotos “Alfa” raramente funcionam numa mesma equipe por muito tempo, apesar de como jornalista e fã, eu adoraria ver isso acontecer sempre. Mas pensando do lado da equipe, pilotos Alfa trazem muitos problemas, já que são “mesquinhos”, querem a equipe para eles, querem o carro já projetado pensando na melhor tocada deles, não aceitam ordens de equipe e frequentemente “se acham” na pista e aí a equipe fica sem pontos e depois ambos começam a trocar acusações criando grandes problemas internos e etc.

E Hamilton e Verstappen são belos exemplares de pilotos Alfa. São os dois melhores pilotos da F1 atual e ambos têm personalidade forte.

Mas o que eu penso que aconteceria numa improvável dupla formada por eles atualmente?

Volta voadora
Em uma volta rápida de classificação eu não vejo muita diferença entre eles. Claro que atualmente Max arrisca mais, pois tem menos a perder. Lewis sabendo que tem o carro para fazer a pole, precisa bater Bottas, que apesar de ser um dos melhores “hotlapers” da F1, não é tão rápido quanto Lewis e Max. Então Lewis faz suas voltas de classificação com alguma margem de segurança.

Max, por outro lado, vai para o risco total – e eu o vi fazendo exatamente isso em Interlagos -, pois essa é a única chance de ele largar na frente de uma, ou raramente das duas Mercedes. Seu companheiro de equipe não oferece nenhum perigo, uma vez que é muito mais lento que ele. Na época do Ricciardo, Max tinha que se precaver mais, mas como era muito jovem e inexperiente, ele ia sim para o risco sempre e errava ou batia algumas vezes. Agora ele amadureceu e tenho quase certeza que RIC perderia dele em classificação com frequência, tipo um 14×6 num campeonato de 20 corridas.

Contra Lewis acho que seria muito parelho, talvez ou 10×10 ou pouca coisa diferente para um deles. Um empate, eu diria…

Corrida
Hoje Lewis leva vantagem. Mais experiente, mega rápido em todas as situações e com uma visão muito ampla de leitura de corrida, ele sabe controlar de maneira soberba quando está na frente e sabe pressionar – induzindo o da frente ao erro – e ultrapassar como poucos quando está atrás.

Max também é mega rápido em ritmo de corrida, sabe pressionar demais e é um grande ultrapassador, mas ainda não tem uma leitura como a de Lewis de corrida e nem dos pneus. Ele melhorou muito nisso e controla bem os pneus desde a segunda metade de 2019, mas ainda não é soberbo como Lewis nesse quesito.

Roda a roda
Disputas roda a roda na Fórmula 1 sempre foram muito difíceis de acontecer. Tanto que até hoje as que aconteceram ficaram para a posteridade como épicas, existem vídeos e tudo mais… Atualmente é mais difícil devido ao downforce dos carros, que os impede de contornar curvas muito próximos, uma vez que eles precisam do ar frontal para se manterem grudados no asfalto.

Mas elas acontecem vez por outra e ambos são excelentes nesse quesito. Max, assim como Lewis em começo de carreira, por vezes jogou duro demais indo no limite da irresponsabilidade, mas raramente cruzando essa linha. Hamilton também continua jogando muito duro, mas costuma dar um ou dois centímetros a mais de espaço para seu adversário e não se mexe no meio de uma freada por exemplo, que é uma coisa que vai contra a ética dos pilotos.

Nenhum deles é considerado sujo por seus pares e isso é de extrema importância.

Eu prefiro mais o estilo que Lewis aprimorou através dos anos, mas na realidade vejo mais um empate entre eles nesse quesito.

Chuva
Ambos são excepcionais na chuva e muito melhores que o resto, mas Lewis tem se mostrado constantemente no “modo Ayrton Senna” que Max ainda não chegou, apesar de parecer próximo disso e provavelmente chegará lá com o tempo. Digamos que Max já está no “modo” Schumacher ou Alonso na chuva.

Portanto Lewis leva vantagem aqui, mas as próximas corridas com chuva nos dirão o quanto Max está melhorando, quando e se vai chegar lá.

Acerto de carro
“Max é hoje o Lewis de ontem”. O que quer dizer isso? Max mete tempo com qualquer acerto, tem várias tocadas e consegue fazer tempo melhor que o simulador da equipe previa com o carro daquele jeito. Isso é ótimo, pouquíssimos pilotos têm essa qualidade de guiar de forma muito rápida com qualquer tipo de acerto.

