Que mundo cruel

segunda-feira, 18 de abril de 2011 às 20:17

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Fernando Alonso e Bernie Ecclestone

 

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A corrida deste domingo, o Grande Prêmio da China, foi das melhores que a Fórmula 1 já viu, não foi?

Além da altíssima qualidade do espetáculo, desde as provas de classificação até a última volta da corrida, o fim de semana teve ainda o benefício de declarações inesperadas, mas não surpreendentes.

Teve o Lewis Hamilton exortando a McLaren a lhe dar um carro em condições de vencer, sem saber que já tinha um esperando por ele nos boxes. Teve o Button parando nos boxes da Red Bull para trocar os pneus de seu McLaren; e teve também o saboroso comentário de Christian Horner sobre a gafe do Button nos boxes.

Será que o Hamilton e o Button não ficaram impressionados com a decisão da McLaren de gastar 160 milhões de dólares para manter seus pilotos por mais seis anos? Eu fiquei. São 15 milhões de dólares por ano para cada um; 1 milhão e 250 mil dólares por mês; 41 mil e 666,66 dólares por dia. Quer fazer por corrida? Vamos lá: 750 mil dólares por fim de semana, 250 mil dólares por dia de treino e mais 250 mil a cada domingo passado no luxo e no conforto dos mais sofisticados autódromos do mundo.

E o Hamilton chega à China dizendo que sua lealdade à McLaren tem limite. E o Button erra e pára nos boxes da Red Bull. Horner não perdoou. “Isso mostra que ele está louco para correr pela Red Bull”. Bom, isso é lógico. Ele, o Hamilton, o Felipe Massa e o resto do mundo. Os únicos que não sonham com um lugar na casa dos touros vermelhos são o Vettel e o Webber, que já estão lá. Por sinal, nesse domingo o Webber mostrou como o carro é bom. E que ele vai ficar agarrado no seu, tipo “ninguém tasca, eu vi primeiro”. Aliás, que corrida fez o australiano. De 18º no grid a 3º na bandeirada, com direito a uma passada dura de engolir exatamente no Button. Dois coelhos com uma só  cajadada. Well done, mate…

Boas essas declarações, não? Também gostei. Mas a minha preferida foi a do Fernando Alonso já depois da corrida – que ele classificou como um passeio monótono. Depois de ser batido na largada pelo Felipe Massa pela terceira vez em três corridas (e dessa vez ficou atrás até o fim), o espanhol disparou sua metralhadora giratória com o mesmo ímpeto com que já tinha fuzilado o carro da Ferrari.

“Isso não é correr, é dirigir em círculos. O ritmo é lento demais”. Fiquei cismado. Na minha cabeça, ele largou mal e complicou sua corrida. Para piorar, tomou um soberbo couro do Schumacher. OK, não vou discutir os sete títulos e as 91 vitórias do Schummy, mas convenhamos que as glórias de sua carreira estão todas em um passado encerrado em 2006. Neste seu retorno, o que ele conseguiu de melhor foram três quartos lugares em um total de 22 corridas. E, claro, a surra que ele deu no Alonso no domingo. Parecia de volta aos velhos e bons tempos.

Fico imaginando até que ponto essas reclamações têm a ver com o crescimento do Massa. Que parece ter voltado a ser o piloto aguerrido que havia sumido desde o GP da Hungria de 2009. Confesso que fiquei empolgado com a corrida dele na China; na verdade, já havia gostado muito daquela defesa de posição que ele fez diante dos ataques do Button na Austrália. Pena que a Ferrari, mais uma vez, seguiu a estratégia errada.

Não, não quero bancar o profeta do passado. Sim, claro que já errei em minhas escolhas, mas graças a Deus não com a freqüência com que Stefano Domenicali e companhia bela vêm errando. Como dizíamos nos meus tempos juvenis, eles não dão uma dentro. E dessa vez, quando erraram ampla, geral e coletivamente, o Massa deu um pau no Alonso. Daí o espanhol botar a boca n mundo. “Esses pneus isso, esses pneus aquilo, isso não é corrida, isso é um passeio”. Ou será que o motivo de tanta zanga foi pelo boxe não ter dado nenhuma ordenzinha safada?

Acho que, antes de criticar os pneus, o Alonso devia consultar o Hamilton. Que também desceu a lenha na Pirelli desde a pré-temporada até o GP da Malásia. Mas na China ele mostrou que tinha aprendido a lição. Guardou um jogo zero quilômetro de pneus macios, mesmo que para isso tenha feito apenas uma volta voadora no Q3 enquanto Button e Vettel fizeram duas tentativas de tempo. Assim, Hamilton montou um arsenal pneumático para a corrida. Com um jogo novo de pneus macios, outro ainda em ótimo estado, ele ainda dispunha de dois jogos de pneus duros novos. Resultado: andou forte o tempo que quis, fez três trocas e venceu a corrida com um pé nas costas. Deve até ter ficado constrangido quando encontrou os engenheiros da Pirelli, aqueles mesmos que ouviram pacientemente suas queixas lá em Barcelona, na Austrália e na Malásia. Nada como um dia atrás do outro.

