Piquet, aniversário e os 10 mais

quinta-feira, 17 de agosto de 2017 às 13:38
Nelson Piquet

Nelson Piquet

Colaboração: Flávio M Peres

Hoje é o aniversário de um sujeito que marcou a vida dos brasileiros apaixonados por automobilismo: Nelson Piquet – velho, parabéns e obrigado por todas as boas emoções que nos propiciou. O nosso primeiro tricampeão, claro, é um grande piloto reconhecido em todo o mundo. Porém, algo me intriga: os grandes pilotos de sua época, invariavelmente, constam das listas de 10 melhores de todos os tempos, que se fazem mundo afora, entretanto, na maioria das vezes, Piquet não está incluído, mesmo tendo – em algum momento da carreira – vencido e/ou feito melhor do que TODOS eles. Não se trata de dizer que Nelson deveria ser o primeiro de todas essas listas, todavia, de que Piquet, por lógica e coerência, também deveria estar na maioria delas.

Alguém pode dizer que se ele não está nas listas de 10 melhores mundo afora é simplesmente por que ele, conquanto grande piloto, não foi um dos 10 melhores. Ora, mas se – em algum momento da carreira – ele venceu TODOS os grandes de sua época, e esses geralmente estão na lista dos 10 mais, por lógica, necessariamente, Nelson deveria constar habitualmente da maior parte das listas. Vamos pegar os principais nomes de sua época: Gilles Villeneuve, Niki Lauda, Emerson Fittipaldi, Alain Prost, Ayrton Senna, Nigel Mansell e Michael Schumacher.

Gilles Villeneuve possuía qualidades realmente incríveis, era muito habilidoso, mas estava na categoria há mais tempo que Nelson, e o brasileiro chegou na categoria mostrando a que veio: em sua segunda temporada completa (1980), Piquet foi vice-campeão (jogado para fora da pista duas vezes, por Alan Jones); em 1981, Piquet obteve seu primeiro título. Gilles estava lá, com toda a infraestrutura da Ferrari, imensamente superior à da Brabham, nas duas temporadas. Claro, Gilles foi muito cedo e também viria a ser campeão e merece estar em boa parte das listas, mesmo com suas 06 vitórias, contudo, o que se discute aqui é o merecimento de Nelson também constar delas, vez que bateu todos esses em algum momento.

Niki Lauda é alguém muito especial na história de Nelson Piquet. Primeiro, porque o brasileiro aprendeu muito com ele: quando o austríaco, seu companheiro na Brabham em 1979 trocava ideias com os engenheiros, o “Candango Voador” chegava quietinho, passo a passo, por trás, e ficava escutando a conversa… (aliás, Piquet costuma dizer que seus “ouvidos de pianista” lhe ajudaram muito na compreensão do funcionamento dos carros). Dizem que Lauda ficava furioso quando percebia. Mas foi esse mesmo Niki Lauda, quando abandonou no finalzinho de 1979, que respondeu a Bernie Ecclestone, que ele teria um campeão na equipe, mesmo com sua saída, se ele desse o primeiro carro a Nelson. Foi aí que Piquet fez o que nem o genial austríaco conseguiu fazer: levou o “Ecclestone Team” a conquistar o título (de pilotos). Lauda não havia passado nem perto! A Brabham, até 1979, fazia um quarto aqui, um quinto acolá, de vez em quando um pódio… Ah! A licença poética “Ecclestone Team” é explicável: outro dia teve um gringo que fez uma análise, de desempenho de pilotos, levando-se em conta a limitação dos carros, e, adivinhem, Nelson Piquet não estava entre os 10 mais, mesmo tendo sido aquele que levou a Brabham de Ecclestone ao título, o primeiro campeão com motor turbo, o primeiro campeão com motor BMW, o primeiro campeão com motor Honda. Suspeito que ele tenha considerado que a Brabham fosse aquela mesma equipe vitoriosa dos tempos de Jack Brabham, e não era: era apenas um nome fantasia que veio junto com as instalações daquela equipe de passado distante.

Nelson Piquet

Nelson Piquet

Emerson Fittipaldi o ajudou bastante e era um de seus ídolos. Claro, o Emerson estava atrás de um sonho com sua equipe, e, no momento em comum, já nem estava tão motivado assim. Mas pelo que Nelson fez no desenvolvimento da Brabham/Cosworth, em parceira com o Gordon Murray (e este se mostrava impressionado, não só com o conhecimento técnico do brasileiro, mas também com sua imensa intuição e sensibilidade – o que era absolutamente importante em tempos anteriores ao uso da informática na categoria), que se tem a impressão de que Piquet poderia ter feito prodígios com o carro da Fittipaldi (aquele 1 segundo que Nelson achou no acerto da velha e alugada McLaren M23, em seu primeiro teste na categoria, em 1978, também deixou muita gente com a pulga atrás da orelha).

