Pit stops: Segundos que podem definir uma corrida 30/07/04)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010 às 13:32
Renault em ação

Trocar quatro rodas e bombear 90 quilos de combustível para o carro em menos de dez segundos é um exercício ao mesmo tempo físico e cerebral. A preparação para esta manobra decisiva das corridas de Fórmula 1 moderna é tão meticulosa e precisa quanto o próprio pit stop.

Na Fórmula 1 moderna, a quantidade de paradas para reabastecimento, sua duração e o tempo gasto no boxe são tão importantes que podem decidir as corridas. Hoje, os pit stops se tornaram verdadeiras oportunidades de ultrapassagem, especialmente em circuitos travados.

É muito comum eles serem a grande chance de um piloto passar um rival sem ser forçado a fazer manobras arriscadas na pista. Por isso, garantir que cada parada aconteça sem falhas é a chave de uma estratégia bem planejada.

O objetivo de um pit stop é substituir as quatro rodas do carro e encher o tanque com até 90 quilos de combustível o mais rápido possível e da maneira mais eficiente. O tempo é um parâmetro crucial, embora atualmente a duração da parada seja determinada pela velocidade com que o combustível é bombeado para o tanque.

Equipamento

Esta duração é idêntica para todas as equipes: 12,5 litros de gasolina por segundo. O procedimento de pit stop é extremamente rigoroso. Em cada um dos quarto cantos do carro, um mecânico tem a responsabilidade de remover a roda, outro coloca uma nova, enquanto um terceiro homem solta e rosqueia de volta a porca da roda com uma pistola pneumática.

Paralelamente, mecânicos, um na dianteira e outro na traseira do carro, erguem o R24 do solo usando macacos rápidos. Dois outros são responsáveis pela bomba de combustível, cuja mangueira pesa 40 kg – por isso, costumam ser os mais fortes da equipe. Há ainda dois operadores de extintores de incêndio, dois que manejam os starters (dispositivos que auxiliam o início do funcionamento dos motores), os responsáveis pela substituição do bico ou pelo ajuste da asa dianteira em caso de necessidade, os que limpam as caixas laterais e a viseira do piloto. No total a quantidade de pessoas necessária chega a 23.

Renault

O gerente esportivo da equipe Renault F1, Steve Nielsen, supervisiona o procedimento juntamente com o mecânico-líder, Jonathan Wheatley. “Nosso trabalho começa durante o intervalo entre as temporadas”, conta Jonathan. “Eu e Steve produzimos uma lista de tarefas e então designamos um responsável de acordo com habilidades e preferências individuais.” As equipes costumam rever constantemente o processo dos pit stops, em busca de mais eficiência. Mas, nos boxes, os times rivais espionam uns aos outros e as novas idéias são prontamente adotadas por todos.

Aglomerar mais de 20 pessoas em 20 m² de espaço, ao lado de gasolina pressurizada, componentes incandescentes, além dos carros que passam pelos boxes a 100 km/h, exige uma organização impecável. “A segurança de todos os envolvidos é a prioridade número um quando se realiza um pit stop”, observa Steve Nielsen. “Cada movimento é planejado com tudo isso em mente. Mesmo assim, não se pode descuidar do desempenho.”

Renault

A precisão do piloto também é vital. “Caso um deles cometa um erro, pode resultar em alguém sendo ferido ou no aumento da duração da parada”, diz Jonathan. Um erro de mais de 20 centímetros no estacionamento do carro de Fernando Alonso ou de Jarno Trulli resultaria na perda de vários segundos no pit stop.

Antes do início da temporada, a equipe Renault F1 ensaia sua coreografia de pit stop mais de 200 vezes. “Quando estamos no autódromo no fim de semana de GP, treinamos sem usar combustível todo sábado e domingo. São 25 ensaios por dia”, observa Jonathan Wheatley.

