Uma equipe, duas categorias

segunda-feira, 24 de agosto de 2020 às 12:52

Max Verstappen e Alex Albon

Por: Bruno Aleixo

Diferença de desempenho entre companheiros de equipe não é novidade. Aliás, infelizmente, é muito mais comum ver uma formação com um piloto destacadamente melhor do que o outro, do que uma verdadeira disputa entre companheiros de equipe com desempenhos semelhantes. Não é todo dia que se vê um Senna x Prost na McLaren, Piquet x Mansell na Williams ou Hamilton x Rosberg na Mercedes. Não, o normal é um Hamilton primeiro piloto e Bottas segundo, mas andando ali perto, ou um Schumacher na frente com Barrichello atrás, beliscando alguma coisinha de vez em quando. É pena, mas é assim.

Só que, às vezes, a diferença é tão gritante que parece que a equipe tem dois carros iguais andando em categorias diferentes. E essa é a situação da Red Bull hoje. Desde que Daniel Ricciardo deixou o time, ao final de 2018, a equipe sofre desta duplicidade de desempenhos, que impede que ela tome pontos importantes da Mercedes em uma hipotética briga pelo campeonato de construtores.

Isso porque tanto Pierre Gasly quanto Alex Albon, o atual piloto, sequer chegam perto de Max Verstappen. Albon, neste ano, tem andado na casa de 7 décimos mais lento do que o holandês o que coloca o segundo carro da Red Bull em colocações que em nada representam seu potencial. Vejam bem: o modelo da equipe austríaca não é forte o suficiente para bater as Mercedes, mas está longe, muito longe do pelotão que se encontra atrás dele. E, mesmo assim, enquanto Verstappen frequentemente visita o pódio, Albon arfa para conseguir posições intermediárias. Na última prova, na Espanha, chegou em oitavo, atrás daquela coisa horrorosa da Ferrari.

Bom, eu já falei aqui neste espaço que há opções no mercado, mas a Red Bull parece seguir firme no seu propósito de investir na prata da casa. E a prata da casa atual é formada por Albon, Gasly e o mediano (para ser muito camarada, ou kamarada) Daniil Kvyat. Não dá.

Buscando na história, não é muito fácil achar tamanha diferença entre dois pilotos que utilizam o mesmo equipamento, especialmente porque, em geral, equipes não rasgam dinheiro. Se tem um piloto que não corresponde, é adeus, bye bye e que venha o próximo. O problema é que, quando no outro cockpit está um fora de série, a busca por um segundo piloto pode ser dramática.

A situação atual da Red Bull me lembra a Benetton da era Michael Schumacher (1991 a 1995). Mais especificamente, na temporada de 1994, quando a diferença que se estabeleceu entre o alemão e seus companheiros de equipe colocava os dois carros da equipe em categorias distintas de competição. Claro que é difícil buscar lógica em uma temporada marcada por trapaças de todos os lados, sendo que a Benetton foi a campeão mundial de mutretas. E não se sabe até que ponto o carro de Schumacher tinha dispositivos que os de J.J.Letho, Jos Verstappen e Johnny Herbert não tinham.

Mas o fato é que enquanto Schumacher dominava a temporada com tranquilidade (Damon Hill até levou a disputa pelo título para a última etapa, mas isso só ocorreu porque Schumacher foi desclassificado de várias etapas. Merecidamente, aliás.), os demais pilotos sofriam para marcar um ou outro pontinho. Letho teve o problema do acidente nos testes, o que prejudicou sobremaneira sua performance. Verstappen, coitado, passava mais tempo frequentando a caixa de brita do que o asfalto. Ainda assim, obteve dois pódios (somente um na pista, na Hungria. O outro foi na Bélgica, depois da desclassificação de Schumacher). E Herbert teve apenas duas provas para mostrar serviço, e não mostrou. Acabou efetivado para 1995 e até conseguiu duas vitórias no ano, mas foi massacrado pelo então campeão mundial alemão.

Voltando aos tempos atuais, é bom Albon encontrar uma maneira de se colocar, pelo menos, na quarta posição nas corridas. É o mínimo que se pode obter com um carro da Red Bull em condições normais de temperatura e pressão. Para isso, ele tem uma garantia importante: os outros dois pilotos do time já foram testados e reprovados no cockpit da equipe principal, motivo pelo qual o tailandês deverá ter uma rara oportunidade de seguir até o fim da temporada. O problema é que se não aproveitar a chance, dificilmente seguirá na Fórmula 1 nos próximos anos.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

Leia e comente outras colunas do Bruno Aleixo

Clique AQUI para fazer suas apostas esportivas

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , , , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.