Alain Prost entrou na categoria em 1980, fez um monte de besteiras e desperdiçou oportunidades de título, até conquistar seu primeiro título em 1985. Piquet, portanto, conquistou seu primeiro título bem antes, em sua terceira temporada completa (Senna em sua quinta). A rica e poderosa Renault tentava vencer o campeonato, com motor turbo, desde 1977. Prost, o “Computador”, o “Professor”, já corria para a equipe francesa em 1983. Nelson Piquet, que pegou o motor turbo BMW do zero em 1982, foi o primeiro campeão da era turbo, em 1983, superando as todas poderosas Ferrari e Renault. Prost merece, sim, estar nas listas dos 10 mais, mas é gratificante saber que estava na pista nos três títulos de Piquet.

Ayrton Senna era realmente um gênio e efetivamente merece estar entre os 3 primeiros de qualquer lista de melhores na Fórmula 1. Mas isso só valoriza os feitos de Piquet, seu contemporâneo. Como já dito, Piquet chegou mais rapidamente a seu primeiro título na categoria, mas o que vem à tona, com força, são dois confrontos diretos com o jovem Becão: a ultrapassagem mais linda da Fórmula 1, na Hungria em 1986; o confronto que levou Piquet a vencer o GP de Monza em 1987 – nas duas oportunidades, depois de ser superado, Senna fez a volta mais rápida da corrida. Vou repetir: depois. A ultrapassagem na Hungria é considerada por Jackie Stewart como fazer um looping com um Boeing, tamanho seu grau de dificuldade.

Emerson Fittipaldi - Nelson Piquet - Ayrton Senna

Emerson, Piquet e Senna

Nigel Mansell é muito festejado pela imprensa europeia, especialmente pela inglesa. O Mansell, aquele que só conseguiu ser campeão com o “carro de outro planeta” em 1992. Claro que possui méritos e que era muito rápido. Mansell teve todo o tempo do mundo para amadurecer dentro da categoria, o que é extremamente raro, sempre com as melhores oportunidades, e atravessou a década de 1980 sem título. Já com boa rodagem, em 1986 e 1987, mesmo com a equipe Williams, sua conterrânea, tentando fazer dele um campeão, nem assim conseguiu. A batida de Piquet, em 1987, durante os treinos, na Tamburello, por ter deixado sequelas no brasileiro, acabou por beneficiar o inglês nessa disputa direta. Piquet já possuía os 2 melhores tempos do treino, teve uma intuição de que não deveria voltar à pista, contudo, por dever profissional e comercial, voltou e sofreu o sério acidente, que, daí em diante, lhe deixou com reflexos e senso de profundidade comprometidos pelo resto da carreira (perdeu cerca de 1 segundo por volta, conta). Ainda assim, Piquet conseguiu batê-lo em 1987 e faturar o primeiro título da Honda (aquela fábrica japonesa, apaixonada por Senna, e que em dobradinha com Ayrton faturou três títulos, em um dos casamentos mais perfeitos da história da categoria).

O jovem e brilhante Michael Schumacher, de pronto, encantou o mundo da Fórmula 1. Em 1991, ainda garoto, dividiu a equipe com Nelson Piquet em algumas corridas. Nessa primeira fase de Michael Schumacher, a do heptacampeonato, somente um companheiro de equipe o venceu nos pontos das provas em comum: Piquet! Ninguém mais. Mesmo já veterano e com a “Síndrome da Tamburello”, de maneira que já não era tão rápido. Schuey venceu os seus 7 títulos com carros projetados por Rory Byrne, com Ross Brawn e sua inteligência tática no rádio em seu ouvido, e com os pneus resistentes e eficientes da Bridgestone. Piquet representa uma época onde era importante desenvolver e ter o piloto, ele mesmo, inteligência tática, de maneira que venceu com projetistas diferentes, primeiro campeão com turbo, primeiro campeão com motor BMW, único campeão do “Team Ecclestone”, primeiro campeão com Honda, levou a Pirelli a uma vitória histórica em 1985, vitorioso com o primeiro carro com suspensão ativa da Williams (em sua primeira tentativa), e, claro, insisto, em algum momento, venceu todos os grandes de seu tempo, que costumam frequentar todas as listas de melhores da categoria, e, de maneira injusta e sem lógica, excluem o aniversariante Nelson Piquet. Parabéns, Piquet, e muito agradecido por tudo.

Flávio M Peres
Poços de Caldas – MG

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