Rádio: O silêncio que transformaria o mundo da F1

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013 às 16:59
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Christian Horner dizendo a seus pilotos o que devem fazer

O rádio tornou-se uma parte fundamental das táticas das principais equipes de F1. No texto abaixo, uma análise do que aconteceria se esse recurso fosse proibido.

Os críticos da F1 sempre desejam soluções rápidas e imediatas para tornar a categoria mais atraente. Seja em regulamentos com menos detalhes técnicos fazendo com que de alguma forma a aerodinâmica seja irrelevante para um carro em movimento, substituir o fornecedor de pneus ou ter dois fornecedores, novos motores, ou seja, há sempre alguma solução que pareça fácil

A fórmula é simples. Coloque as variáveis x, y, z e defina uma solução que você acha que daria certo na F1 moderna e, em um simples passe de mágica, as corridas passariam a ser exatamente como você gostaria que fosse. É claro que, na mente da maioria das pessoas, algumas soluções resolveriam todos os problemas da categoria, tornando as corridas mais interessantes para o público. Mas é muito raro que uma simples mudança tenha o efeito esperado, exatamente por conta de toda a tecnologia envolvida atualmente.

Para que isso aconteça, seria preciso descartar todo o regulamento atual da F1 e começar tudo do zero, de uma forma que o piloto voltasse a ser a peça mais importante da categoria, ou seja, somente ele teria o poder de tomar todas as decisões durante uma corrida sem a influência da equipe, o que hoje ocorre numa escala altíssima.

Uma das principais críticas à F1 moderna é que ela se tornou extremamente previsível e técnica, onde os pilotos devem economizar pneus, seguindo as instruções da equipe através do rádio, além de estratégias feitas cuidadosamente informando em qual volta o piloto deve ir para os boxes realizar seu pit-stop.

Deixando um pouco de lado o argumento de que as corridas estão extremamente técnicas, para não mencionar o fato de que em verdade elas sempre foram, existe uma maneira simples que poderia transformar a natureza das corridas sem realizar mudanças técnicas nos carros, ou seja, estamos falando de simplesmente proibir um recurso que está deixando o piloto correndo como se fosse um robô recebendo ordens em todas as voltas. Estamos falando de proibir os rádios.

Mas esta solução não é tão simples assim, pois imaginem também proibir todo o recurso de telemetria, onde a informação sai dos boxes indo diretamente para os carros e, essa informação volta para as equipes informando tudo o que está acontecendo no carro em tempo real faria uma grande e enorme diferença.

Então, vamos imaginar que somente toda a informação verbal para o piloto é proibida pela FIA. Quais seriam as consequências? Antes de mais nada, vamos a um estudo de caso.

Há um debate no ciclismo profissional sobre o uso de rádios. Nos grandes eventos que compõem o “Top-Tier”, “UCI WorldTour”, como o “Tour de France”, existem críticas de que os diretores esportivos das equipes de ciclismo andam “gerenciando” as corridas por estarem em constante comunicação com seus pilotos. Mas há muitas corridas profissionais de ciclismo em que a comunicação por rádio é totalmente proibida.

Agora imaginem como seria a F1 se a FIA realmente proibisse totalmente o uso dos rádios durante os testes de pré-temporada e durante o decorrer do campeonato. Já começaria pelo fato de que a pré-temporada seria muito mais valorizada, pois os pilotos teriam que analisar e entender durante as voltas todas as reações do carro e memorizar em que pontos da pista o carro está com menos aderência, onde o carro está saindo de frente, traseira, onde a tração não está ocorrendo de forma perfeita. Após memorizar tudo isso, ele teria que chegar no pit e lembrar de todos esses detalhes para que seu engenheiro tenha condições de trabalhar no acerto do carro, melhorando a performance. O piloto nesse caso seria obrigado a ter uma memória fotográfica, pois sem a comunicação pelo rádio, ele não tem como informar a equipe em tempo real de como está o comportamento do carro.

Isso é apenas uma ilustração de como seria o drama esportivo da F1 sem as linhas de comunicação entre equipes e pilotos. Efetivamente, os pilotos estariam por conta própria para realizar a gestão dos pneus de forma eficiente, saber quantas voltas o pneu irá durar e que tudo isso não seria mais baseado em informações reais informadas pelas equipes durante as corridas.