Porém, isso não tira tudo o que o carro pode dar, se estivesse acertado de acordo com o total conforto e confiança que o piloto precisa para toda uma corrida nas variadas pistas. Se você tem um carro que escapa, por exemplo, um pouco mais do que devia de frente ou de traseira em curvas-chaves de um determinado circuito, tanto Max quanto Lewis conseguem contornar esse problema durante algumas voltas.

Mas só durante algumas voltas. Um carro assim definitivamente vai desgastar mais os pneus traseiros ou dianteiros ao longo de várias voltas e o piloto vai perder ritmo – por melhor que ele seja – antes do outro, que conseguiu junto com seus engenheiros deixar o carro um pouco mais neutro, ou um pouco mais da maneira que ele confia.

Note que estamos falando de detalhes, uma vez que a F1 é feita de detalhes, um conjunto deles. E esses detalhes se tornam excepcionalmente mais importantes ainda se ambos estiverem em carros da mesma equipe.

Lewis atualmente é melhor nisso. Com sua experiência e com infindáveis conversas com Niki Lauda antes do “mestre dos pilotos” falecer, Hamilton deixou de aceitar o acerto da equipe como sendo o melhor para ele. Desde 2016 ele passou a ver a telemetria do seu companheiro de equipe, conversar mais com seu engenheiro, ir mais na fábrica entender o que estão fazendo. Hoje, de acordo com o que sei, ele e seu engenheiro são “unha e carne”, vão juntos nos mínimos detalhes de cada trecho de cada pista, estudam o comportamento do carro com cada tipo pneu, fazem um “plano de voo” para cada corrida e sabem mudar esse plano quando necessário. Isso fez de Hamilton um piloto muito melhor do que ele era antes, época em que ele sentava, acelerava com qualquer acerto e invariavelmente metia tempo no companheiro de equipe.

Força mental
É uma das coisas mais importantes da Fórmula 1. A categoria é cruel, não perdoa. Você é tão bom quanto a sua última classificação até o domingo de manhã, quando você vai passar a ser tão bom quanto a corrida que vai disputar. Isso coloca uma pressão quase sobre-humana nos pilotos, que sabem que existem outros 20, 30 querendo o seu lugar, se oferecendo para a sua equipe todas as semanas pedindo menos do que você ganha.

Lewis e Max vão muito bem nessa panela de pressão que é a F1. Extremamente auto-confiantes, é muito difícil se abalarem. Lewis simplesmente não comete mais erros na pista e Max comete cada vez menos, além de ganharem de seus companheiros de equipe com certa facilidade, o que os torna o piloto #1 naturalmente de suas equipes.

Mas aí também temos uma ligeira vantagem para Hamilton. Na Red Bull Max é idolatrado pela equipe, que sabe que não pode perde-lo porque terá muito mais dificuldade que a Mercedes em atrair outro grande piloto. Max ainda não disputou um título, não teve que pensar no campeonato como um todo, ainda não teve um carro parelho com o Hamilton para ganhar algumas e perder outras. Ele não sabe bem o que é isso ainda, apesar de eu desconfiar que ele está ficando mais forte mentalmente a cada ano que passa.

Por outro lado, Lewis sabe que tem que entregar sempre sem desculpas, que o que se espera dele são poles, vitórias e títulos um atrás do ouro. Já se fala na sua vitória número 100 e em seu oitavo título em 2021 como se fossem coisas certas. Imagine a pressão disso. Você já ganhou 90 corridas, já tem seis títulos, já é o recordista disparado de poles, mas mesmo assim, caso não continue entregando nesse nível que praticamente ninguém entregou na história até hoje, vai decepcionar as pessoas, vai dar munição a quem não gosta de você para afirmar que você “nunca foi tudo isso”, que é seu carro que ganha sozinho, que qualquer outro bom piloto faria igual.

Imagino que isso seja desumano e que coloque uma pressão praticamente insuportável para qualquer pessoa normal.

O Veredicto
Por tudo isso, meu caro leitor, hoje ainda sou mais Lewis Hamilton num cabeça a cabeça contra Max Verstappen e apostaria meu dinheiro nele, caso ambos estivessem na mesma equipe.

Mas isso é hoje e por mais uma ou duas temporadas. Depois as coisas podem mudar. Max ainda é muito jovem e está melhorando. Lewis está em seu auge e, portanto, é muito difícil que consiga melhorar muito mais. A tendência natural é que ele comece a curva descendente em dois ou três anos, enquanto Max ainda tem o que melhorar.

Mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: Estamos muitíssimo bem servidos de dois gênios atrás do volante hoje e temos um futuro garantido amanhã. E quem sabe Charles Leclerc e George Russel não possam estar no nível do “homem” quando ele se aposentar…

Adauto Silva
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