Sobre estratégias desnecessárias

segunda-feira, 27 de setembro de 2021 às 12:35

Max Verstappen e Valtteri Bottas

Por: Bruno Aleixo

A discussão sobre primeiros e segundos pilotos em equipes não é nova, não traz nenhuma novidade, e estará na boca do fã de Fórmula 1 enquanto a categoria existir. E, claro, a indignação varia muito de acordo com os envolvidos em cada caso. Se forem brasileiros os prejudicados, cai o mundo por aqui. Se forem finlandeses, por exemplo, tudo bem. E ainda xingamos o cara se ele não “ajudar” como deveria.

Bom, o novo capítulo dessa novela sem fim ocorreu no último GP da Rússia. Valtteri Bottas liderou todos os treinos para a corrida. Mas, na classificação, acabou sendo vítima (assim como Lewis Hamilton) da demora da Mercedes em agir quando a chuva parou no Q3. Com isso, acabou se classificando em 7º e a equipe, talvez por entender que a vaca tinha ido para o brejo, decidiu trocar componentes de seu motor, jogando o finlandês para o final do grid. A desculpa não oficialmente declarada era de que o piloto poderia segurar Max Verstappen, que largava na última posição pelo mesmo motivo.

Bem, em primeiro lugar vamos ao óbvio: a Mercedes não infringiu o regulamento. Ela pode trocar o motor quantas vezes quiser, pagando a punição correspondente. Portanto, passemos a discutir a estratégia adotada e a posição de Bottas como piloto profissional.

Pessoalmente, não sou radicalmente contra estratégias de equipe em fase final de campeonato, quando um piloto tem chances e outro não. Valtteri Bottas tem o mesmo carro de Lewis Hamilton, mas fez muito menos pontos ao longo do ano. Colocou-se, portanto, na posição de escudeiro. Internamente, talvez nem haja muito como o piloto questionar a decisão da equipe, tendo em vista o fato de que jamais foi páreo para o companheiro em 5 temporadas de parceria.

Agora, a estratégia da equipe… Essa sim cabe malhar. Porque foi bem burra, na minha opinião. Bottas, largando em sétimo, já estaria na pista à frente de Verstappen de um jeito ou de outro. Com Max sentado em um carro da Red Bull, e tendo dado mostras mais do que convincentes de que não vai aliviar em disputas de posição, seria muito lógico que a Mercedes imaginasse que, em poucas voltas, ele já apareceria entre os 10 primeiros. Não faz, na minha cabeça, o menor sentido colocar Bottas 10 posições atrás para segurar o holandês, que passaria por cima, como fez, aliás.

Ao decidir deliberadamente tirar o finlandês de sua posição original conquistada, a Mercedes jogou no lixo a confiança de seu segundo piloto que não apenas claramente não segurou Verstappen, como ainda fez uma prova lamentável. Ora, não seria mais lógico mantê-lo em sétimo e deixá-lo com a missão de marcar Verstappen, sem precisar partir para a humilhação pública?

E é por isso que essas estratégias de equipe irritam. Em 2007, por exemplo, a Ferrari ordenou que Massa entregasse a vitória em Interlagos para Kimi Raikkonen, pois somente assim o finlandês chegaria ao título. Indiscutível. Essa mesma equipe, em 2002, mandou Rubinho entregar um GP da Áustria para Schumacher, que já estava em fase de escolher em qual prova seria campeão. Totalmente desnecessário.

Uma que poucos se lembram aconteceu em 1997. No GP do Japão, a Ferrari deliberadamente colocou Eddie Irvine na pista em posição adequada para segurar Villeneuve (Irvine andava muito em Suzuka). Funcionou, e Schumacher venceu a prova com o rival terminando apenas em 5º. Na corrida seguinte, em Jerez de la Frontera, a Williams mandou Frentzen perseguir Schumacher. Em três voltas perceberam que o alemão não daria conta do recado (oh!, que surpresa) e mandaram que ele deixasse Villeneuve ir atrás do adversário. Ao dispensar a estratégia burra e desnecessária, Jacques se mandou pra frente e o resto todos já sabem.

São decisões que me intrigam e, depois dessa palhaçada na Rússia, tenho dúvidas se Bottas vai se empenhar como deveria na disputa contra Verstappen e a RedBull. Talvez o tiro da Mercedes tenha saído pela culatra.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP
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