Porém a complexidade dos novos motores turbos de 2014 faz com que o rádio seja um enorme aliado para os pilotos, embora a equipe irá gerir a maior parte do fluxo de energia e de combustível remotamente, ou seja, o rádio poderia ser proibido sem problemas, pois o que os engenheiros não poderiam fazer nessa questão é informar ao piloto como está o consumo do combustível e qual a potência deve ser usada pelo turbo. Uma consequência disso é que algumas das funções anteriormente gerenciadas pelo engenheiro seria delegada totalmente ao piloto que voltaria a ter um papel fundamental na corrida.

Isso se tornaria mais difícil para equipes e pilotos em realizar as estratégias antes das corridas, o que resultaria em maiores disputas e maiores incertezas do que cada piloto está fazendo. Haveriam estratégias totalmente diferentes de pit-stop entre os pilotos e, no caso de uma corrida que começou com pista seca e começou a chover, o piloto teria que decidir qual o melhor momento para ir aos pits. Além disso, as equipes seriam surpreendidas, pois o piloto não teria como avisar que estaria entrando nos boxes para realizar a troca de pneus slicks por pneus de chuva. Então, dá pra perceber o quanto o rádio é um fator determinante nas corridas atualmente.

O que ocorre atualmente é que os pilotos nada mais são do que peões sendo movidos em torno de um tabuleiro de xadrez asfaltado, por uma equipe de engenharia. Enquanto esse recurso continuar existindo o talento do piloto é menosprezado, pois a habilidade de um notável grupo de pilotos, é mascarada pelas regras do esporte.

Inevitavelmente, ao longo do tempo alguns pilotos aprendem a realizar a leitura da corrida melhor do que outros, quando esses estão por sua própria conta e risco, ou seja, quando por alguma razão o rádio entre piloto e equipe não funcionam.

Existem algumas desvantagens para as equipes e pilotos se essa mudança realmente entrasse em vigor, mas oferece muitas possibilidades interessantes. Efetivamente, a tecnologia nos carros não seriam muito restrita pela capacidade de um piloto, mas ele teria que aprender a trabalhar apenas com a informação passada para ele na boa e velha placa utilizada pelas equipes quando o piloto passa completando a volta.

Para muitas pessoas, os pilotos são o coração desse esporte. Elas querem ver o piloto ser capaz de tomar todas as decisões durante uma corrida e, ao final dela, seja ele ganhando ou perdendo, tudo foi feito pela sua própria iniciativa e não da equipe como é feito hoje.

Isso não significa que a proibição do rádio é a melhor das soluções para a F1, mas é o tipo de mudança de regra que tem o poder de transformar realmente as corridas muito mais do que qualquer mudança técnica no regulamento.

Com relação a segurança dos pilotos, um canal de comunicação emergencial teria que estar disponível. Dessa forma os pilotos poderiam então, ser avisados de todos os problemas que estão ocorrendo na pista, como por exemplo um grave acidente.

Isto seria suficiente para tornar a F1 muito mais interessante para o público e, os regulamentos teriam que ser muito bem redigidos informando o que poderia ou não pode ser dito via rádio pelas equipes, ou seja, somente em questão de emergência e segurança para os pilotos e nada mais. As mensagens codificadas também seriam proibidas. Da mesma forma, poderia ser argumentado que os pilotos também devem ser capazes de informar a equipe sobre qualquer problema que esteja enfrentado no carro, o que poderia ser feito através de uma forma não verbal, ou seja, um gesto com a mão e etc. Isso seria perfeitamente aceitável.

Proibir totalmente a comunicação via rádio seria regressar no tempo, o que significa que não é necessariamente certo. Mas se as pessoas realmente querem ver os pilotos sendo mais capazes e os donos de toda a situação durante uma corrida, é uma solução que eu acredito ser a melhor. Certamente, vale a pena dizer ainda que as equipes seriam as primeiras a ir contra contra essa regra, porém se a FIA decidisse realmente proibir esse recurso, ele teria o potencial de transformar a F1.

Edd Straweditor de F1 do site Autosport
Tradução: Alexandre Costa

AS - www.autoracing.com.br

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