Renault

Durante o ano, a equipe repete este exercício mais de mil vezes. Na fábrica, vídeos de alguns ensaios são mostrados em uma tela gigante na sala de reuniões para dar a todos chance de identificar onde podem melhorar ou ajustar uma operação ou eliminar movimentos supérfluos.

O que acontece se os dois carros da equipe batem na primeira curva? Ou se uma chuva inesperada forçar ambos a parar no mesmo momento? Todos os cenários possíveis são analisados para garantir que a equipe jamais seja pega de surpresa. “Nós tentamos nos preparar para cada situação, desde a substituição de um pneu furado à mudança de um componente mecânico”, explica Steve Nielsen.

Renault

O próprio carro é projetado para que os pit stops sejam rápidos e eficientes. Os aros e cubos das rodas são produzidos de forma que se encaixem perfeitamente. Por exemplo, não é possível apertar a porca caso os dois não estejam posicionados perfeitamente. A mesma atenção aos detalhes foi dada ao formado da própria porca. A tradicional forma hexagonal oferecia apenas seis maneiras de encaixar a pistola pneumática. Então, a equipe Renault F1 produziu um novo design que oferece cinqüenta possibilidades. A escuderia leva este refinamento ao ponto de retirar a porca que fixa cada uma das rodas o mais rápido do que elas são apertadas.

É preciso lembrar que às vezes é difícil estar 100% focado quando se treinando até 25 pit stops de treinamento seguidos. Para garantir a concentração total, Steve Nielsen introduziu o conceito de competição dentro do exercício. Cada sessão termina com um concurso entre equipes de três mecânicos que trabalham nos quatro cantos do carro: a mais rápida é dispensada. As três remanescentes ficam para outro ensaio sem combustível e o processo se repete até que apenas uma equipe permaneça. Nesta técnica, a eficiência é difícil de alcançar.

Coreografia da velocidade
Conheça os heróis por trás dos pit stops da equipe Renault F1

1) Jonathan Wheatley: com o “pirulito”, informa ao piloto como anda o pit stop.
Steve Noakes: opera o macaco rápido dianteiro, remove o bico caso seja necessário.

2) Geoff Simmonds: substitui o bico do carro caso seja necessário.
Paul Roberts: remove a roda dianteira esquerda, ajusta a asa dianteira esquerda.
Steve Bates: remove a roda dianteira direita, ajusta a asa dianteira direita.
Chris Hessey: opera a pistola pneumática dianteira esquerda.

3) Bob Bushell: opera a pistola pneumática dianteira direita.
Kevin O’Mahony: encaixa a nova roda dianteira esquerda.
Andy Poole: encaixa a roda dianteira direita.
David Leadbeater opera a bomba de combustível.

4) Darren Speake: ajuda a operar a mangueira de combustível.

5) Piero Pallavicini: engata o bico da bomba de reabastecimento no carro.
Nigel Hope: introduz o bico da bomba caso a bomba reserva seja usada.
Nigel Kenchington: ajuda a manobrar a mangueira da bomba reserva.
Andy Band: remove a roda traseira esquerda.
Dave Hyatt: remove a roda dianteira esquerda, opera o starter.
Greg Baker: opera a pistola pneumática traseira esquerda.
Barry Mortimer: opera a pistola pneumática traseira direita.

6) Simon Norgrove: encaixa a nova roda traseira esquerda, opera o starter.

7) Neil Garner: encaixa a nova roda traseira direita.
Shaun Martin: passa a roda dianteira esquerda, opera o extintor de incêndio.
Derek Rogers: passa a roda esquerda traseira, opera o extintor de incêndio.
John Massey: passa a roda dianteira direita, opera o extintor de incêndio.

8) Steve Larney: passa a roda dianteira direita, opera extintor de incêndio.

9) Andy Cook: opera o macaco rápido traseiro.
Gavin Anderson: substitui o volante de direção, caso necessário.
Nigel Crosby: limpa a viseira do piloto, remove o volante de direção e “zera” o sistema de injeção de combustível, caso necessário.

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