Tio Bernie e a demonização das montadoras na F1

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015 às 12:41

Bernie Ecclestone

Por: Corredor X

Só porque alguém importante faz uma afirmação – que é então repetida por muitos outros – não a torna verdadeira.

Há uma polêmica atual na F1 que estabelece que as montadoras em geral vêm e vão do esporte por caprichos próprios – e, por isso sua contribuição é meramente circunstancial. Claro, isso é impulsionado por um certo Bernie Ecclestone e tem sido enfatizado pela situação desesperada de seu ‘filho e herdeiro’ Christian Horner – que foi forçado a negociar com esses monstros durante meses por um acordo de fornecimento de motores.

Ecclestone tem ficado cada vez mais frustrado sobre sua incapacidade de determinar o caminho da F1 desde a nomeação de Jean Todt como presidente da FIA e da formação do grupo de estratégia da F1. Apesar do grupo de estratégia ser uma criação do próprio Bernie, ele percebe que as montadoras estão se unindo contra ele e controlando a forma como as suas equipes clientes votam tanto aqui como na comissão de F1.

Tendo falhado em forçar a Mercedes e a Ferrari a cortar o custo de suas unidades de potência dos V6 híbridos Turbo, Bernie e Todt lançaram a ideia de propor um motor “alternativo” para ameaçar esses dois gigantes do esporte, com o que supostamente poderia competir em termos de potência com a nova geração de híbridos.

Mercedes e Ferrari devidamente alinharam as tropas no momento da votação na comissão de F1 e a proposta do ‘motor unicórnio’ foi jogada fora. Em resposta Todt decidiu que a sua FIA ia fornecer a Ecclestone e a ele próprio um mandato para fazer o que quiserem – para o bem da Formula 1.

O motor alternativo tem dividido os fãs de F1 com muitos citando afirmações de Ecclestone de que as montadoras devem ser menos importantes, porque eles vêm e vão da F1 como bem entenderem.

No entanto, isto é realmente verdade?

A Ferrari está no esporte desde a sua criação em 1950. Este compromisso histórico para com o esporte, com ou sem razão, significa que eles já começam com uma premiação anual na região de USD 100 milhões.

A Mercedes se envolveu na F1 por apenas duas temporadas na década de 1950, mas entrou para o esporte adequadamente em 1994 como fornecedora de motores. Sua associação com Mario Illien e a Ilmor produziu o que agora é conhecido como ‘Mercedes AMG’, uma divisão de motores de alto desempenho mundialmente conhecida.

Então a Mercedes já completou 22 anos consecutivos de serviços para a F1.

A Renault é a terceira fabricante mais bem sucedida na Formula 1, e desde que entrou no esporte em 1977 ganhou mais corridas do que qualquer outra montadora, ou fabricante de motores. Desde 1977, a Renault esteve ausente da F1 apenas nas temporadas de 1987 e 1988. Eles têm estado sempre presente, quer como fornecedor de motores ou com a sua própria equipe de fábrica. Eles também têm dois campeonatos mundiais como construtores.

Das quatro montadoras atuais, a Honda pode ser considerada a mais irregular. Eles entraram na F1 como equipe fábrica em 1964 e saíram em 1968. De 1983 a 1992 eles forneceram motores para equipes independentes. Em 1993 o nome Honda desapareceu, mas eles continuaram dentro do esporte sob uma associação com a Mugen como fornecedora de motores.

O nome Honda retornou em 2000 para equipar as equipes BAR e Jordan e depois, em 2006, a Honda entrou como equipe de fábrica novamente. Deixou o esporte no final de 2008. A marca retornou em 2015 em parceria com a McLaren. Isto significa que ao longo dos 52 anos desde 1964, a montadora japonesa tem sido parte da Formula 1 por 31 anos.

Na verdade, com exceção da Ford, estas quatro montadoras formam a espinha dorsal do que a Formula 1 tem sido. 81% das vitórias na F1 foram conquistadas pelos motores da Ferrari, Ford, Renault, Mercedes e Honda.

Portanto, sugerir que o atual grupo de montadoras apenas vai e vem da Formula 1, é ridículo dado os fatos. Ecclestone precisa tomar mais cuidado para não prejudicar a sua reputação mês após mês com esse tipo de declaração.

Se Ecclestone e Todt conseguirem que um novo fabricante independente seja autorizado a produzir o motor alternativo, duas possibilidades permanecem.

A primeira delas é que, se o tal motor alternativo não conseguir igualar o poder dos híbridos, as corridas terão duas categorias – definidas por diferentes especificações de motor. Os circuitos de Grande Prêmio do mundo já viram isso antes, e foi chamado de Formula 1 e Formula 2.

A segunda é que, se o motor alternativo conseguir competir com os híbridos das montadoras, em seguida, as montadoras vão embora da Formula 1 e deixam para trás uma espécie de GP2 glorificada.

As montadoras não são incidentais à Fórmula 1 – são a espinha dorsal do esporte, e as atuais quatro têm muito tempo de serviço e conquistas que atestam isso.

Claro que assistir a Mercedes ganhando tudo pode ser chato, mas isso não é culpa da Mercedes. Claro que leva de dois a três anos para a Ferrari e o resto construírem híbridos que possam competir – mas isso também não é a culpa Mercedes. A demonização da Mercedes por vencer revela a falta de pensamento criativo para evitar esses períodos de domínio que vêm ocorrendo desde o final dos anos 80.

Domínio de motor não é novo na Fórmula 1, como a seguinte lista de vencedores dos últimos 30 anos demonstra:

Honda 1986-1991

Renault 1992-1997

Mercedes 1998

Ferrari 1999-2004

Renault 2005-2006

Ferrari 2007-2008

Mercedes 2009

Renault 2010-2013

Mercedes 2014-2015

Cada era de domínio durou em média pouco mais de três anos.

Há uma infinidade de ferramentas à disposição da FOM e da FIA para garantir que esses períodos em que uma fabricante é dominante sejam encurtados. Mas mudar o regulamento repetidamente não é a solução, e falar mal das montadoras – que são fundamentais para o DNA do esporte – também é dolorosamente estúpido.

Uma solução simples para prevenir eras de domínio é impor uma “taxa de sucesso” com o uso de lastro, assim como é e já foi feito em inúmeras categorias. Pode ser de corrida a corrida ou de ano para ano. Forçar a equipe vencedora a usar lastro incremental é tanto uma solução barata quanto eficaz.

No entanto, os puristas não querem essa interferência artificial nas corridas, por isso dão voltas e voltas em círculos – sem resolver o problema – com era após era de domínio na Formula 1.

Outra questão importante são as ultrapassagens. Mesmo com a introdução do DRS – que os puristas também consideram artificial – elas estão tornando-se mais difíceis e diminuindo ano a ano. Fala-se em aumentar as asas para 2017, o que vai piorar ainda mais esse problema. Sorte que algumas personalidades da F1 tem levantado suas vozes contra o aumento das asas. Efeito-solo, aliado a um aumento na largura dos pneus, seria a melhor solução.

AS - www.autoracing.com.br

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