Sacha Fenestraz e Johann Aime: a dupla de novatos da Equipe Nissan na Fórmula E

sábado, 6 de janeiro de 2024 às 9:00

Nissan e.dams

Antes do início da décima temporada do Campeonato Mundial ABB FIA Fórmula E, Sacha Fenestraz, piloto da equipe Nissan de Fórmula E, e Johann Aime, seu engenheiro de corridas, falam sobre sua primeira temporada na categoria. Os dois novatos se conheceram há um ano, quando formaram a dupla para estrear na Fórmula E, dando início a uma trajetória em território desconhecido para ambos. Juntos, encerraram recentemente a primeira temporada de suas vidas, marcada por altos e baixos e várias lições.

Como foram as primeiras experiências juntos? 

Sacha: “Eu estava um pouco assustado! Fizemos os testes de pré-temporada juntos na Espanha, eu não sabia de antemão que seria o Johann, mas tinha uma ideia. Os resultados dos testes foram bons, mas o Jojo não estava olhando muito para o notebook e isso me confundiu um pouco! Depois ele me contou que o notebook não estava funcionando muito bem e só então entendi o que estava acontecendo”.

Johann: “Fazia aproximadamente uma semana que eu estava na equipe, o meu notebook estava lento e não funcionava direito com o software de dados, mas eu estava fazendo todo o possível para ajudar o Sacha! Foi uma boa semana durante a qual aprendemos a trabalhar juntos. Construímos uma relação sólida desde o início”.

Vocês acham que é importante ter uma boa relação engenheiro-piloto fora das pistas?

Sacha: “Acho que é fundamental. A relação fora da pista é muito importante porque quando estamos no circuito, trabalhamos muito próximos, compartilhando informações e passando muito tempo juntos, por isso precisamos ter realmente uma base sólida de confiança, em ambos os sentidos. Sempre me esforço para ser o mais honesto possível, fortalecendo a confiança do Johann desde o primeiro dia para começar a desenvolver e fazer crescer essa relação”.

Johann: “Concordo, acho que é importante ter esse vínculo para existir uma confiança mútua e permitir que o outro esteja 100% motivado e concentrado em seu trabalho. Se a relação entre piloto e engenheiro não é boa, nenhuma das partes entrega o seu máximo”.

Quais foram os momentos mais desafiadores durante a temporada de estreia dos dois?

Johann: “A primeira corrida da temporada no México foi obviamente o momento mais desafiador do ano”.

Sacha: “Eu queria conferir a nossa comunicação por rádio; eu estava perdido e não sabia o que fazer”!

Johann: “Eu também! Isso é curioso, você estava perdido no carro porque eu estava perdido nos boxes. Todo mundo estava falando comigo e me dizia que o Sacha tinha que consumir menos energia. Falei isso para o Sacha e ele me perguntou como devia fazer isso; foi difícil para nós dois”.

Sacha: “Foi uma boa lição. Foi ainda mais desafiador porque nós dois estávamos aprendendo. Para mim, o momento mais duro da temporada foi perder o pódio da Cidade do Cabo na última volta. Acho que certamente teríamos conseguido, mas na Fórmula E precisamos aproveitar ao máximo cada oportunidade, porque ser rápido um dia não significa que você será rápido no dia seguinte”.

Qual foi o melhor momento de vocês trabalhando juntos este ano?

Sacha: “Do ponto de vista da engenharia, talvez seja um pouco diferente, mas para mim foi a pole na Cidade do Cabo; foi mais significativo para mim do que a classificação em Mônaco, então eu que diria que foi essa”.

Johann: “Fico em Mônaco porque esse circuito é muito especial. Fazia vários anos que eu não trabalhava ali; isso me trouxe algumas recordações. É toda uma atmosfera, a pista, é Mónaco – simples assim! Do meu ponto de vista como engenheiro, a Cidade do Cabo foi mais uma atuação do piloto e Mônaco mais um trabalho de equipe. E tivemos o Norman com a gente na frente do grid, então foi uma grande corrida para toda a equipe”.

Vocês estão satisfeitos com o os progressos que conquistaram juntos nesta temporada?

Johann: “Pra falar a verdade, eu diria que sim e não. Começamos com uma base sólida só pelo ritmo de uma volta do Sacha, mas na segunda metade da temporada não avançamos como gostaríamos. A resposta é sim porque começamos lá atrás, melhoramos rapidamente e nos tornamos mais competitivos desde a Cidade do Cabo em diante; mas eu também diria que não, porque depois dessa corrida e de perdermos o pódio foi um pouco mais complicado continuar avançando”.

Sacha: “Eu estou satisfeito com nossos progressos e concordo com o Jojo sobre a questão da Cidade do Cabo. Tivemos um grande fim de semana lá e fomos competitivos, mas depois dessa prova não evoluímos tanto como antes. Mesmo assim, nós crescemos no decorrer da temporada. Obviamente cometemos erros, mas estamos aprendendo e nos acostumando a várias coisas”.

O que vocês pretendem melhorar na próxima temporada? Já têm algum objetivo para a temporada 10?

Johann: “Essa é bastante fácil; eu diria que o objetivo da temporada 10 é vencer uma corrida. Vamos melhorar nossa regularidade, sabemos que o Sacha é capaz de chegar à pole e conquistar bons resultados na classificação. Estamos ganhando mais experiência nas corridas, então só temos que encontrar nosso ritmo e os resultados irão aparecer”.

