Vamos combinar, Bernie?

sábado, 8 de janeiro de 2011 às 20:53

Bernie Ecclestone

Vamos combinar, Bernie?

O negócio é o seguinte. Ninguém mais merece assistir corridas ridículas como essa última de Silverstone. Aquilo não foi corrida, foi procissão. O pior é que nove entre dez corridas de Formula 1 são exatamente assim – enfadonhas, modorrentas, horríveis – caso não aconteça algo extraordinário. E o que vem a ser algo extraordinário? Fatores que mudem a ordem natural das coisas, tais como uma chuvinha no treino ou na corrida, uma punição para um ou mais carros da frente que os obriguem a largar atrás, algumas interrupções do safety-car, algum maluco invadindo a pista e coisas do gênero. Quer dizer, somos obrigados a rezar pelo imprevisto – qualquer um que seja – para que possamos ter a possibilidade de assistir uma corrida decente. Chega!

Como eu sou um cara muito humilde, vou dizer o que a Formula 1 precisa e nem vou cobrar nada da FIA e do Bernie por isso. Basta fazerem o que vem a seguir que já me darei por satisfeito.

Primeiro e mais difícil – para não dizer impossível – o Sr. Bernard Charles Ecclestone tem que parar de querer ganhar tanto dinheiro com a desgraça da Formula 1. Sim, parece bizarro, mas é isso mesmo. Ele sabe exatamente o que é necessário fazer, porém se fizer matará a atual galinha dos ovos de ouro. Vai lendo que você vai entender…

Para compreender o problema da F1 temos que responder duas questões.
Qual é o momento mais esperado numa corrida? O que mata o espetáculo que a Formula 1 pode proporcionar hoje?

A resposta para a primeira pergunta é óbvia: Disputas com possibilidade de ultrapassagem. Nós simplesmente não temos isso, não em condições normais. Por quê? O que impede que isso aconteça, ou seja, o que mata o espetáculo? Os circuitos, que Bernie adora mandar reformar ou construir novos? Não. Os pilotos, que são incapazes? Não. Os motores que são muito fortes? Não, lógico que não, afinal estão cada vez mais fracos.

O que mata a F1 é tão óbvio quanto bizarro; a dependência aerodinâmica dos carros. Ao impedir que um carro possa seguir o outro durante o contorno de uma curva, você mata a possibilidade do carro de trás andar muito perto do da frente. Quando um carro depende muito da aerodinâmica você não consegue andar colado (no vácuo) do carro da frente, pois seu aerofólio não está recebendo ar o bastante para manter seu carro relativamente estável. Por causa disso você simplesmente não tem disputas contra carros parelhos. É por essa razão que não vemos quase nenhum “pega” na pista, a não ser quando um carro muito mais veloz que a média tenha algum problema e largue atrás. Então você assiste aquele piloto recuperando muitas posições de carros bem piores até chegar em “sua turma”, ou melhor, naqueles carros que são parelhos com o dele. E lá ele estanca.

Disputa entre os três primeiros na pista é inexistente. Não tem como. Se o cara da frente não errar o de trás não ultrapassa, aliás, nem consegue andar perto, pois vai estar sempre pelo menos de três décimos a meio segundo atrás. E isso a 300 km/hora é uma distancia enorme, muito mais que os 10 a 15 metros necessários para começar a entrar no vácuo.

Lógico que existem outros problemas também. Os freios são eficientes demais, os pit-stops são desnecessários, os pneus poderiam ser slicks, a quantidade de motores poderia ser liberada ou fixada em um por corrida e etc. Mas nada disso adiantaria para resolver definitivamente o problema.

A solução? Simples, tão simples que não vai mais precisar gastar 20 milhões de dólares todos os anos em todos os autódromos (hum, vejamos…. 20 milhões vezes 18 corridas dá a bagatela de 360 milhões de verdinhas por ano) para que a F1 possa correr, ops, desfilar. Então, por que ao invés de matar a F1 a gente não mata a aerodinâmica? Atenção Bernie e FIA: A partir de 2007 os aerofólios tem que diminuir de tamanho em 30% e o fundo do carro tem que ser totalmente plano, inclusive com uma prancha de madeira em cada lateral assim como existe a do centro.

Eu nem vou dizer para vocês proibirem o tosco, famigerado e ridículo controle de tração, apesar de saber que isso seria o segundo item mais importante para resolver o problema da F1. Não digo isso porque sei que vocês são incompetentes o bastante para policiarem esse quesito.

Mas mexam na aerodinâmica. Vocês fizeram suas vidas em cima da Formula 1. Ficaram bilionários, poderosos, fizeram a categoria ser grande, a maior. Mas agora perderam a mão. Antes vocês sabiam ganhar dinheiro melhorando a categoria ao mesmo tempo. Agora só sabem ganhar dinheiro enquanto a torcida envelhece. Façam o que tem que ser feito ou passem o osso adiante.

Um abraço
Adauto Silva

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