Porque Alonso tem que lutar para salvar sua reputação em 2014

terça-feira, 24 de dezembro de 2013 às 19:14

Fernando Alonso

“O salvador da Ferrari” foi como a revista Autosport colocou, em definitivo sobre todas as coisas, em sua capa no início de 2010.

“A parceria que todo mundo teme”, foi a manchete da F1 Racing logo após.

Outros o chamaram de “a esperança”, o aclamaram como “o líder” e o sacramentaram como uma “força imparável”.

Seus votos foram renovados pouco mais de um ano atrás, quando no meio de uma tempestade perfeita de perda, derrota e sorte cruel, eles buscaram consolo um no outro, sobrevivendo apenas nos vapores de confiança e determinação.

Sem rendição. Sem descanso. Nós mostraremos a eles na próxima vez, de uma vez por todas.

2013 deveria ser o ano em que Fernando Alonso e Ferrari se tornariam o que sempre ameaçavam ser. Caso a equipe fornecesse ao bicampeão do mundo com uma base mais forte que o péssimo carro que teve a coragem de entregar a ele no início de 2012, foi discutido que Alonso não só seria capaz de lutar com Sebastian Vettel no mesmo nível, mas poderia disputar o título com a mesma facilidade que o piloto da Red Bull tinha feito anteriormente.

Um rápido carro vermelho e o melhor piloto do mundo – com a lembrança ainda fresca de testemunhar, digerindo e inalando a visão de Vettel saltitando no parque fechado em Interlagos, em comemoração ao se tornar o mais jovem tricampeão mundial – seria a combinação a ser batida.

Em vez disso, a vacilante campanha da Ferrari está entre os mais decepcionantes dos diversos fracassos da temporada de 2013.

A vacilante campanha, que ainda viu Alonso confortavelmente terminar em segundo atrás de Vettel na classificação de pilotos é um indicativo de quão forte uma combinação Ferrari e seu filho favorito poderiam ter sido, mas também destaca a crescente frustração sobre seu contínuo insucesso.

As primeiras rachaduras apareceram no chamado ‘vínculo inquebrável’ e só aumentaram quando a equipe de Maranello, que se orgulha de ser a instituição mais lendária, mística, romântica (assim como a de maior sucesso) na história do esporte, e Alonso começarem uma espécie de guerra fria, culminando na contratação pela Ferrari de Kimi Raikkonen – uma decisão que poderia deixar Alonso lutando para salvar a sua reputação em 2014.

É curioso que muitos esperam ver Alonso implodir, como fez de forma tão espetacular na parceria com Lewis Hamilton na McLaren em 2007, quando for colocado ao lado de Raikkonen na próxima temporada. Afinal, a elegância com que ele aceitou a derrota em São Paulo em 2012 foi muito distante do homem que supostamente foi traído pela McLaren há seis anos, ou daquele dedo do meio que apontou para Vitaly Petrov, que permitiu que o título escapasse de suas mãos, em 2010.

Tendo em conta que Alonso perdeu mais vezes do que ganhou nos últimos anos – em comparação gritante com sua carreira antes de 2007 – seria de se esperar que ele abordasse a ameaça representada por Raikkonen, com uma aproximação muito mais calma, madura e comedida devido ao conhecimento de que ele tem, ao contrário de Hamilton em 2007, da expectativa de ser desafiado pelo finlandês, um companheiro campeão do mundo.

Se, no entanto, o Sr. Ferrari realizar uma das mais notáveis reviravoltas na história do esporte e rumar para a McLaren no final de 2014, a crítica pública de Alonso à equipe, o namoro posterior com rivais após o GP da Hungria deste ano, a sua zombaria aos seus colegas via rádio em Monza quase um mês depois e a própria contratação de Raikkonen possivelmente serão recordados como os momentos exatos que o relacionamento de Alonso com a hierarquia em Maranello começaram a se deteriorar.

Os acontecimentos do Grande Prêmio da Malásia, no entanto, devem ser considerados apenas como fundamentais na avaliação onde tudo deu terrivelmente e inesperadamente errado.

Ao ordenar Alonso passar ao largo da entrada dos pits, apesar de seu carro ostentar a asa dianteira quebrada em grande parte da primeira volta depois de bater na parte traseira da Red Bull de Vettel, a Ferrari foi culpada de ser cega pelo amor, na esperança de que seu salvador, o seu líder de equipe, o seu operador de milagres, como sempre, de alguma forma, encontrasse uma saída.

Assistindo o seu homem estrela cair desajeitadamente na caixa de brita apenas alguns segundos mais tarde – não é possível manter a direção de um carro com uma asa dianteira toda para baixo – demonstrou para a Ferrari que Alonso é realmente humano, afinal, que ele não poderia transformar a chuva malaia numa champagne vitoriosa e que não precisava ser tão completamente e pateticamente dependente dele.

Mais significativamente, foi a confirmação de que, no esporte, na Formula 1 e dentro de Ferrari – como o fundador da equipe, Enzo tantas vezes teve o cuidado de pregar – nenhum indivíduo é maior do que a equipe.

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