O Touro Vermelho

terça-feira, 4 de janeiro de 2022 às 13:09
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Christian Horner e Dietrich Mateschitz

Colaboração: Antonio Carlos Mello Cesar

GP da Áustria 1985… Prost de McLaren e Alboreto de Ferrari brigam ponto a ponto pela liderança do campeonato, temporada repleta de grandes ídolos Niki Lauda, Piquet, Ayrton Senna, Keke Rosberg, Mansell. Para o novato Gerhard Berger piloto da Arrows a vida não estava fácil, dependia dos anunciantes pessoais que por sua vez mostravam indecisão, apoiar aquele jovem austríaco sem devido crédito, futuro incerto, assemelhava mal negócio.

Durante os treinos um desconhecido se aproxima de Berger, primeiro age como admirador, a seguir expõe seu desejo: Gostaria de patrocinar o conterrâneo, mas não tenho dinheiro. Então, somos dois retrucou Gerhard. Mesmo assim, uma quantia ficou acertada: 10 mil dólares.

Sobrevieram meses sem notícias do estranho, outro daqueles personagens exóticos circulando no paddock pensou Berger, até receber um telefonema: Aqui é Dietrich nos conhecemos na Estíria por ocasião do GP, agora meu negocio vem mostrando boas perspectivas. Podemos formalizar nosso acordo?

Este foi o contato inicial de Dietrich Mateschitz sócio fundador dos energéticos Red Bull com a F1, homem que mais tarde seria dono das equipes Red Bull Racing, Scuderia Alpha Tauri, Nascar Red Bull, proprietário do autódromo Zeltweg-Spielberg renomeado Red Bull Ring. Além dos times de futebol, Salzburg Áustria, RB Leipzig Alemanha, Red Bull Bragantino e New York Red Bulls. Fortuna, hoje, avaliada em 25 bilhões de dólares.

Temporada 95 a morte de Ayrton Senna ainda se fazia sentir, Benetton-Renault e Schumacher favoritos ao bicampeonato. Damon Hill, David Coulthard pilotos da fortíssima Willians iriam dificultar as coisas, sem contar Ferrari e a McLaren-Mercedes. O touro vermelho aparece pra valer, pela primeira vez, patrocinando a equipe Sauber inscrita naquele ano como Red Bull Sauber-Ford C14 e o promissor Heinz Harald Frentzen.

Parceria longa, 10 anos, melhor colocação um quarto lugar no mundial de construtores 2001 com Nick Heidfeld e Kimi Raikkonen, piloto de testes Felipe Massa, ciclo onde pilotos de teste realmente testavam o carro.

O também austríaco Helmut Marko a despeito dos bons resultados nas provas de endurance venceu Le Mans 1971, como piloto da F1 não demonstrava igual aptidão. Carreira curta, 10 etapas entre 71/72, uma pedra atirada por uma Lotus (GP França 72) ultrapassou a viseira de seu capacete ocasionando grave e permanente lesão ocular.

Pós-incidente Helmut, doutor advogado, bem que tentou atividade fora do automobilismo sem muito interesse ou sucesso, épocas passaram e Marko tocava a vida administrando sua equipe de F3, F3000, chamada RSM Marko. No ano de 2001 respaldado financeiramente por um velho partidário Dietrich Mateschitz criou a Academia Red Bull Junior, entre seus pilotos, maioria deles austríacos, dois brasileiros Ricardo Maurício e Enrique Bernoldi.

Formado pela universidade de Viena em marketing, Dietrich tinha consciência que fabricar seus energéticos era relativamente barato, uma mistura de água, cafeína e bílis de boi, contudo internacionalizar e vender o produto custava muito dinheiro.

Desde o começo 30% do faturamento bruto foi destinado para publicidade, vincular a marca com velocidade, arrojo, destreza, moderna tecnologia presentes na F1 sempre lhe pareceu uma boa estratégia.

Mas porque gastar fortunas patrocinando uma equipe ao invés de possuir a própria? Talvez, até lucrar alguma coisa, afinal determinados donos de equipe viraram autênticos milionários. Novembro de 2004 Dietrich Mateschitz compra a Jaguar, o touro vermelho se agiganta na carenagem da nova equipe: RBR – Red Bull Racing.

Christian Horner um ex-piloto inglês proprietário da Arden equipe de F3000, bom gestor, conseguiu na categoria três títulos consecutivos pilotos e construtores. Apresentado na RBR no mesmo dia em que o chefe da Jaguar havia sido demitido gerou desconfiança, rapaz por demais jovem 31 anos para ocupação de tamanha relevância, no escritório a secretária chorava enquanto recolhia objetos pessoais do antigo patrão. Horner enfrentaria dificuldades, embora contasse com apoio de Helmut Marko.

A história de Adrian Newey engenheiro teve início lá traz na equope Fittipaldi, conseguiu destaque na March projetando o carro vencedor da INSA durante dois anos seguidos. Acrescentou ao currículo dois campeonatos de F Indy 1985/86, duas 500 milhas de Indianápolis. Contratado da Willians entregou nada menos que cinco títulos de construtores entre 1992 e 97, com a McLaren dois campeonatos de pilotos, um de construtores.

Insatisfeito com salário e terminante recusa do chefão Ron Dennis em lhe conceder aumento, migrou para uma equipe nova, a Red Bull (2006), tremendo desafio. Primeiro carro projetado 2007, primeira vitória numa corrida 2009, partir de então cinco campeonatos de pilotos e quatro de construtores. Sem dúvida um gênio.

Dietrich Mateschitz alimenta o touro, Helmut Marko eminência parda disfarçado em consultor, Christian Horner administra intrincada estrutura e Adrian Newey fortifica o animal, melhora sua força e velocidade. Maneira pela qual o touro vermelho continua disposto atacar quem por ventura tente invadir seu território, seja um cavalo rompante ou a poderosa estrela de três pontas.

Antonio Carlos Mello Cesar
São Paulo – SP

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