O crime que um gênio jamais cometeu

sábado, 24 de janeiro de 2015 às 19:15
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Senna vs Mansell - Barcelona 1992

Colaboração: Carlos Santos Afonso

Falar de Ayrton Senna as vezes pode parecer coisa fácil, mas ao mesmo tempo não é, digo isso porque recorro imediatamente as manhãs de domingo onde ele acordava uma legião de brasileiros esperançosos por ver uma vitória e o tão conhecido orgulho de ser brasileiro, que ele fazia empunhando nossa bandeira nas vitórias.

Após dois campeonatos tumultuados em 1989 e 1990, o bicampeão do mundo tinha caminho livre para mais um título, lógico a Ferrari tivera um ano muito forte com Prost ao volante e todos esperaram repetição em 1991.

A McLaren ainda tinha o poderosos Honda V12 além do fato de Senna acabara de ganhar um campeonato, mesmo com chassi inferior, tirando no braço muitas vezes a desvantagem para Ferrari no ano anterior.

Após 4 vitorias incríveis no começo do campeonato 1991, Senna havia percebido que a Williams era um carro mais equilibrado, eles vinham apanhando do conceito do cambio semiautomático e ainda pecavam pela falta de confiabilidade. Batalhas épicas aconteceram! Quem não se recorda da ultrapassagem de Mansell sobre Senna na reta principal de Barcelona?

O ano de 1991 parecia duro, mas no campeonato apesar da força dos Williams, tinha ainda Senna como favorito, e na silly season de 1991, em determinado momento dentro do seu motor home Senna tinha dois contratos, um para assinar com a Williams pela temporada de 1992 e um para renovar com McLaren por mais uma temporada. Não e nenhuma notícia nova que Senna era um Guepardo a caça, como piloto, mas como empresário ele estava mais para um Leão Faminto, um negociador nato.

A história duramente nos mostra o resultado dessa escolha, uma humilhante derrota em 1992 para as imbatíveis Williams, uma das temporadas mais incríveis em 1993, onde Senna era Davi e a Williams Golias, nesse ano a vontade, a garra, a técnica, não foram capazes de superar as Williams e por fim o ano de 1994 que não merece apresentações. O que era considerado por Senna o carro de outro mundo, naquele ano fazia Senna dele.

Talvez a lealdade, a fidelidade a quem havia possibilitado 3 campeonatos mundiais fizeram que com ele tivesse gratidão na hora de decidir por renovar com a McLaren, talvez a oferta de Grove não fosse tão boa quanto da equipe de Woking, talvez ele achasse que o pacote da Williams não fosse páreo para o poderio da McLaren Honda.

Mas sem dúvida esse foi o crime perfeito que a Formula 1 jamais viu, não e difícil imaginar, a carnificina que seria a temporada 1992 se Senna tivesse assinado com a Williams. Sou capaz de dizer que teria sido pior que 1988, ele teria vencido todas as corridas daquele ano.

Me lembro que todos comentavam pelas ruas, sonho de 10 a cada 10 brasileiros que assistiam a formula 1, “imagina Senna nessa Williams do Mansell”.

Seria não o maior crime de todos tempos, mas história drasticamente reescrita.

Prost, não seria tetra, Senna reinaria por no mínimo 4 anos na Williams e muito provavelmente encerraria a carreira na Ferrari, como o maior vencedor de todos os tempos.

Damon Hill não seria campeão, Villeneuve não teria vindo para Formula 1, Schumacher seria companheiro de Senna na Ferrari como segundo piloto, e não podemos esquecer o leão Nigel Mansell seria o piloto mais incrivelmente rápido que a formula já conhecera, porém sem ter sido campeão…

O crime desse porte determinaria a era do gelo na Formula 1 como vimos Schumacher fazer.

Talvez a palavra crime seja um pouco exagerada, mas pensando profundamente o que seria um crime tão grande?

Senna na Williams em 1992 vislumbrando anos de glória esmagando a concorrência com poles e vitorias e campeonatos ou virar as costas para McLaren quando o mesmo era favorito a tricampeão mundial?

A história não determina exatamente se foi por honra ao Ron Dennis ou meramente negócios, afinal ele não tinha bola de cristal para saber se as maquinas de 1992 da Williams seriam de outro planeta.

Mas atrevo mais ainda a dizer, que esse crime perfeito que jamais foi cometido, poderia ter feito dele um Ayrton Senna de 54 anos hoje.

Carlos Santos Afonso
Campos do Jordão – SP

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