Schumacher é fora de série – goste-se ou não
terça-feira, 20 de dezembro de 2022 às 13:22Colaboração: Carlos Junior
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Existe uma antipatia mal confessada nos fãs tupiniquins quando o assunto é Michael Schumacher. Não é algo novo na Fórmula 1, tampouco se falarmos dos nossos sentimentos: outros pilotos já ocuparam o posto inglório de inimigo nacional – Alain Prost talvez seja o maior exemplo.
Porém, o alemão ocupa um lugar de destaque no ranking dos odiados por aqui. Falo isso porque vi o vídeo feito por Reginaldo Leme sobre a trajetória de Schumacher e pude tirar a prova disso. Li comentários do tipo ‘’Schumacher não seria ninguém se Senna não tivesse morrido, ‘’era bom, mas trapaceava’’ e ‘’o karma veio de forma trágica’’ – esse me deu ânsia de vômito.
Tudo quanto é desculpa possível vale para desmerecer Schumacher. Como já disse em outros artigos, não sou pago para defender ninguém, mas algumas coisas precisam ficar bastante claras quando estamos falando da realidade dos fatos. E, no meu caso, de um esporte apaixonante como o automobilismo e uma categoria não menos cativante como a F1.
Deixemos as paixões de lado, pois. Interessa-nos a realidade.
A realidade dos fatos é imponente o bastante para não deixar dúvidas a respeito do talento de Michael Schumacher: 7 títulos mundiais, 91 vitórias, 68 poles positions, 155 pódios e 77 voltas mais rápidas. É um piloto que reescreveu a história da F1 ao escrever a sua. Antes dele, ninguém achava possível a superação do pentacampeonato de Juan Manuel Fangio. Schumacher fez isso de maneira tão avassaladora que parecia correr sozinho – outra desculpa constantemente levantada para desmerecer os seus feitos.
Os números não mentem – isso é óbvio. Mas, para além dos resultados e dos troféus na estante, existem os contextos. Toda vitória tem mérito, mas, em alguns casos específicos, ela tem um sabor especial que vem da dificuldade ser quase extrema. A F1 está recheada de exemplos do tipo.
Schumacher foi bicampeão na Benetton, equipe mediana que só chegou ao topo com ele. Fosse mérito exclusivo do carro, o time italiano poderia ter vencido outras vezes com pilotos diferentes. Não foi o caso. Além disso, ele venceu em 1994 a poderosa Williams com um ótimo carro – o FW16 teve seus problemas sanados nas férias – e uma FIA disposta a atrapalhar o seu caminho com punições bem questionáveis.
Com dois títulos mundiais no currículo, ele tinha a possibilidade de ir para qualquer equipe. Schumacher também poderia continuar na Benetton e vencer mais títulos, mas encarou um desafio gigantesco: reerguer a Ferrari e tirar a escuderia de uma fila que já durava 17 anos. Não seria simples. A própria carreira estava em risco. Mas o alemão abraçou o projeto.
Os resultados não vieram do dia para a noite. O carro absurdamente superior – argumento sempre utilizado para questionar seu talento – não caiu do céu. Da chegada na Ferrari até o primeiro título foram cinco temporadas. Isso é um tempo precioso para qualquer atleta profissional, ainda mais um piloto de F1. Mas Schumacher não se importou com os percalços, as derrotas e até mesmo as contestações advindas da própria equipe. Lutou, deu o melhor de si e conseguiu recolocar a escuderia mais tradicional da categoria no topo.
Se depois do tri em 2000 as coisas encaixaram perfeitamente, antes disso a coisa foi bem diferente. E ainda assim as provas de que Schumacher era um piloto fora de série foram dadas para quem quis ver. O que ele fez no GP da Espanha de 1996 não foi normal: com um carro ruim e debaixo de muita chuva, venceu pela primeira vez na Ferrari contra pilotos com máquinas bem melhores. Ganhar com aquele tenebroso F310 mostrou que ele era de outra prateleira.
Os cinco títulos seguidos pela Ferrari foram a confirmação de tudo o que já se sabia. Superar Juan Manuel Fangio era impensável, mas Schumacher conseguiu. Retirou-se das pistas no auge, e se não fosse pela quebra em Suzuka, teria conquistado o octacampeonato em 2006.
Voltou em 2010 para pagar uma dívida de gratidão com a Mercedes, responsável pelos seus primeiros passos como piloto antes da F1. Não era mais aquele dos tempos dourados, mas foi importante para a construção das bases que resultaram na hegemonia da era híbrida. Se vimos a consagração de Lewis Hamilton nas flechas prateadas, devemos dar crédito também a Michael Schumacher.
É isto, senhores: Schumacher é uma lenda – na humilde opinião do autor destas linhas, o maior da história. O público brasileiro enxerga nele um vilão e responsável pelas nossas desgraças na F1, aquelas coisas tipicamente passionais e sem sentido. Se ele é sujo por ter jogado o carro em Damon Hill, o que é Senna por ter feito pior com Alain Prost no GP do Japão de 1990? Se Rubens Barrichello teve o mesmo carro que ele durante seis anos e não conseguiu um título sequer, não foi por culpa da Ferrari e um complô inexistente para ferrar com Rubinho. Foi porque Schumacher é melhor. Ponto final.
Goste-se ou não dele, Schumacher é fora de série.
Carlos Júnior
Teresina – PI
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