Um garoto e o caderno do ídolo – memórias de um fã nos 63 anos de Ayrton Senna

quarta-feira, 22 de março de 2023 às 17:49

Milton da Silva e Ayrton Senna da Silva

Colaboração: Carlos Júnior

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É difícil escrever sobre Ayrton Senna da Silva. Tanto já foi dito por gente melhor e mais capacitada que adicionar mais linhas acerca dessa personalidade é tarefa das mais inglórias. Todos nós já vimos um pouco do Ayrton Senna do Brasil, do tricampeão, do Rei de Mônaco, enfim, dessa existência que teima em não sair da memória brasileira – e dos apaixonados pelo esporte a motor.

Ontem, 21 de março, Ayrton Senna completaria 63 anos. Senna faleceu em 1994, mas a sua existência continua. Posso parecer um pregador cristão ao falar em tais termos. Que seja. Como creio na vida após a morte, ontem foi o seu aniversário. Ponto final.

Eu nasci em 1999, não tive a felicidade de ver Senna nas pistas, restou-me a internet para revisitar a sua obra automobilística. Os leitores do Autoracing vão lembrar de um texto meu sobre a aposentadoria de Sebastian Vettel e o porquê do tetracampeão ser meu ídolo de infância. Pois bem, é hora de falar do meu primeiro contato com a biografia de Ayrton Senna e como isso foi marcante para a minha paixão pelo automobilismo.

Foi em 2011, eu tinha 12 anos. Já acompanhava Fórmula 1 e torcia por Vettel nos seus anos dourados na Red Bull. A paixão pelo esporte só aumentava. Até que eu assisti o filme Senna, lançado no ano anterior. Foi a primeira vez que vi algo mais impactante a respeito daquele que é o maior e melhor piloto brasileiro de todos os tempos – considerado por muitos o melhor entre todos os outros e nacionalidades diferentes. Grande filme. A abordagem de dez anos da sua carreira foi bem feita, ainda que com outros detalhes pendentes.

Como qualquer pessoa, fiquei maravilhado com o que vi. Senna é um gênio do esporte, e se os três títulos mundiais, as 41 vitórias e as 65 poles não bastam para atestar isso, as atuações inesquecíveis em corridas como Interlagos 1991, Donington Park 1993 e Suzuka 1988 convencem qualquer um do seu nível técnico absurdo. Vencer com o câmbio travado na sexta marcha nas voltas finais, ultrapassar quatro carros no molhado em apenas uma volta e escalar o grid após uma largada desastrosa para ser campeão mundial não são feitos irrelevantes.

Guardei o DVD do filme como um troféu na estante. Coisa de garoto, um tanto exagerado, mas eu tinha 12 anos, ora. O que somos quando jovens, senão exagerados?

Pois bem, até que um certo dia eu passei na porta de uma papelaria próxima da minha escola e vi algo a chamar a minha atenção. Era um caderno de 12 matérias com a capa de Ayrton Senna. Custava uns vinte reais. Guardei dinheiro da merenda por uma semana para comprar o bendito caderno, rezando para ninguém fazer isso antes de mim. Até falei com a dona do local para reservar.

E assim foi. Uma semana depois, lá estava eu com os vinte reais para buscar meu caderno na maior felicidade do mundo. Tinha a foto do meu ídolo, do piloto que eu nunca vi correr ao vivo e em cores, mas admirava um bocado, sabia de cabeça as estatísticas da sua carreira e o que ele fez nas grandes corridas. É uma das melhores lembranças da minha infância.

O tempo passou, acabei perdendo o bendito caderno, mas a paixão pelo esporte a motor e a admiração por Ayrton Senna nunca foram embora. Muito pelo contrário. Daquela criança que se encantou pelo caderno do ídolo, virei um homem feito que continua acompanhando a F1. Vi o ídolo Vettel vencer quatro títulos mundiais, a consagração do gênio Lewis Hamilton com seu heptacampeonato e o surgimento do talentoso Max Verstappen. Quanta coisa desde aquele 2011, não?

Quem ama o automobilismo sabe admirar os grandes campeões. Reconhecer o talento alheio é modus operandi dos verdadeiros apaixonados pelo esporte. Mas é diferente para o brasileiro quando o assunto é Ayrton Senna. Ainda que exista certos exageros no seu julgamento, não dá para negar o quilate desse gênio. Amado por muitos, ídolo de uma nação, referência perpétua.

Meus parabéns, Ayrton Senna da Silva – seja lá em qual lugar você estiver. Aquele garoto não esquece jamais do caderno do ídolo.

Carlos Júnior
Teresina – PI

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