Valentino The Doctor, the best

sábado, 8 de janeiro de 2011 às 20:35

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Valentino The Doctor, the best

Eu não sei se é porque a categoria é um show total, se é porque faltam muitos parafusos nas cabeças dos pilotos, se o espetáculo televisivo é o melhor, se é porque o ballet das motos serpenteando as curvas é indescritivelmente lindo, se é porque elas alcançam inacreditáveis 340 km/hora, ou se é por isso tudo junto…

O que eu sei, o que eu tenho plena certeza é que em 34 anos acompanhando esporte a motor de todas as maneiras possíveis, nunca vi nada igual ao Valentino Rossi, “The Doctor” como gostam de chamar seus fãs – que são muitos, centenas de milhões no mundo todo. O homem é simplesmente uma monstruosidade em cima de uma moto. Nada parece detê-lo; nem pistas, nem adversários e muito menos um equipamento sabidamente inferior.

The Doctor tira tudo e mais um pouco de seu equipamento. Mistura arrojo, valentia, técnica e inteligência como nenhum outro, sempre. Isso que impressiona, é sempre! Não tem tempo ruim pra ele, não tem doença, não tem cara feia, não tem política. Está sempre motivado, bem humorado e preocupado com o show. Valentino, melhor do que qualquer outro em qualquer tempo, sabe que o esporte é antes de tudo um show. E é um show caro para quem participa, para quem patrocina e para quem assiste. The Doctor vai e faz o show, não apenas o show esperado, mas mais do que isso. Ele surpreende com o algo mais, aquela coisa que ninguém sabe explicar o que é, mas que todos reconhecem.

Louco por vários esportes como sou, tive a tremenda sorte de ver muitos fenômenos de várias modalidades, gente que deixou memórias indescritíveis demonstrando um talento jamais visto antes e difícil de acontecer duas vezes. Vi Pelé, o rei, o máximo dos máximos, vibrei pela espetacular seleção de 70 e sofri com ele judiando de meu time por 10 anos a fio. Vi Muhammad Ali, um homem de quase 100 kgs que desafiava a lei da física ao socar saindo de seus adversários e bailando no ringue como uma pluma. Vi Michael Jordan, o Pelé do basquete, um jogador simplesmente perfeito que deu uma dimensão plástica ao esporte jamais vista. Vi Joe Montana, que apesar de ter sido rei numa modalidade quase desconhecida aqui no Brasil, fez com que eu comprasse uma antena parabólica só para poder ver os jogos de Futebol Americano. Vi John McEnroe e seu gênio indomável fazer mágica na quadra e levar o tênis profissional a um novo patamar. Vi Nadia Comaneci fazer história com suas quatro notas dez nas Olimpíadas de 76. Vi Mark Spitz deslizando sobre a água – enquanto os outros apenas nadavam – para conquistar suas sete medalhas de ouro, acompanhadas de sete recordes mundiais, em Munique 72.

No automobilismo vi e ainda vejo muita gente excelente, muito melhor que a média, mas aquele algo mais acho que só vi em Gilles Villeneuve e Ayrton Senna, que deixaram uma legião de fãs pelo improvável que faziam nas pistas.

Mas, voltando ao The Doctor, neste domingo em Mugello, provavelmente a melhor pista do calendário da MotoGP, vimos outro show. Não só dele, mas de vários pilotos que fizeram uma apresentação de gala, digna de ficar na história. The Doctor venceu, mas isso é o menos importante. O que vai ficar na história é como venceu. O esporte a motor – assim como você está cansado de saber – depende muito do equipamento. Vencer com equipamento inferior sempre foi considerado utopia. Sempre? Não mais, pois Valentino prova que essa utopia é coisa de burocrata, coisa de gente comum, mortais como nós, não de fenômenos como ele. Todo mundo sabe que quanto mais redondo você guia, menos tempo você perde, não é mesmo? Não, não com ele. Valentino muda o traçado de uma volta para outra, escorrega – às vezes nas duas – e ainda assim consegue ser mais rápido do que diz o livro. The Doctor freia uma vez aqui, outra acolá e descobre pontos de ultrapassagem onde ninguém imaginava. Nas retas ele costuma ter problemas, já que sua moto tem motor mais fraco que as outras. Mas ele não deixa por menos, simplesmente desconta isso freando muito depois dos outros para recuperar o que perdeu.

Valentino não tem medo do duelo roda a roda, ao contrário, parece gostar. Às vezes – menos do que a gente gostaria – exagera, erra e perde posições durante um duelo. Mas aí fica melhor ainda, pois parte furioso em busca das posições perdidas elevando ainda mais a adrenalina de seus fãs.

Esqueça tudo o que você já leu e viu sobre como ter sucesso no esporte a motor e simplesmente assista Valentino. Mas cuidado! Depois da bandeirada, em caso de vitória dele, não desligue sua TV imediatamente, pois o show não acabou. Ao invés das manjadas comemorações de pódio que vemos em todas as outras categorias, The Doctor tem sempre alguma coisa especial e engraçada para mostrar, geralmente junto dos fãs.

E curta, curta muito porque não é sempre que a gente tem o privilégio de ver um fenômeno reescrevendo a história.

Obrigado, The Doctor!

Grande abraço
Adauto Silva
dauto@autoracing.com.br

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