Oito histórias da MotoGP

terça-feira, 11 de abril de 2017 às 18:48
Valentino Rossi, Daijiro Kato e Manuel Poggiali - Rio 2001

Valentino Rossi, Daijiro Kato e Manuel Poggiali – Rio 2001

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

1 – GP do Rio, 2001
Cerca de 50.904 espectadores passaram pelas catracas (nos três dias) do circuito Nelson Piquet para acompanhar o último GP do campeonato de 2001, um evento para cumprir o calendário porque Valentino Rossi já tinha garantido o título. As regras para a temporada especificavam o somatório dos tempos de cada segmento de prova em caso de haver interrupções. Com apenas quatro voltas a corrida foi suspensa por uma bandeira vermelha porque a drenagem da pista foi insuficiente para a quantidade de chuva, Carlos Checa estava em quarto, 0,195 segundos atrás de Rossi em terceiro. A prova foi reiniciada quando as condições melhoraram e ao final das vinte voltas Checa cruzou a linha em primeiro, seguido por Rossi a 0,052 segundos. Ficou estranho, o público viu um magnifico duelo com um vencedor na pista (Checa) e, em seguida, outro piloto (Rossi) ocupar o lugar mais alto do pódio. Depois deste incidente a regra foi reconsiderada e o regulamento passou a privilegiar o resultado da pista.

2 – GP da Malásia, 2002
Erros acontecem. O pior pesadelo para os organizadores de uma corrida é uma ocorrência extra-pista influenciar decisivamente o resultado de uma prova. Na disputa da classe 125cc em 2002, em Sepang, uma sequência de decisões infelizes dos comissários resultou na apresentação da bandeira quadriculada antes de completar a distância regulamentar. Para minorar os contratempos causados, o resultado final da prova foi atribuído à classificação de uma volta antes da confusão ser estabelecida, com isso o piloto Manuel Poggiali, que se acidentou na última volta, ficou com a quarta colocação e a brilhante ultrapassagem de Dani Pedrosa sobre Lucio Checchinelo, também na última volta, não foi considerada.

3 – GP da Itália, 2004
Arrojo e estratégia definiram a vitória de Valentino Rossi no GP da Itália em 2004. Um aguaceiro repentino interrompeu uma disputa acirrada entre Rossi (Yamaha), Sete Gibernau (Honda), Max Biaggi (Honda) e Makoto Tamada (Honda). A relargada foi autorizada ainda com a pista úmida, mas secando rapidamente, Rossi largou com pneus slick, e nas seis voltas que faltavam pulou da quinta colocação para a liderança, vencendo a prova.

4 – GP do Catar, 2004
As provas de motovelocidade são pródigas em resultados eletrizantes, decididas nos detalhes, com diferenças mínimas. No GP disputado no circuito de Brno, em 1996, Alex Criville venceu Mick Doohan por exatos 0,002 segundos, diferença igual à da vitória de Toni Elias sobre Valentino no GP de Portugal em 2006 (Valentino perdeu o mundial deste ano para Nicky Hayden por cinco pontos). Recentemente, no último GP da Itália, Jorge Lorenzo ultrapassou Marc Márquez nos metros finais (diferença de apenas 0,019 segundos). O ápice da competitividade aconteceu na prova inaugural do circuito de Losail no Catar em 2004, na classe 125cc o espanhol Jorge Lorenzo com uma Derbi e o italiano Andrea Dovizioso com uma Honda concluíram a prova rigorosamente juntos, a cronometragem oficial registrou ambos com exatamente o mesmo tempo, com 0,000 segundos de diferença. A decisão da prova foi feita pela análise das fotos ultrarrápidas da linha de chegada, que mostraram a moto do espanhol milimetros à frente.

