Uma proposta para que a CART e a IRL coexistam pacificamente!

quarta-feira, 19 de novembro de 2003 às 12:59
Autores/Autors: Mark Cipolloni
Copyright: AUTORACING1 – markc@autoracing1.com
Tradução/Translation: Adauto Silva

Uma proposta para que a CART e a IRL coexistam pacificamente!

Chega! CART e IRL não podem continuar a se agredir e abrir uma fenda entre seus fãs, e dividirem patrocinadores e fabricantes. Nós examinamos como a CART poderia posicionar sua categoria para coexistir pacificamente com a IRL; como a IRL e CART poderiam se unir para chegarem num ponto em comum, e como a Indy Lights pode apoiar ambas as categorias perfeitamente.

A NASCAR é um sucesso porque definiu seu produto, mercado e concentrou todos seus esforços para ser boa em uma única coisa – corridas em circuitos ovais de Stock Car. A IRL, mesmo fraca como ainda é, definiu sua missão de vida e ficou nessa. Idem para a Fórmula 1, eles definiram sua categoria como a principal de corridas em circuitos mistos. Em todos os três casos, não se tem dúvida de qual categoria eles são, e se você é um patrocinador ou fabricante, certamente sabe onde estará se metendo antes de mergulhar neste mundo. Estar em uma dessas categorias em particular é um bom negócio, você já entra sabendo qual é o seu mercado.

Esse não é o caso da CART. Ela quer ser uma categoria de mistos, rua e oval para que possa ser conhecida como a mais diversificada forma de corridas do mundo, uma coisa que muitas pessoas acham intrigante, inclusive eu. Ela quer ser uma categoria americana que ocasionalmente se aventura pelo mundo porque um de seus patrocinadores acha que vale a pena. Infelizmente, tentar ser muitas coisas ao mesmo tempo está impedindo a CART de ser boa em qualquer uma delas. Vamos dar uma olhada nas áreas chaves.

Circuito/Carros Algumas pessoas perguntam se a CART pode continuar a competir em todos os tipos de circuitos sem comprometer seriamente seu produto. A situação que se sucedeu poucas semanas atrás no Texas, na qual a corrida teve que ser cancelada, pois os carros estavam muito rápidos, provou que os “Champ Cars” (carros da CART que tem mais de 900 hps) atuais são rápidos demais para ovais de alta velocidade cujas curvas tenham muita inclinação. Mesmo assim, pode-se argumentar sem contestação, que em circuitos mistos e de rua, os carros estão bem dentro dos limites para que uma corrida seja segura e competitiva.

Como se consegue uma fórmula onde se possa correr em circuitos mistos/rua e em ovais pequenos/grandes sem que se tenha muita velocidade em um tipo de circuito e pouca velocidade no outro? Os carros da IRL são maximizados para se sobressair em ovais e suas corridas são relativamente competitivas. Ao contrário dos atuais Champ Cars, os carros da IRL são tão lentos que podem correr em quase qualquer oval, embora o “pacote” de corridas tipo NASCAR que eles criaram nos ovais de alta inclinação pode levar a desastres como o que vimos em Atlanta recentemente. Por sorte ninguém saiu ferido. Mesmo assim, um carro da IRL num circuito de rua ou misto seria comido vivo por um Champ Car ou um da Fórmula 1. Carros da Fórmula 1 são maximizados para serem o rumo final dos carros de corrida para circuitos mistos/rua. Os carros da Winston Cup foram refinados desde o início para serem uma coisa e somente uma coisa: Stock Cars de pistas ovais e não há dúvidas que suas corridas agradam a muitas pessoas.

O que importa é que os circuitos de rua e mistos da CART foram os locais que mais tiveram sucesso. A maioria das corridas ovais nos EUA tem um público irrisório (como as do IRL). Já foi sugerido que a CART desse todas as suas corridas ovais para o IRL e se concentrasse em se tornar a principal categoria de corridas em circuitos mistos, bem parecido com a Fórmula 1. Eu endosso totalmente esta proposta, mas com algumas interessantes mudanças das quais falarei mais tarde.

Baseado nisso, a CART não estaria melhor servida se corresse apenas em circuitos mistos e de rua? Certamente seria um grande argumento. Mas e quanto as 500 milhas de Indianápolis? Bem, por enquanto, por mais que a CART queira participar dessa corrida, ela ainda pertence a IRL e o pessoal da CART tem que comprar o equipamento que Tony George exige para poder correr lá. Logo abaixo, nós vamos dizer como os pilotos da CART poderão participar das 500 milhas de Indianápolis, mesmo que a categoria passe a correr apenas em circuitos mistos/rua.

