Precedente perigoso para a Fórmula 1

terça-feira, 3 de agosto de 2021 às 16:37

Batida na primeira curva – GP da Hungria

Colaboração: Simon C.

O mundo da Fórmula 1 passou muito tempo nas últimas três semanas falando sobre prejuízos de acidentes, colocando a culpa e exigências fora da pista por “punições e compensação justas”. Isso é uma mistura de arrogância, besteira e caça às bruxas, pois nos distrai da ação na pista, que é o que importa, e torna a F1 uma questão de litígios pós-corrida, mais ou menos como na Stock Car brasileira.

Algumas semanas atrás, a Red Bull pediu que a Mercedes pagasse quando um acidente na primeira volta fez do carro “multimilionário” de Max Verstappen uma perda total. Outras equipes aderiram à convocação esta semana, por motivos óbvios, em busca de vingança pelos danos causados por acidentes.

Algumas equipes de F1 estão pedindo que o esporte reconsidere como o regulamento de limite de custo recém-introduzido leva em consideração os danos causados por acidentes e quem é o culpado. A Red Bull, por exemplo, teve contas grandes para pagar depois que dois carros foram descartados nas últimas três semanas. Mattia Binotto da Ferrari, da mesma forma, questionou o limite de custo, depois que Charles Leclerc sofreu uma batida na curva 1 de Hungaroring pelo torpedo em forma da Aston Martin de Lance Stroll.

De acordo com Binotto, “acho que há valor para discussões em um futuro próximo com os outros diretores de equipe, FIA e F1. Obviamente, se você não é culpado, ter tantos danos no limite do orçamento é algo que é ainda mais importante agora.”

“Devemos adicionar isenções? Não tenho certeza se essa é a solução. Acho que pode ser muito difícil ser policiado. Mas acho que o que podemos considerar é que se um piloto é o culpado, a equipe do piloto deve pagar pelo menos às outras equipes pelos danos e reparos. Isso tornará os pilotos mais responsáveis.”

As equipes se comprometeram com um orçamento de “apenas” US$ 145 milhões em 2021, que diminuirá ainda mais para US$ 140 milhões em 2022 e US$ 135 depois. Atirar um carro no muro e precisar construir um novo chassi é supostamente cerca de 1% do orçamento anual de uma equipe. Se você é uma equipe de ponta como a Mercedes ou Red Bull, isso vai prejudicar seu número anual. É, como se costuma dizer na F1, um grande negócio. Mas, bater ocasionalmente acontece no automobilismo, e colocar a culpa em um piloto e, assim, punir essa equipe financeiramente por isso, é uma ideia muito, muito estúpida.

O próprio ato de tentar encontrar uma vantagem de ritmo durante uma corrida ou classificação, significa assumir riscos e levar o desempenho ao fio da navalha. Sem absolver Valtteri Bottas ou Lance Stroll do papel que desempenharam no enorme acidente na manhã de domingo, que tirou um terço do grid da corrida em uma curva. Ambos fizeram movimentos em uma pista de corrida molhada que não valeu a pena. Ambos foram forçados a sair da corrida prematuramente.

É muito fácil culpá-los neste caso, mas Mercedes e Aston Martin não devem ser forçadas – de jeito nenhum – a pagar a McLaren, Ferrari ou Red Bull pelos danos causados. Muitas vezes no automobilismo, as manobras não funcionam da maneira que os pilotos e equipes gostariam. E isso faz parte do esporte, assim como machucar um adversário sem ter a intenção de fazê-lo no futebol e em vários outros esportes sempre aconteceu.

Se não há dolo, intenção, então faz parte do esporte, é do jogo e todos sabem disso desde o início.

Pagar outra equipe por um acidente de corrida é uma visão míope, mesquinha e vai contra o esporte, já que todos terão que ser cautelosos, o que os impedirá de chegar ao limite de suas capacidades. Nenhum esporte profissional de alto nível sobrevive assim.

Como pagar no caso de um piloto falecer num acidente com outro carro? Quanto vale a vida de um piloto em dinheiro? É simplesmente estúpido demais.

O limite de custo é bom e as equipes só precisam aprender a trabalhar dentro de seus orçamentos. Eu me recuso a acreditar que as equipes concordaram com o limite orçamentário sem haver uma verba prevista para acidentes, afinal nenhuma equipe passa uma temporada inteira sem qualquer acidente desde que o automobilismo existe.

Portanto, o limite de custo deve ser alterado para incluir isenções para danos causados por acidentes? De jeito nenhum. Um orçamento é um orçamento e se você o ultrapassar será penalizado. Você vai querer manter alguns milhões extras no banco para cobrir coisas que você não pode prever. Correr é isso. Se você não pode construir um carro de corrida rápido o suficiente com 130 milhões de dólares, deixando dez milhões extras lá para os dias chuvosos como na Hungria, então você não fez a sua lição de casa. Ou talvez você não deva participar de um esporte que tenha disputas roda a roda a 320 km/h.

Simon C.
Banbury – Inglaterra

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