Sobre escrever a história

segunda-feira, 16 de novembro de 2020 às 11:37

Lewis Hamilton

Por: Bruno Aleixo

Me lembro bem quando Michael Schumacher igualou o recorde de Juan Manoel Fangio. Foi em um Grande Prêmio da França, em 2002, uma temporada na qual o alemão nadou de braçada, já que a Ferrari fez um foguete que era quase 2 segundos mais rápido que os adversários. Era um feito absurdo e improvável. Todos esperavam que aquela marca fosse ser batida por Ayrton Senna, mas o destino e a Tamburello mudaram tudo e Schumacher chegou lá, aos 33 anos e com muita carreira pela frente.

Ele ainda ampliou seu recorde, com mais dois títulos, em 2003 e 2004. Faria ainda uma temporada ruim em 2005 e uma muito boa, em 2006, perdendo o campeonato para Fernando Alonso, depois de uma disputa insana ao longo do ano. Saiu de cena, voltando à F1 três anos depois, mas em outro momento de carreira. Na minha visão, ninguém jamais chegaria de perto de fazer o que o alemão queixudo fez. Pelo menos não na minha geração.

Para minha enorme surpresa, não precisei esperar muito. Neste último final de semana, Lewis Carl Davidson Hamilton chegou ao heptacampeonato mundial, com uma vitória esmagadora na complicada prova de Istambul, na Turquia. Foi a sua 94ª vitória. Com o feito, Hamilton é o maior piloto de todos os tempos. Se é o melhor, aí vai da preferência de cada um, entre os multicampeões existem estilos variados de pilotagem, capazes de agradar a gregos e troianos. Mas, contra os números, não há argumentos.

E, da mesma forma como ocorreu há 14 anos, a pergunta agora também é relevante: aparecerá alguém capaz de superar o inglês? A resposta natural seria o mesmo não, proferido ao final da temporada de 2006, quando Schumacher deu o primeiro fim à sua saga. Mas não me arrisco. Ao contrário daqueles tempos, a F1 tem uma geração muito boa e promissora. Max Verstappen, Charles Leclerc, Lando Norris e George Russell parecem bem talhados para desafiar os números de Hamilton, mas isso depende de uma configuração que nem todos terão acesso.

Hamilton teve. Teve o melhor carro e a melhor equipe no auge da carreira. Assim como Schumacher também teve. O que não é nenhum espanto: ao longo da história, os melhores pilotos sempre estiveram sentados nos melhores carros, são raríssimas as exceções de gente que conseguiu emular o “Davi x Golias”. Prost em 1986? Sim, certamente. Senna, em 1991? Em parte: a McLaren não era mais rápida que a Williams, mas era mais confiável. Nem só de velocidade se faz um carro que é o melhor do grid. Revirando o baú, certamente aparecerão outros exemplos (nos comentários, certamente).

Muita gente não gosta de Lewis Hamilton, por causa de seu ativismo político. Direito deles. Cada um simpatiza com o que quiser, somos livres. São tempos estranhos nos quais nos revoltamos com quem busca questionar a desigualdade, ao invés de nos revoltarmos com a própria desigualdade, mas tudo bem. Além disso, é de se admitir que o próprio Hamilton despertou para a causa mais recentemente, o que não diminui em nada seu posicionamento atual. Se tivéssemos mais Hamilton’s no esporte, em geral, talvez a efetividade das mensagens fosse bem maior.

Da minha parte, só posso me considerar um privilegiado. Aos 40 anos de idade, pude ver Senna, Schumacher e Hamilton escreverem uma parte relevante da história do esporte a motor. Não é pouca coisa.

Bruno Aleixo
São Paulo – SP

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