Max Verstappen: O novo Senna?

sábado, 22 de julho de 2017 às 17:27
Senna / Verstappen por Giedo van der Garde

Senna / Verstappen por Giedo van der Garde

Colaboração: Flávio Peres

O companheiro de equipe mais próximo de Ayrton Senna na Fórmula 1, deixou o mundo do automobilismo em polvorosa, quando declarou que o jovem Max Verstappen é do “mesmo molde” que o mito brasileiro. Ou seja, no que pese fazer uma breve comparação, entretanto, não disse que Max é tão bom quanto Ayrton em seus primeiros anos e nem que o holandês alcançará o nível mais alto que o brasileiro atingiu. De qualquer maneira, salta aos olhos, as doses cavalares de talento natural e autoconfiança que os dois – Max e Ayrton – foram brindados. Mas vamos com calma.

O internauta do Autoracing, Renato de Melo Machado fez uma observação interessante: “Fazendo média, nem se compara Ayrton já era um campeão quando estreou na F-1. Hoje em dia os pilotos praticamente vão fazer toda sua carreira, na F-1. Você correu ou venceu o quê antes de entrar na F-1? Nada, responde o piloto praticamente só andei de F-1. E MotoGP ou Indy, você pensa em fazer um dia? Não é muito perigoso minha família não deixa”. Realmente, Ayrton já chegou à Fórmula 1 em um nível excelente; já Max precisou de alguns anos de aprendizagem dentro da própria F1. No livro do Alex Dias Ribeiro, ele conta, que, depois de já ter sido piloto de F1, foi testar o Fórmula Ford que seu irmão Fernando guiaria naquele ano, e, que, fez 03 (três) segundos mais rápido. Naquele tipo de carro, confesso que fiquei com uma dúvida na época.

Até Senna ir correr de Fórmula Ford e colocar 03 (três) segundos nos adversários em algumas oportunidades. Ele já saiu do Kart com muita qualidade (e, ainda assim, chegou a chocar – pela determinação e personalidade – Chico Serra, que fazia a ponte, e o dono da equipe, para garantir o máximo de testes possíveis, e, assim, garantir seu máximo desenvolvimento. No que pese a genialidade, ser humilde e ter dedicação ao trabalho são elementos fundamentais). Em sua primeira época na F1, 1984, Senna assombrou o mundo: fez um ponto na segunda corrida; fez uma corrida épica debaixo da chuva em Mônaco, e fez mais dois pódios impossíveis com pista seca, com o fraco motor Hart, calando seus críticos de que o resultado em Monte Carlo tinha muito a ver com um carro curto entre eixos, também por ele ser canhoto (uma vantagem estar com a mão boa no volante, enquanto a maioria, destra, tinha de usar a direita para mudar a marcha na alavanca) e com a própria chuva, que limitou os motores por baixo. Seu primeiro companheiro de equipe, o ex campeão mundial de Moto GP e já com experiência na F1, Johnny Cecotto, conta que quando os dois dividiam internamente as informações, ele ia melhor, e, quando não dividiam, Ayrton o superava.

Com certa mágoa, o venezuelano reclama – até hoje – que Senna parou de dividir as informações… Querido, automobilismo é um contra o outro e o brasileiro não era bobo. Ou, como diz o Martins, outro leitor de bom gosto: “Max é um ótimo piloto, e com um carro de ponta será campeão. Alesi não foi porque era bonzinho, assim como Berger. Agora Mansel… esse está longe de ser bonzinho, assim como Prost, Piquet, Senna, Alonso…..e outros tantos, nunca foram bonzinhos, pois se fossem não seriam campeões!!!”.

Por outro lado, Max Verstappen possui algo que outros pilotos nunca tiveram: a neuroplasticidade de um cérebro amadurecido dentro da F1. Ele pode não ter chegado à F1 no nível de Senna, porém, cumpriu a regra de formação de excelência das “10 mil horas” (e treinado por pai com experiência na categoria e uma mãe kartista talentosa). Mas, chegando à categoria máxima aos 17 anos de idade, ainda tinha um cérebro amadurecendo, e, aí, as percepções desenvolvidas em seu aparelho mental devem ser espantosas.

Vejo Max no nível de Senna em 1985, de maneira que concordo parcialmente com o Berger. Não é possível saber, entretanto, se Verstappen continuará evoluindo, até alcançar o nível de Ayrton de 1988 em diante. Aliás, talvez esse tenha sido o grande diferencial de Ayrton Senna: no que pese o imenso talento natural, ele sempre continuou a se esforçar de maneira gigantesca, para continuar evoluindo. A maioria das pessoas incrivelmente talentosas se acomodam, quando atingem uma grande conquista e um nível também incrivelmente alto.

O leitor Johannes Compaan nos brinda com brilhante observação: “Senna já era especial quando começou em ’84, mas ele se desenvolveu tecnicamente, fisicamente e, acima de tudo, mentalmente a níveis incomparáveis até hoje. Se Max tem essa mesma determinação e capacidade? Eu acho difícil, visto que Senna se fortalecia muito pelo lado espiritual, coisa que Max não tem. Mas, vamos esperar pra ver…”. O trabalho que Senna fez com o preparador Nuno Cobra, após o desmaio depois de seu primeiro ponto na segunda corrida, foi espetacular. Nuno conta que Ayrton não tinha massa muscular alguma, porém, muito mais do que isso, Senna se encaixou perfeitamente ao método de treinamento “que coloca o corpo como um caminho para chegar à mente, à emoção, e ao espírito”.

Por outro lado e por influência do já mencionado Alex, Senna se tornou Evangélico e mergulhou em sua fé e encontro com Deus (Prost chegou a provocar algumas vezes, dizendo que o destemor de Senna estaria relacionado a isso). Então, no que pese o jovem Verstappen ser uma agradável surpresa, ainda falta muito para ele. Espero que tenha humildade e dedicação suficientes, quando já for campeão, para continuar evoluindo, mas acho pouco provável que alcance o nível fantástico atingido por Ayrton.

Por outro lado, no lugar de Sergio Marchionne, faria qualquer extravagância para ter – o mais breve possível – a dupla Max Verstappen e Daniel Ricciardo na Ferrari: o primeiro, para virar um mito e enfrentar Lewis Hamilton; o segundo, por ser muito eficiente, exigir que Max nunca se acomode, e, principalmente, por ser “oriundi” e ter um carisma absolutamente fantástico, de maneira que passaria a morar rapidamente no coração da Itália e da imensa nação ferrarista. Avante!

Flavio Peres
Poços de Caldas – MG

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