Parem de bater cabeça com a IRL e a NASCAR! Como qualquer boa empresa, tanto a NASCAR como a IRL querem ser líderes em seus negócios. A CART está se atrasando, pois fica batendo cabeça com essas duas poderosas entidades. A NASCAR tem praticamente o monopólio de corridas em ovais para Stock Cars, e a IRL está tentando conseguir a mesma coisa com os carros de monopostos. Ainda não conseguiu, mas Tony George (dono de Indianápolis e da categoria) não vai descansar até que consiga. Nesta semana, foi anunciada a criação de mais uma categoria de
Stock Cars, a TRAC, e com isso a concorrência em achar patrocinadores e tempo de TV aumenta ainda mais. Isso é uma má notícia para a CART e a IRL, tornando o mercado de automobilismo nos EUA mais saturado do que já está.

Na verdade, nós achamos que isto é pior para a IRL do que para a CART. Donos de pistas como, Bruton Smith por exemplo, estão procurando mais corridas para suas pistas ovais. A IRL estava tentando preencher este vazio, embora não tenha tido muito sucesso nisto. Agora há uma nova categoria de Stock Cars procurando preencher o vazio para proprietários de pistas como Bruton Smith. Com as rodas dos carros da IRL voando constantemente para as arquibancadas dos circuitos ovais de alta inclinação, quanto tempo mais até que Bruton Smith diga: “Chega de CART e de IRL, me tragam TRAC?” . Se ele não o fizer, provavelmente as companhias de seguro farão, a não ser que a CART e a IRL consigam achar um modo de garantir que as rodas não voem.

Dividindo o bolo Analisando todas essas circunstâncias e reconhecendo as forças e as fraquezas da CART, aqui vai minha opinião de como penso que a CART deveria se posicionar no futuro. Existe um terrível vazio, tanto nos EUA como internacionalmente por mais corridas de monopostos de alto nível em circuitos mistos. Muitos países querem uma corrida de Fórmula 1, mas não estão conseguindo, e outros que já tem sua corrida, mas querem uma segunda. Aqui nos EUA, todas as corridas da CART em circuitos mistos fazem muito sucesso. Está claro que existe uma demanda mundial por mais corridas em circuitos mistos… E é aí onde a CART deve entrar.

A CART deveria então, se posicionar como uma categoria estritamente de circuitos mistos como uma alternativa de custos mais baixos à Fórmula 1, mas com motores turbinados, o que faz uma bela diferença. Enquanto a Fórmula 1 é uma categoria principalmente européia que de vez em quando faz corridas em outros continentes, a CART pode se posicionar como uma categoria norte-americana que de vez em quando faz corridas em outros continentes… Note que, tamanho por tamanho, a América do Norte é maior que a Europa, então, a CART poderia se “espalhar” melhor do que a Fórmula 1 na saturada Europa.

O mundo é um lugar enorme, portanto há bastante espaço para a CART e a Fórmula 1 co-existirem pacificamente. De fato, por mais que a Fórmula 1 esteja alinhada com muitos fabricantes de motores, a CART talvez possa atrair mais fabricantes se isso trouxer a eles uma exposição mundial. Uma vantagem clara para a CART em relação à Fórmula 1 é que ela traz mais exposição no mercado norte-americano, o maior mercado do mundo para a maioria das montadoras.

Correndo apenas em circuitos mistos/rua, a CART pode otimizar seu regulamento para estes tipos de circuito, acabando com o problema de ser potente demais para ovais. Seus motores de 850 a 900 cavalos (HPs), não seriam problema para estes tipos de circuito, ainda mais considerando-se o peso elevado dos carros. Isso significa que o motor atual 2.65 litros turbo, pode ser usado por mais alguns anos até que adote a fórmula do 1.8 litros turbo, digamos em 2004. Eu adoraria ver os fabricantes, já desgostosos com a Fórmula 1 e querendo criar sua própria categoria em 2008, forçar a Fórmula 1 e a CART a terem um mesmo motor, a custos menores. Certamente eles teriam muito mais retorno pela grana investida…

Resgatando a Indy Ligths e ressuscitando a “Tríplice Coroa” Eu penso que a fórmula da IRL com seus 650 cavalos é melhor para circuitos ovais do que a fórmula da CART. Portanto, a IRL deveria se tornar a “Fórmula dos Ovais” e a CART, a “Fórmula dos Mistos”, contudo a CART não quer nem pode abrir mão de duas de suas corridas mais competitivas: a Michigan 500 e a Fontana 500. Existe uma maneira da CART dar essas corridas para a IRL sem perdê-las. Já faz dois anos que venho pressionando a CART para que adotem IRL como Indy Lights e agora, mais do que nunca, isso precisa ser feito.

