Uma visão acadêmica sobre os conflitos na Formula 1

Dr. Paolo Aversa

Uma nova pesquisa estatística feita por um grupo de acadêmicos revela que entre 1981 e 2010, quando dois pilotos de ponta na F1 competiram na mesma equipe, isso teve um efeito negativo em seus desempenhos individuais.

Em compensação, o mesmo estudo mostra que quando uma equipe privilegia um dos pilotos, o efeito pode ser nocivo para ambos.

O estudo chega logo após a recente colisão entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton em Spa e teve como objetivo descobrir se seria melhor contratar dois pilotos do mesmo nível, ou um de alto desempenho com um companheiro de equipe de apoio.

“Descobrimos que os pilotos que tiveram sucesso no passado são mais propensos a ter um bom desempenho no futuro. No entanto, quando a diferença entre os desempenhos passados de dois companheiros de equipe diminui, seus resultados individuais pioram”, diz o co-autor do estudo Dr. Paolo Aversa, professor de estratégia na Cass Business School. “Em outras palavras, é bom contratar um piloto de ponta, mas o seu desempenho médio diminui quando seu companheiro de equipe tem o mesmo nível de sucesso. Este é um fenômeno que afeta gestores de ponta de organizações públicas e privadas, cientistas em equipes de P & D e estrelas de cinema de Hollywood. As organizações que tentam estabelecer a equipe perfeita contratando várias estrelas corre o risco de colocar dois galos no mesmo galinheiro. As evidências sugerem que isso pode corroer o desempenho individual dos membros da equipe.”

Por que o desempenho individual piora em equipes com mais de uma estrela? Segundo o Dr. Aversa, uma das razões é o surgimento de um conflito interno dentro de uma equipe, já que dois funcionários de alto status competem pelos mesmos resultados.

As equipes de Formula 1 lidam com isso favorecendo um dos pilotos, a fim de evitar conflito interno, ou dando as mesmas condições a ambos, promovendo um possível conflito.

“A primeira opção tende a desmotivar os dois pilotos,” diz o Dr. Aversa. “O piloto favorecido tende a relaxar sua rivalidade, enquanto o outro perde suas ambições, já que ele sabe que não vai ser autorizado a vencer seu colega. A rivalidade na Ferrari entre Barrichello e Schumacher no início da década é um bom exemplo.”

“No segundo caso, em que a equipe promove o conflito interno, o antagonismo resultante muitas vezes leva à falta de qualquer colaboração dentro da equipe e, eventualmente, provoca duelos agressivos que muitas vezes terminam com um dos dois carros fora da corrida, seja por batida ou quebra. Isso aconteceu no recente acidente entre Hamilton e Rosberg na Bélgica.”

Uma segunda razão para o declínio do desempenho individual em equipes com duas estrelas principais é o uso ineficiente dos recursos. Quando dois pilotos desfrutam de status similar, as equipes podem decidir dividir os recursos disponíveis de forma igual entre eles, mesmo quando que a decisão não maximize a probabilidade da equipe vencer. Além disso, a batalha dos pilotos para cooptar os melhores recursos da equipe pode retardar o processo interno de alocação de recursos.

“As equipes retardam seus processos de decisão, pois têm de ponderar cuidadosamente o impacto de favorecer um piloto sobre o outro”, diz o Dr. Aversa. “Em ambientes ultra-competitivos como a Formula 1, onde as equipes são obrigadas a concentrar seus recursos e responder rapidamente às mudanças no cenário competitivo, esse comportamento prejudica o desempenho da equipe e dos pilotos”.

O estudo, intitulado “Por que funcionários de alto status declinam? Um estudo sobre status conflitantes dentro da Formula 1” foi escrito por Aversa, em parceria com o professor Gino Cattani (Stern Business School, Nova York) e com o Dr. Alessandro Marino (Luiss University, Roma).

As equipes podem ter dúvidas quanto a privilegiar ou não um de seus pilotos, mas o público não tem. Em todas as vezes que o público teve a oportunidade de se manifestar, sua preferência pela disputa franca sempre prevaleceu.