Produto que não gera lucro não existe no capitalismo

Dovizioso x Marquez – Áustria 2019

Por Adauto Silva

Estou vendo um monte de gente falar em dinheiro público na transmissão da MotoGP. De onde tiraram isso?

Vou ter que entrar numa seara que não gosto, até porque o Autoracing é um site de esportes a motor e nesses 20 anos só falamos sobre isso aqui. Mas o brasileiro infelizmente tem um pensamento binário, portanto para explicar o porque da MotoGP e da Indy não serem mais transmitidas pela TV brasileira a partir desse ano, sou obrigado a isso, que supostamente deveria ser bastante óbvio para a maioria da população.

Em primeiro lugar é bom deixar muito claro que tanto a MotoGP quanto a Indy são ótimos produtos, excelentes para dizer a verdade! Mas sem audiência relevante no Brasil eles se tornam inviáveis.

Agora voltemos à primeira frase desse texto: Não existe nem nunca existiu dinheiro público para transmitir a MotoGP. Todos os patrocinadores sempre foram empresas privadas. Nem na F1 com exceção da Petrobras, mas quando ela saiu tinha uma fila de empresas privadas para o lugar dela. O problema é que a esmagadora maioria dos brasileiros só gosta de futebol, muitos só do seu próprio time de coração.

Graças a Deus ainda existe um bom nicho que gosta de Formula 1 – muito por causa de Emerson, Piquet e Senna -, por isso a temos e com o luxo de ser em TV aberta, porque na esmagadora maioria dos países que a transmitem, só fazem isso em TV paga. Mas aqui no Brasil temos a F1 em TV aberta apenas e tão somente porque a Globo consegue vender as 6 cotas de patrocínio da F1 por cerca de 96 ou 98 milhões e reais cada uma!

O Brasil vive uma enorme recessão desde 2014 e o setor de publicidade é um dos que mais sofre porque a maioria dos empresários brasileiros acha que publicidade é “luxo”, e não uma ferramenta das mais poderosas para vender seus produtos e serviços, ainda mais em tempos de recessão, quando como a maioria não anuncia, os poucos que anunciam “nadam de braçada”, uma vez que não tem concorrência anunciando também.

Um bom exemplo é o Magazine Luíza, que desde 2015 investiu pesado em publicidade, aumentou exponencialmente suas vendas e hoje vale 350 vezes mais que em 2014, ou seja, uma das poucas exceções num mar de empresários que não tem a menor ideia do que a publicidade bem feita pode fazer por eles.

A Band desistiu da Indy não porque ele são “malvados” e não gostam da categoria, mas sim pela mesmíssima razão de não ter audiência suficiente para atrair os poucos patrocinadores nacionais que ainda existem no pais. Sem patrocinador, como alguém paga os direitos de transmissão?

Isso é o “beabá” de qualquer empresa no sistema capitalista, o melhor já inventado até hoje, mas que o Brasil sempre teve seríssimas dificuldades em aplicar. Se você tem uma padaria e alguns de seus produtos não vendem, ou você tenta melhorar sua qualidade e os promover, ou você simplesmente tem que tirar aqueles produtos de linha. Isso serve para qualquer tipo de empresa de qualquer ramo em qualquer país capitalista. Inclusive, é por isso que a F1 está mudando o regulamento em 2021, para tornar o esporte economicamente viável para todas as equipes, aumentar a competitividade e com isso chegar em seu objetivo final, que é aumentar a audiência global.

Todos os veículos de comunicação estão sofrendo com queda vertiginosa de faturamento desde meados de 2014, inclusive o Autoracing, que nunca teve publicidade direta de alguma empresa pública.

O horizonte? Bem, isso está bastante turvo. Se deixarem e apoiarem o gênio Paulo Guedes trabalhar impondo uma política econômica e monetária liberal (que não é esquerda nem direita), e o herói Sergio Moro continuar melhorando a segurança pública (sim, isso impacta muito no crescimento, sem falar na segurança jurídica), o Brasil tem tudo pra sair da crise e voltar a crescer com sustentabilidade.

De outra maneira, a melhor saída é o aeroporto ou a rodoviária internacional mais próxima.

Adauto Silva
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