Depois gostaria de ver os pilotos da CART guiarem aqueles carros na “Triplica Coroa” (Indianápolis, Michigan e Fontana). E os ovais do Japão e da Europa? Vocês talvez estejam me perguntando…

Os carros da CART fariam corridas maravilhosas nos padrões da Fórmula 1 e em circuitos mistos nesses países. Existem excepcionais pistas mistas em Motegi e no Eurospeedway da Alemanha. Não tenho certeza quanto a Rockingham, na Inglaterra. Na minha opinião, a CART atrairia uma multidão nesses circuitos mistos, mesmo porque, a torcida lá se identifica muito melhor com este tipo de pista. Porém, se as corridas nos ovais deste ano fizerem sucesso, talvez a CART possa pensar em mantê-las, mas usando os carros da IRL/Indy Lights. Isso só não seria possível no Japão, pois a Honda como dona do circuito, quer seus motores na corrida.

Eu proponho que a IRL seja a fórmula dos ovais nos EUA, a CART seja a dos mistos e juntas, ressuscitem a “Tríplice Coroa” onde os pilotos das duas categorias pudessem disputar Indianápolis, Michigan e Fontana, por um valor considerável em dinheiro, usando os carros da IRL/Indy Lights. Proponho ainda que: as equipes da CART possam vender esses carros que compraram para participar da Tríplice Coroa para uma categoria suporte da CART/IRL que seria criada. Essa categoria seria idêntica em tudo, exceto numa coisa; seus motores que teriam uma cilindrada menor em 0.5 litro. Bastaria diminuir o diâmetro dos cilindros, redimensionar o comando de válvulas e o mapeamento eletrônico do motor. No restante, seria tudo igual aos motores da IRL. A questão que vem imediatamente a tona é o fato da Indy Lights ter sido sempre uma categoria monomarca. Entretanto, a NASCAR não faz isso com suas categorias suporte, a Truck e a Bush. Tendo múltiplos fabricantes, você consegue atrair mais interesse para a categoria suporte, algo que a Indy Lights necessita desesperadamente. Para manter os custos baixos, talvez fosse interessante limitar os motores a 10.000 RPMs, ao invés dos 10.700 RPMs de hoje. Isso certamente aumentaria o tempo de vida útil dos motores. Outra questão é o cambio. O cambio atual dos carros da IRL funcionariam para circuitos mistos, entretanto alguns ajustes, um diferencial e a marcha ré talvez fossem necessários. Outra área que talvez necessitasse de alguns ajustes seria o sistema de lubrificação, que atualmente é otimizado apenas para circuitos ovais.

Um motor 3.0 litros produziria menos cavalos que um 3.5 litros, portanto os carros seriam um pouco mais lentos, assim como deve ser uma categoria suporte. Estimo que a potência ficaria em torno de 550 cavalos, o que seria ótimo se considerarmos o peso dos carros e que se trata de uma categoria “Light”. Os carros teriam o mesmo tamanho dos irmãos maiores, a CART e a IRL. Na NASCAR, os carros da série Bush (categoria suporte) têm o mesmo tamanho dos da Winston Cup (categoria principal). E por terem carros idênticos aos da IRL, os pilotos podem ser persuadidos mais facilmente a participarem de ambas categorias – se o calendário permitir – o que seria mais um atrativo. Se os pilotos da Winston Cup às vezes participam da Bush ou da Truck Series, por que os pilotos da CART e da IRL não podem? Eles certamente podem, e estariam muito mais inclinados a isso se os carros forem do mesmo tamanho, pois não pareceria que estariam dando um passo atrás.

Esta proposta também significa que as montadoras que hoje fabricam os motores da IRL poderiam fabricar para a Lights sem um aumento significativo de custos… Se quiserem. Toyota, Oldsmobile e Nissan já se comprometeram com o motor novo da IRL para 2003. Será que a Toyota também produziria um motor 1.8 litros turbo? Talvez sim, talvez não. Se eles pensarem a CART como uma forte categoria de corridas em circuitos mistos, e que lhes proporciona uma excelente exposição na América do Norte e no mundo, certamente que sim. Resta a CART definir claramente seu nicho de mercado como categoria de circuitos mistos, fazer um excelente trabalho de promoção, ter um pacote sólido de transmissões de TV e valorizar seu negócio o suficiente para seduzir a Toyota e outras montadoras.