5 – GP da Austrália, 2013
A piada nos boxes depois da prova de 2013 em Phillip Island era um mecânico perguntar a outro com as duas mãos espalmadas: “Quantos dedos você pode contar”? Ao ouvir a resposta óbvia – dez – complementava “a Repsol Honda está desesperada atrás de alguém com suas habilidades”. A brincadeira foi resultado de um dos maiores erros de uma equipe durante uma prova na história da MotoGP. O circuito em Phillip Island foi recapado e o piso ficou muito abrasivo, a Bridgestone, fornecedora exclusiva de pneus, identificou que nestas condições os compostos aqueciam demais e como medida de segurança recomendou a troca obrigatória, sugestão aceita pelos organizadores. Foi determinado em conjunto com as equipes que a troca deveria ser feita até a décima volta. No limite especificado Márquez e Lorenzo travavam uma disputa acirrada pela liderança, Lorenzo entrou para trocar de equipamento, Márquez continuou na pista e, por desrespeitar uma resolução da direção de prova, foi penalizado com bandeira preta (desclassificação). Os dois espanhóis estavam em disputa direta pelo campeonato, o piloto da Honda conseguiu nas provas restantes acumular os pontos necessários para vencer, em sua primeira participação na classe principal, o seu primeiro mundial.

6 – GP Alemanha – Sachsering 2014
O início da prova de Sachsenring em 2014 foi caótico. O clima com chuva que esteve presente nos momentos que antecederam a largada mudou rapidamente para o céu limpo, bagunçando a estratégia das equipes em relação a regulagens e escolhas de pneus. Todos os protótipos alinhados no grid estavam equipados com pneus de chuva e, depois da volta de apresentação, 14 pilotos decidiram trocar para os slick e entraram no pit, incluindo as duas Movistar Yamaha e as duas Repsol Honda, nove motos permaneceram na pista, seis da então Open Class. O início da prova proporcionou uma das mais bizarras imagens da MotoGP, o grid espaçado com apenas nove motos e outras catorze enfileiradas no pit esperando a largada.

Stefan Bradl, um dos pilotos que ficou na pista, concluiu a primeira volta com uma vantagem de 7,722 segundos sobre a primeira Honda, foi ultrapassado na quinta volta por Marc Márquez e terminou a prova em décimo sexto lugar, 53 segundos atrás do líder.

7 – GP Argentina, 2016
A Michelin substituiu em 2016 a Bridgestone como fornecedora exclusiva de pneus para a MotoGP. No longo e bem-sucedido programa de desenvolvimento, o único contratempo foi um estouro do pneu traseiro da Ducati de Loris Baz durante testes da pré-temporada na Malásia, atribuído a calibragem fora das especificações. Não houve incidentes na abertura do Mundial no Catar. A confiança nos compostos franceses foi abalada na segunda prova da temporada na Argentina, em Rio Hondo, uma falha no processo de construção provocou o descolamento da cobertura externa do pneu traseiro da Ducati de Scott Redding no FP4. A fabricante, por razões de segurança, decidiu retirar os compostos originais e introduziu um pneu “de segurança”, com um processo de fabricação diferente, entretanto o fator clima jogou contra, a chuva no warm-up extra e impediu que os pilotos rodassem com o novo composto. A solução encontrada foi voltar ao pneu original e fracionar a prova com um pit-stop obrigatório.

8 – GP da Alemanha, Sachsering 2016
Esta prova entra para a história como um grande resultado estratégico, embora tenha sido circunstancial. Uma escolha inicial errada de pneus resultou em uma improvável vitória de Marc Márquez da Honda. O clima foi um complicador para todas as equipes e a escolha inicial da Honda, compostos macios com o piso molhado foi infeliz, seus pneus duraram só dez voltas. Depois de perder posições gradativamente e até dar um passeio fora da pista caindo para nona colocação, Márquez foi obrigado a trocar de moto e, apesar da pista ainda estar molhada, o equipamento alternativo estava calçado com pneus slick. O imprevisível aconteceu, a pista secou, seus adversários foram prejudicados pelos compostos intermediários e um início desastroso foi transformado em uma vitória maiúscula. Estratégia brilhante foram as manchetes da mídia, muita, mas muita sorte compensou os erros de avaliação era a certeza no box da Honda.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alefre – RS

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