Wolff, Horner e as outras equipes estão certas sobre a Andretti

sexta-feira, 12 de agosto de 2022 às 14:40

Fórmula 1 2022

Por: Adauto Silva

Michael Andretti quer entrar com sua organização de corridas na Fórmula 1. Ele tem equipes em várias categorias, mas falta a cereja do bolo, a categoria rainha do automobilismo, a categoria que depois de 70 anos de altíssimo risco financeiro para qualquer um que entrasse, hoje finalmente tem um modelo de negócios que basicamente garante lucro para todos os seus participantes, graças à Liberty Media que trouxe o “modo americano” de fazer ligas esportivas extremamente bem sucedidas.

Na era Bernie Ecclestone, as grandes equipes ganhavam muito, as médias quase nada e as pequenas perdiam, só perdiam dinheiro, por isso não se sustentavam na Fórmula 1. Há dezenas de exemplos de equipes que não conseguiram ficar mais de 3 ou 4 anos na F1 e simplesmente faliam – a maioria – ou “vendiam” seu espólio por um valor simbólico, muitas por apenas 1 dólar.

Com a compra da Fórmula 1 pela Liberty, ela foi transformada numa Liga com as equipes sendo franquias dessa Liga. Nesse modelo de negócios, as equipes ganharam um poder que nunca tiveram, pois as grandes decisões precisam da aprovação delas, pelo menos da maioria. Nada mais pode ser imposto pela dona da F1 às equipes como sempre foi.

O papel da dona da F1 também mudou. Agora ela só cuida dos negócios da F1. Não se mete mais em parte técnica e em nenhuma outra parte. Quem faz isso é a FIA juntamente com um Grupo Técnico da própria Fórmula 1, formado pelos engenheiros das equipes.

Esse modelo evita conflitos, envolve todos e determina qual é o papel de cada um dentro da Liga.

Mas acima de tudo a Liberty se concentra em aumentar o lucro da Liga, que depois é dividido entre a própria Liberty e todas as equipes, inclusive a última colocada no campeonato, que vai receber uma premiação muito próxima dos USD 140 milhões do teto de orçamento.

Com isso, a Liberty tornou todas as equipes viáveis economicamente, aumentou o lucro de inúmeras pistas e seus promotores (melhorando espetáculo e a experiência de quem vai na pista para mais pessoas quererem ir e pagar mais caro por isso) que tinham prejuízo com as taxas que precisam pagar para hospedar a F1. Outro item é o aumento das taxas que as TVs pagam para transmitir uma categoria que vem aumentando exponencialmente sua audiência, além da disseminação do F1TV, que hoje conta com dezenas de milhões de assinantes no mundo inteiro para acompanhar a F1 via streaming. Tudo isso é um processo em andamento, é como uma grande Corporação precisa fazer para garantir sua viabilidade econômica ano a ano.

São com essas ações e outras menores que a Liberty conseguiu aumentar muito o “bolo” do faturamento da Fórmula 1 e assim distribuir prêmios muito maiores para as equipes, que a partir de agora só terão prejuízo se forem muito, mas muito mal administradas.

Até 3 ou 4 anos atrás, ninguém queria comprar uma equipe de F1. Hoje, com todas essas mudanças que vem sendo feitas, muitos querem entrar da festa, já que além da publicidade global gigantesca que a F1 traz, ela ainda proporciona lucro financeiro para seus participantes. A gloriosa McLaren, que há 4-5 anos atrás teria que fechar (e quase fechou) as portas caso quisesse vender sua equipe, agora rejeitou uma proposta da Audi de 650 milhões de euros para comprar apenas 60% da equipe, ou seja, uma coisa inimaginável há muito pouco tempo atrás.

Então temos agora três organizações que querem entrar. A Porsche, a Audi e a Andretti.

É evidente que seria muito melhor se Porsche e Audi entrassem como equipes, pois isso aumentaria o número de carros e pilotos de 20 para 24, mas mesmo entrando fornecendo motor e/ou sendo sócias de equipes já existentes, elas tem muito a agregar tecnicamente e financeiramente, já que vão despejar dezenas ou até centenas de milhões de dólares em marketing na F1, ou seja, farão o lucro e o prestígio da categoria crescer.

Mas e a Andretti, o que ela tem a oferecer para entrar nessa festa, comer caviar, tomar champanhe e ainda meter algum dinheiro no bolso? É aí que mora o problema.

Por que eu vou aceitar um sócio novo no Autoracing, se ele não provar que vai trazer patrocinadores para nós e aumentar exponencialmente a audiência do site para faturamos mais? Porque o Autoracing vai dividir o lucro que já tem hoje com mais alguém? Não vai. O Autoracing só vai topar um novo sócio se ele tiver um plano de negócios que garanta (mas garanta mesmo) um aumento de faturamento proporcional à parte que o novo sócio vai trazer. Isso no mínimo, porque o certo é que o novo sócio aumente o lucro numa proporção maior do que sua entrada.

Na F1 é a mesmíssima coisa. A organização do Andretti tem que provar para a F1 que não vai entrar apenas para tomar uma parte do lucro que elas já têm agora, mas sim aumenta-lo.

O Andretti até agora não conseguiu provar isso. Se conseguir ele será muito bem-vindo, mas caso contrário não vai entrar de jeito nenhum. Negócio é uma coisa, instituição de caridade é outra. A Liberty e as equipes de Fórmula 1 sabem muitíssimo bem disso…

Adauto Silva
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