Você gosta de automobilismo ou de Formula 1?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015 às 19:56
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Fórmula 1 - GP do Brasil 2014

Colaboração: Ricardo Viana da Silva

Poderia começar a refletir sobre esta pergunta considerando o nome que o Adauto escolheu para o site, AutoRacing. Ele não escolheu F1Racing, F1GP, F1GranPrix etc. Então olho para o passado e vejo que comecei a acompanhar o automobilismo assistindo a corridas de Fórmula 1 na Globo. Afinal esta era a principal emissora de televisão na década de 70, e até hoje no Brasil a melhor cobertura de corridas é dada à Fórmula 1. Mas como você pode dizer que gosta de automobilismo se acompanha apenas a Fórmula 1?

Tempos depois de me tornar expectador da Fórmula 1, eu comecei a ver corridas de Opala Stock Car na TV Bandeirantes. Em 1987 eu pude ir ao Salão do Automóvel em São Paulo e terminei assistindo corrida de Stock Car em Interlagos, onde decidi que automobilismo seria parte da minha vida. Já dividi com colegas de fórum algumas de minhas experiências, assistindo competições de turismo, Fórmula Indy, Fórmula 1 etc.

Na Sexta-Feira 16.Jan.15 recebi meu primeiro cheque de USD 100 por ter trabalhado como bandeirinha num dia de treinos da NASA (National Auto Sport Association) em Houston. Meu primeiro trabalho remunerado relacionado a corrida. Não posso viver o automobilismo como se não tivesse família para sustentar. Gastei o dinheiro assistindo a competição de Monster Jam no Sabado 17.Jan.15 e em 20.Jan.15 fiz um lance de USD 50 por um Mazda MX-5 num leilão público de carros abandonados. O MX-5 foi arrematado por USD 500 e para competir nas 24h de Lemons o carro não pode custar muito mais do que USD 500.

Entendo que o papel que a Globo executa é o de divulgar a Fórmula 1 para o povão. Aqueles que gostarem podem passar a acompanhar o automobilismo em sites como o AutoRacing. E aqueles que tem o automobilismo como parte de suas vidas, cada um vai escrevendo a sua historia.

Mas e ai, você gosta de automobilismo e Formula 1?

Meu pai consertava eletrodomésticos, e eu queria que ele fosse mecânico de carros, na vida cada um vai do jeito que pode. No final da década de 70 eu ia de um lugar para o outro a bordo de uma Variant Verde Abacate.

Nossa mãe do céu, a minha professora do Jardim de Infância devia ficar intrigada, por que que aquele menino só desenha Variant verde. É que o meu pai me colocava no colo dele e me deixava segurar no volante. Me lembro até hoje do dia em que ele deixou eu mexer na alavanca para mudar a marcha, foi a glória.

A outra lembrança que tenho, é do dia que o meu pai gritou: – Desacelera o volante!!! O coitado soltou uma frase sem sentido, tamanho foi o desespero quando eu comecei a acelerar o Chevette Hatch 81 sem desfazer o volante. É que eu queria sair da curva acelerando, para isso eu tinha que desfazer mais rápido ou acelerar mais devagar. Mas o que saiu mesmo foi desacelera o volante.

Meu pai foi quem me apresentou a Fórmula 1, como ex-caminhoneiro, ele gostava de dirigir. Por muito tempo, viajar pelas estradas foi lazer para minha família, já percorremos alguns milhares de quilômetros pelo Brasil, Europa, EUA. Uma viagem que queria ter feito com o meu coroa era na histórica Rota 66. Onde pude dirigir por duas vezes, a oportunidade mais recente foi agora no início de 2015.

Dirigir contra o tempo cria tensão que reduz o prazer de uma viagem. A rota 66 era de um tempo em que o bom da viagem era a demora. Quando se pegava a estrada pelo prazer de viajar, sem preocupação com a hora de chegar. É disto que trata o filme Carros. Quando se viaja com pressa pela freeway I-40, a figura abaixo mostra como se vê o Cadillac Ranch em Amarillo TX. E você pode dizer que viu o Cadillac Ranch, onde a frente dos carros estão enterradas no chão, reduzindo o local a um ponto de passagem.

Retornando de Santa-Fé para o Texas, estávamos viajando sem pressa. Sabem o que mais gosto quando viajo sem pressa? Sobra tempo bate papos em família, afinal dentro de um carro por 8 horas num dia, não há como a família deixar de conversar sobre as diferenças.

Minha filha adolescente continuava sem entender aquele papo de diferenças entre Freeways (I-40) e Highways (US Route 66). Tendo a Rota 66 ao lado da I-40, eu lhe disse: – Estamos indo para Amarillo, tanto a Freeway quanto a Highway nos levam ao nosso destino. Mas, quando escolhemos a I-40 nós deixamos de passar naquela cidadezinha onde a Rota 66 passou, para poder salvar tempo numa estrada sem nada de um lado ou do outro.

Estando viajando sem pressa, desta vez pudemos parar no Cadillac Ranch, que para mim é como um símbolo da Rota 66. Era uma época de manifestações, movimentos revolucionários, onde um artista buscou uma forma de se expressar quando a Highway estava sendo substituída pela freeway. Eu ainda penso se é sobre Cadillacs, ou se é sobre se expressar através das pinturas nos carros, mas na verdade é uma expressão sobre o que acontecia numa época. Para mim o legal é que com tinta spray as pessoas podem se expressar pichando um carro. Também lembrei da pichação do Justin Bieber, mas aquilo foi um Canadense desrespeitando o Brasil. Ainda que por pouco tempo meus filhos deixaram sua marca num símbolo da Rota 66.

Na beira da Rota 66 foi construído o restaurante “The Big Texan Steak Ranch”, que possui um ambiente tipicamente Texano. Sabe aquelas conversas animadas entre amigos sobre quem dá prejuízo numa churrascaria rodízio? Este restaurante mantém o desafio de não cobrar a quem coma 2 quilos de bife (steak) e alguns acompanhamentos.

Quando você viaja com pressa termina perdendo oportunidade de aprender sobre a cultura local. Como passar por uma sociedade indígena a beira da Rota 66 e não se interessar pela cultura deles? É como ir a Porto-Seguro e ignorar o Monte Pascoal, a tribo Pataxó e o marco da celebração da Primeira Missa no Brasil em 1500.

A esta altura você deve estar pensando que eu me perdi entre Fórmula 1, automobilismo, rota 66 e tribos indígenas. Na verdade eu estou falando sobre a paixão por carros e as “viagens” que eles tornam possíveis. Esta pluralidade de possibilidades com um carro se manifesta na sociedade Americana em todas as formas como eles usam os carros: arrancadas, lowriders, hot rods, Monster Jam, track days, hotrods, restauração, customização.

Explorando estes aspectos de restauração e customização, nossa viagem pela I-40 e Rota 66 terminou quando tivemos que seguir para Dallas Fort Worth onde visitamos a lojinha dos fãs na Gas Monkey Garage.

É isto, se você pode viajar, aprender sobre carros e como se divertir com eles, então por que limitar-se a acompanhar apenas a Fórmula 1? De Fórmula 1 a Monster Jam, o combustível é o mesmo, paixão por carros.

Ricardo Viana da Silva
Houston, Texas – EUA

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