PORSCHE 997 TURBO S vs FERRARI 430 SCUDERIA

Poucas vezes a gente tem a oportunidade de guiar dois carros de sonho num mesmo dia e ainda por cima numa pista de corrida! Pois é, tive essa chance em Las Vegas há poucos dias atrás, em 10/02/2012 na Exotics Racing, a mesma com a qual eu tinha guiado a Lamborghini Gallardo no ano passado.

Só a pista que desta vez não foi a mesma. Foi melhor ainda, mais rápida, com uma reta mais longa e uma curva feita de pé cravado – se você acreditar ser possível, evidentemente!

Primeiro vamos falar um pouco dos carros. Comecei no Porsche 997 Turbo S modelo 2012. Tanto do lado de fora quanto do de dentro a máquina alemã parece bem amigável, não chama tanto a atenção como a Ferrari e não faz nem metade do barulho da 430 Scuderia. Mas os contras – se é possível chamar isso de contra – acabam por aí.

Uma vez dentro do Porsche a perfeita posição de dirigir é encontrada facilmente, o banco te abraça de forma firme, mas confortável. Você vira o volante e as borboletas de troca de marcha viram junto, o que é sensacional e incomum nesse tipo de superesportivo. O painel é bonito, tem tudo que você precisa, o acabamento é impecável, tipo carro de luxo mesmo.

Então você liga o motor e sente um ronco intenso, cheio, mas suave. Penso: “dá para ir no supermercado com essa jóia”. Um clique na borboleta da direita e estou em primeira marcha indo para a pista. Paro na entrada, olho para ver se vem alguém e entro. Logo tem uma curva a direita que me leva ao retão. Acelero e então a primeira surpresa, o motor enche de forma impressionante, minha cabeça vai para trás e logo está na hora de trocar de marcha. A troca na borboleta é muito rápida (dupla embreagem, que alguns chamam de pré-embreagem) e o motor enche muito rápido novamente. Mais duas trocas de marcha e estamos chegando no ponto de freada a +/- 230 km/h. A curva que segue é fechada, portanto a freada tem que ser forte, mas isso não é problema para esta maravilha de carro, que obedece gentilmente ao comando.

O contorno da curva é mais fácil do que imaginei e percebo que a reaceleração pode começar mais cedo na próxima volta. O motor outra vez enche muito rápido e a próxima freada mostra novamente um equilíbrio do carro que nunca experimentei antes. Mais um pouco e chegamos numa curva onde é possível fazer flat, mas não faço. Estou amando o carro, mas ainda não completei nem uma volta para confiar totalmente nele. Depois fazemos um “essezinho” gostoso e entramos novamente no retão. Acelero mais cedo e então todos os 530 cavalos ajudados por 2 turbinas mostram do que são capazes. A adrenalina começa nos dedos dos pés e percorre todo o meu corpo até cerrar meus dentes. As trocas de marcha parecem mais rápidas ainda e a freada fica melhor, já que o freio está mais quente, dois itens que achei que não fossem possíveis de melhorar depois da primeira volta. A redução de marcha no final da reta também é suave e extremamente precisa. O carro todo parece ter um ajuste simplesmente perfeito em tudo, uma obra-prima da engenharia automotiva. No total completei 7 voltas nele e na melhor passagem cheguei a 240 km/h no final da reta.

A conclusão é que o carro é simplesmente fantástico, perfeito. Alia luxo e mega-esportividade como nenhum outro que eu tenha guiado até então, entre eles M3 96, M5 2006, Porsche Carrera (1992) e Lamborghini Gallardo 2011. Mas calma, ainda temos a “Ferrarosa” 430 Scuderia para andar…

A 430 Scuderia é uma Ferrari F430 F1 melhorada. Ela é mais leve e tem 30hp a mais. Não é a melhor Ferrari. A melhor é a 458 Itália, mas não tinha lugar nela nesse dia.

Mas a Scuderia tem 510hp e um torque considerável. Entrei nela e logo veio o mesmo “problema” que tive na Lamborghini 1 ano antes; não dá para usar capacete se você tiver mais de 1.86m de altura. Ótimo, prefiro sem capacete, ainda mais aqueles penicos que eles usam lá!

Você vai ajustar o banco e logo percebe que o interior do carro é rústico, espartano. Nada de luxo. Parece o interior melhorado de um carro de corrida mesmo, com alumínio e até parafusos à mostra em vários lugares. Ligue o motor e sinta um ronco absurdamente lindo, forte, nervoso. Coloque a primeira marcha na borboleta e sinta um pequeno tranco, acelere até a entrada da pista e sinta que vai ter que guiar esse bicho de forma diferente.

Entre na reta e tome um coice nas costas quando cravar o acelerador, ao mesmo tempo em que o ronco do motor enche totalmente a cabine como uma sinfonia completa no volume máximo. Em 10 segundos você percebe que a Ferrari é feita para isso, andar na pista, divertir e desafiar o piloto a buscar seus limites. Em relação ao Porsche é um animal mais arisco, rude, que não aceita desaforo. Tive o azar de cruzar uma Lambo Aventator (700hp) e uma Ferrari 458 Itália (560hp com 7 marchas) na pista. A Ferrari Scuderia não consegue acompanhá-las e sou obrigado a deixá-las passar. Uma pena, porque se elas tivessem que me ultrapassar mesmo, seria muito mais divertido!

Mas qual é melhor, o Porsche Turbo ou a Ferrari 430 Scuderia? Depende. Antes de continuar tenho que dizer que sempre vai um instrutor junto com você. No meu caso o instrutor do Porsche era muito melhor, deixou que eu explorasse o carro, fizesse algumas pequenas mudanças de traçado e freasse um pouco mais dentro em algumas ocasiões. O instrutor da Ferrari era um tremendo pentelho, um cara que não parava de falar, que queria guiar o carro ele mesmo através de mim. Isso pode ter prejudicado bastante a minha avaliação sobre a Ferrari.

Dito isso minha avaliação é a seguinte: Como carro, máquina mesmo, o Porsche é melhor. Chassi, motor, cambio e suspensão são superiores aos da Ferrari. Os freios são equivalentes, mas como o Porsche é mais equilibrado a freada nele parece melhor. Se eu tivesse a grana e pudesse escolher qual comprar seria o Porsche. Mas, por outro lado, a Ferrari é adrenalina pura. O ronco é maravilhoso, a agressividade do motor, do cambio e da aparência são inesquecíveis. Na pista são dois carros muito diferentes, mas ambos proporcionam muito, mas muito prazer mesmo. Andei mais rápido com o Porsche, mais de 2 segundos mais rápido, mas em matéria de prazer considero um empate!

Adauto Silva

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