Sacha: “Não tenho muito que acrescentar; concordo totalmente que a regularidade está em primeiro lugar para nós. A partir disso, os bons resultados vão chegar automaticamente. É muito importante criar confiança com o carro e saber o que esperar; o nosso objetivo é terminar entre os usuais cinco primeiros colocados”.

Vocês vão trabalhar juntos na baixa temporada? E o que vão fazer?

Sacha: “Durante a baixa temporada temos muito trabalho para fazer e analisar o que aconteceu durante o ano. Tivemos muitas corridas consecutivas e muitas informações para assimilar. Da minha parte, também preciso ver onde posso melhorar, sempre temos alguma coisa para melhorar como piloto. Com certeza vamos analisar a gestão da energia juntos”.

Johann: “Me parece um ótimo plano”!

Como vocês se comunicam durante o fim de semana? 

Johann: “É claro que nos falamos muito. A sensação do piloto vale mais do que todos os dados que temos. Fazemos de tudo para que o Sacha esteja o mais confortável possível com o carro antes de se instalar no cockpit, então nós dedicamos muito tempo conversando sobre o que vai acontecer na próxima corrida, revisando os cenários e as táticas. Isso exige muita comunicação, por isso precisamos conversar muito”!

Sacha: “No México eu pedi para ele ficar quieto e logo depois pedi para ele falar mais porque ele não estava se comunicando o suficiente”!

Johann: “Não, isso não foi México, foi em Diriyah! Tinham se passado uns 30 segundos entre as duas instruções. Eu já trabalhei com inúmeros pilotos e todos têm exigências diferentes. É difícil descobrir as necessidades logo de cara; normalmente nos entendemos melhor com o decorrer da temporada, dependendo da situação”.

Sacha: “Voltando à sua pregunta, acho que a comunicação é extremadamente importante e não é um grande problema para nós agora. Aprendemos a nos entender mais com o decorrer desta temporada. Fazemos isso nos sentando juntos, ouvindo as comunicações por rádio e explicando o que poderíamos ter feito de diferente, analisando cada situação. Ter uma boa comunicação é uma grande vantagem, pois sempre teremos momentos difíceis, mas acho que quase já conseguimos isso”.

Johann: “Concordo com ele. Não somos perfeitos, mas aprendemos rapidamente juntos. A nossa comunicação e a forma como nos entendemos ficou melhor a partir da prova de Hyderabad. Ainda temos coisas pra melhorar, mas isso é normal”.

Como vocês se apoiaram mutuamente na adaptação para a Fórmula E? 

Sacha: “Eu acho que já sei o que ele vai responder! Ainda estamos melhorando isso, estamos aprendendo como dupla. Por exemplo, em Roma complicamos tudo falando demais pelo rádio; precisamos melhorar isso juntos. Algumas coisas sobre as quais conversamos vão mudar no próximo ano e algumas delas eu vou trabalhar um pouco mais por minha conta”.

Johann: “O mais importante é a comunicação e também a honestidade. A comunicação não tem sentido se você não é honesto. Então, se tem alguma coisa que estou fazendo errado, quero que o Sacha venha e me fale; temos que falar tanto sobre as coisas boas como sobre as ruins para melhorarmos juntos. Também temos que ouvir e assimilar o que cada um diz, e acho que fizemos isso bem em nossa primeira temporada juntos. É um grande desafio ter um piloto e um engenheiro novatos, mas fizemos isso dar certo da melhor forma possível”.

Qual foi o maior desafio para vocês dois quando entraram para a Fórmula E?

Johann: “O engenheiro tem que enfrentar muitos desafios quando entra na Fórmula E. Um dos aspectos principais é a complexidade dos sistemas do carro; eles são bem difíceis de aprender, o que complica as coisas ainda mais. Em segundo lugar, demora algum tempo para se adaptar a uma equipe tão grande. É difícil como engenheiro de corridas, porque você trabalha como elo entre o piloto e a equipe. Demorou até a gente se acostumar, mas trabalhamos isso como equipe e nos desenvolvemos com o decorrer da temporada”.

Sacha: “Como piloto não existe outra opção – apenas se adaptar rapidamente. O maior desafio foi no aspecto da gestão da energia, que era uma coisa totalmente nova para mim. É muito diferente das categorias anteriores em que competi”.

Vocês têm alguma história engraçada para contar um do outro?

Sacha: “Acho que a melhor história foi quando gritei tão alto pelo rádio que o Jojo teve que ir ao médico para ver se estava tudo bem com o ouvido dele e, na verdade, tinha algo errado mesmo. Acho que foi quando me irritei em Hyderabad depois de terem me tirado da corrida. Foi até publicado nas redes sociais da Fórmula E e eu não me reconheci”!

Johann: “O médico confirmou que tinha água dentro do meu ouvido graças ao Sacha”!

Sacha: “A segunda foi quando colidi contra o muro na classificação da Cidade do Cabo – eu falei que o carro estava danificado, mas acabamos conseguindo a pole. Acho que foi uma das melhores conversas de rádio da temporada”.

Johann: “Se eu pudesse fazer uma citação de uma linha do Sacha seria: ‘Jojo, fala comigo’! Primeiro ele pede informações, mas se eu falo na hora errada ele me manda ficar quieto de novo”!

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