Foi nisso que pensei ao me inteirar das queixas do Alonso. Alguém por favor pode lembrar a ele que todos outros 23 pilotos usam os mesmos pneus? E se alguns andaram e chegaram à frente dele é porque deve ter alguma coisa que eles sabem fazer que ele ainda não aprendeu.

Dura essa vida de estrela. Pelas queixas do Alonso, acho que ele seria mais feliz se vendesse pipoca na frente de uma escola de periferia. Faz pouco tempo, o pobrezinho chegou a uma ilha sei lá em que paraíso tropical e logo se viu ameaçado por uma quadrilha de fotógrafos que virou para ele e sua amada uma amedrontadora bateria de câmaras.

Diante de tamanha afronta, ele não teve outra saída a não ser ameaçar a ilhota com sua maldição eterna. O pior é que o mundo inteiro riu dele. Pouco mais tarde, a namorada tomou umas bolachas de uma dona de casa que se sentiu nesse direito apenas porque la chica (que me passa a nada sutil impressão de ser um porre) invadiu seu lar para arrancar de um fotógrafo a máquina fotográfica com que ele, ofensa das ofensas, ousara fotografá-la andando de bicicleta em plena via pública. Insuportável, não?

Por muito pouco, Don Alonso não despejou sobre a ilha, lá do alto do trono que ocupa no Olimpo de sua imaginação, uma chuva de raios. Pena que pipoqueiro de periferia não ganhe dezenas de milhões de euros por ano para guiar um dos carros que todos homens do mundo sonham um dia guiar. Se ganhasse, tenho a impressão de que o atribulado Fernando Alonso trocaria de profissão ainda hoje, já que ontem é impossível.

Por seu lado, o arrependido Hamilton passou a adorar os frágeis Pirelli, de vida tão breve. Essa mudança ficou nítida principalmente depois dele descer do pódio da China.

E, diga-se a bem da verdade, a Pirelli assim os fez, macios e de vida breve, para atender a um pedido da FOM, uma das empresas que Bernie Ecclestone criou para administrar os direitos comerciais da Fórmula 1 e confundir autoridades quando necessário for.

Aliás, nesses dias, necessário tem sido. Não é que sua excelência, quando era esperado na China, estava em Munique, na Alemanha? Segundo ele mesmo, ajudando os promotores locais a deslindar um caso de propina. É isso mesmo, um desonroso caso de um banqueiro em que, sabe-se lá porque, seu nome aflorou. Era a investigação da compra dos direitos comerciais da F1. Um certo Gerhard Gribkovski teria aceitado uns 50 milhõezinhos de libras esterlinas para desvalorizar as ações que a CVC estava comprando do banco em que ele trabalhava, o BayernLB.

É, são aqueles direitos comerciais da F1 que o Bernie comprou da FIA pelo pouco costumeiro prazo de um século. Sim, foi no período em que, entre uma chibatada e outra, o brother Max Mosley presidiu a digníssima entidade máxima do automobilismo mundial, La Fédération Internacionale de l’Automobile. Não, não aceredito que na ocasião o Mosley estivesse seu adorado uniforme de oficial nazista. Aliás, por que estaria? Até onde eu sei, ele o reserva para momentos de prazeres mais, digamos, íntimos.

Teve jornalista debochando do comunicado de imprensa em que o Bernie, santa figura, explicou seu séjour germânico. Ô raça.

Por que será que tanta gente duvida das explicações do Bernie e das reclamações do Alonso? Será que ao longo de tantos anos esses senhores não mostraram como estão acima dessas mundanas puerilidades? Logo eles, os mais legítimos presentes de Deus para esse comezinho mundo automobilístico? Quanta ingratidão.

Só faltavam mesmo esses promotores importunando um e esse tal de Felipe Massa andando na frente do outro.

Ah, mas é só por causa desses pneuzinhos. E ainda vem esse descarado desse Lewis Hamilton mudando de lado. Só porque aprendeu a usar esses pneus molezinhos da Pirelli.

Quanta crueldade, não?

PS: Não, não vou criticar a corrida do Rubinho Barrichello. Achei que, para o equipamento que tem, até que ele foi bem. Quem parece que não vai bem é o diretor técnico, o australiano Sam Michael. Ele assumiu o posto no meio de 2004, substituindo o consagrado Patrick Head. Foi o ano da última vitória da equipe. Quem está ameaçando o lugar dele é o Adam Parr, o super executivo da Wiiliams. Aliás, já me sussuraram ao pé do ouvido que o temperamento intransigernte do tal do Parr é ímpar. Ele é apontado como o causador do afastamento de alguns patrocinadores com seu jeito ranzinza. Mas é ele quem manda, e como a corda sempre quebra no lado mais fraco, take care, mate…Não, acho que não vai adiantar nada alegar que sem dinheiro não tem carro vencedor. Principalmente para quem fez o dinheiro sumir porta afora…

Lito Cavalcanti

AS – www.autoracing.com.br

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