Por outro lado, será que a Ford e a Honda também produziriam motores para a IRL e a Lights? Duvido, pelo menos por enquanto. Entretanto, nenhuma montadora está na Indy Lights agora, então eles não teriam nada a perder, exceto seus pilotos da CART que estariam guiando carros com motores diferentes nas três corridas da Tríplice Coroa. Eliminando as corridas de 500 milhas, as montadoras que fornecem motores para a CART não teriam que fabricar tantas versões do mesmo motor e, reduziriam seus custos. Se a CART fizer bem o seu trabalho, suas corridas em circuitos mistos darão a Ford, Honda e talvez a outras novas montadoras, o melhor retorno que eles poderiam conseguir hoje.

Abaixo você vai ver uma proposta de calendário em 2004 para a CART, IRL e Lights, que evita ao máximo a coincidência de datas, ressuscita a Tríplice Coroa e ainda coloca a Lights como uma categoria de suporte para ambas. São 24 corridas para a CART, 17 para a IRL e 14 para a Lights.

Você verá algumas novas corridas para a CART e a IRL, sendo que algumas são sugestões minhas e outras são rumores que tenho ouvido. Tive que fazer algumas decisões difíceis como tirar algumas corridas existentes hoje, pela baixa audiência, ou pela audiência declinando, ou apenas por questões de segurança.

clique na imagem para ver o calendário

Conclusão O que apresentei é uma maneira da CART e da Fórmula 1 coexistirem pacificamente. O mundo é grande o suficiente para ambas e a Fórmula 1 não consegue satisfazer toda a demanda existente. Mais importante é uma maneira da CART e a IRL coexistirem, uma como categoria para circuitos ovais e outra para mistos, sem que uma ameace a outra.

As entidades poderiam promover juntas as corridas de ‘Indy Car’, especialmente nas corridas da Tríplice Coroa, quando correriam juntas. Evitei que ambas corram no mesmo dia (exceto em duas oportunidades, quando a CART estaria na China e na Alemanha). O que apresentei permite a CART e a IRL irem juntas nas redes de TV ABC e ESPN para mostrarem um calendário de 37 corridas, como a NASCAR oferece, com corridas em quase todos os domingos. Apresentei uma maneira de gerar mais interesse na Indy Lights. Apresentei uma maneira dos pilotos da CART correrem na Indy 500 de modo mais econômico.

Também apresentei uma maneira dos fãs da Indy poderem apreciar corridas quase todos os finais de semana, assim como os fãs da NASCAR podem fazer, sem conflitos na programação das TVs. Mais importante, espero ter apresentado algo que faça o pessoal da CART e da IRL fortalecerem suas categorias.

Agora, gostaria de poder convencer Tony George e a CART a mergulharem juntas numa única organização, chamada “IndyCar”, o nome antigo da CART. Seria similar às Ligas Americanas e Nacionais de Football e Baseball, onde Tony teria todo o controle da IRL nas corridas em ovais e a CART, todo o controle nas corridas em mistos.

Eu ainda proporia que uma pessoa fosse o Comissário da IndyCar. Uma pessoa que fosse eleita pela CART e pela IRL que liderasse a organização, semelhante ao que acontece na FIA com Max Mosley, que comanda a Fórmula 1, F3000 e outras categorias. Essa pessoa teria que ser alguém de respeito pela comunidade internacional do automobilismo, alguém que os patrocinadores confiem e respeitem, alguém que imponha respeito quando entra numa sala, que possa ser neutro e que queira ver a CART e a IRL sob o mesmo teto.

Roger Penske é uma pessoa que tem todas as qualidades para colocar os dois lados juntos, e fazer pela CART e pela IRL o que ele tem feito em todos os negócios em que põe a mão, ou seja, virarem ouro. Ele não é mais um membro do conselho da CART, não é mais dono de pistas e me parece sincero quando diz que a CART e a IRL deveriam operar sob a mesma administração. O único conflito de interesses que ele talvez possa ter, é o fato de ser dono de uma equipe da CART, mas vejo isso do lado positivo, uma vez que ele conhece tudo sobre corridas. Roger Penske construiu Todo seu patrimônio partindo do automobilismo. Assim como a Honda é uma ‘empresa de corridas’ que, por acaso vende carros de passeio, Roger Penske é um ‘homem de corridas’ que, por acaso também dirige vários negócios de sucesso ligados ao automobilismo.

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