O Brasil na Motorcycle Cannonball

sexta-feira, 18 de agosto de 2017 às 16:38

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Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Vintage é o termo utilizado para definir um produto antigo de excelente qualidade ou utilizado para caracterizar um estilo de vida próprio dos primeiros anos do século passado. O culto à memória do motociclismo é a razão principal da realização do Motorcycle Cannonball, uma competição realizada a cada dois anos cuja primeira edição foi em 2010, aberta para motos produzidas até 1915 e percorreu uma rota costa a costa ao sul dos Estados Unidos. Em setembro de 2010 quarenta e cinco pilotos conduzindo motos Harley, Indian e outras marcas históricas partiram da pequena cidade de Kitty Hawk na Carolina do Norte, para uma jornada de 5.300 km em direção de Santa Mônica, na Califórnia. A prova utilizou estradas secundárias caracterizando mais um uma competição de resistência que de velocidade. Dezesseis dias depois, dez deles haviam completado a rota inteira.

As regras eram simples, como as motos tinham de ser produzidas antes de 1916, um ponto importante era o que podia ser modificado. A máquina devia ser alimentada por um motor original, muitas mudanças foram permitidas, incluindo características de segurança, porém o núcleo do equipamento devia ter 95 ou mais anos. As regras recomendavam atualizar os freios e até adicionar um freio dianteiro, caso o modelo original não contemplasse este recurso. Também foi sugerido aos competidores optar por pneus atualizados e todos os equipamentos deviam dispor de iluminação moderna em lugar dos carbonetos utilizados na época. As motos foram divididas em três classes: classe 1 para os motores mono cilindro e mono velocidade, classe 2 para dois cilindros com mono velocidade e classe 3 para multi cilindros e motos multi velocidade, que começavam a se tornar populares em 1915.

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As equipes de apoio nesta edição não eram profissionais e vieram auxiliar a parte mecânica, mas não foram autorizados a acompanhar os pilotos, tinham que seguir rotas alternativas para o destino programado como final para a etapa do dia. Se uma moto apresentasse problemas, os pilotos deveriam ter ferramentas suficientes para o conserto, podendo contar também com a ajuda de outros pilotos ou aguardar pelo socorro dos carros da organização.

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As inscrições para a edição de 2012 aceitaram motos construídas até 1929 e o evento utilizou um percurso mais longo em uma rota ao norte dos EUA. Foram recebidas mais de 70 inscrições de 15 países, o início foi em 07 de setembro em Newburgh, estado de New York e o final em 23 e setembro em San Francisco, Califórnia. A competição foi aberta para qualquer pessoa com uma moto de fabricação anterior a 1929 e preparo físico e financeiro para participar de uma jornada de 6.370 km. A distância não parece muito desafiadora nos dias atuais, motociclistas de estrada podem realizar este percurso em menos de três dias, porém não utilizando motos de mais de 80 anos e estradas secundárias. O início todos os dias às 6 da manhã e pilotar por 9 ou 10 horas desafiam os limites do corpo e da vontade.

Durante a prova de 2012 os pilotos enfrentaram o tráfego pesado de Cleveland, tempestades no centro-oeste, geada e gelo no Parque Nacional de Yellowstone e um trecho em subida para vencer os 2.800 metros de altura das Montanhas Rochosas. Dezenove competidores concluíram a prova com pontuação perfeita, fizeram todo o percurso sem necessitar auxilio externo, partiram e chegaram todos os dias nos limites de horário especificados. Quarenta e quatro motos terminaram oficialmente a prova, 25 pilotos foram considerados como DNF (Não finalizaram) ou DQ (desclassificados).

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A edição do Motorcycle Cannonball 2012 marcou a primeira participação do brasileiro Chrys Miranda, considerado um dos maiores especialistas do mundo em reconstrução de motos Harley Davidson, como participante do Team Vino, uma equipe minimalista com uma moto, um piloto – Dean Bordigioni – e um mecânico, que se classificou em 13º lugar.

A edição de 2014 foi realizada entre Daytona Beach, Flórida, e Tacoma no estado de Washington entre 5 e 21 de setembro. A prova foi limitada a equipamentos produzidos antes de 1937, contou com 105 participantes, a grande maioria veteranos de edições anteriores, e 10 mais de nacionalidades, com equipamentos vindos da Alemanha, Espanha, Itália e Polônia. Entre as novidades da competição a rota foi cuidadosamente mapeada e pela primeira vez a prova foi acompanhada por um profissional de saúde, uma enfermeira utilizou uma moto de fabricação recente e ajudou os pilotos com picadas de insetos, exaustão, excesso de calor e pequenos acidentes. Uma tempestade causou inundações e prejudicou parte do percurso, além de retardar o início de um trecho, muitos pilotos foram impossibilitados de continuar e tiveram seus equipamentos transportados, não houve aplicação de penalidades. Para a competição a equipe Vino foi ampliada para 4 motos, fabricadas entre 1923 e 1932 e mais um mecânico. No resultado final foi vencedora em sua classe e conquistou também o 3º e 6º lugares.

O fato negativo aconteceu na noite de encerramento, quatro motos que participaram da prova e um caminhão de apoio foram roubados. A mobilização da polícia e mídias sociais permitiu recuperar grande parte dos equipamentos.

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Após três eventos bem-sucedidos, o Motorcycle Cannonball virou uma instituição americana, atraindo pilotos de todo o mundo. As restaurações assumiram um novo significado, mecânicos experientes utilizam todo o seu conhecimento para permitir que um equipamento de mais de cem anos tenha confiabilidade e resistência necessárias para uma travessia dos EUA costa a costa em um intervalo de 15 dias. A exigência sobre os pilotos também é levada ao extremo, obrigados a percorrer 800 km por etapa, com um único dia de folga. O Motorcycle Cannonball 2016 foi realizado em um percurso de 5.324 km entre Atlantic City, New Jersey e Carlsbad, Califórnia, com a participação de motos produzidas até 1916. Para edição a equipe com a participação do brasileiro voltou às origens, um piloto e um mecânico, e voltou a vencer em sua classe.

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O nome do Brasil na Motorcycle Cannonball é Chrys Miranda, além de um mecânico com muitos recursos, um conceituado profissional na arte de customizar motos criando soluções adequadas com a personalidade do proprietário e mantendo todas as características necessárias para garantir conforto e segurança. É o fundador da Garage Metallica, um negócio familiar montado em uma oficina de 120 m² na Vila Madalena em São Paulo. Chrys foi envolvido na competição por espírito de aventura e por amizade pessoal com o competidor Dean Bordigioni, vencedor nas duas últimas edições. A competição não oferece premiação além de uma foto comemorativa e não contempla retorno financeiro, porém o Espírito Cannonball é altamente contagiante.

Chrys Miranda vai estar presente com sua arte no Rock in Rio deste ano, expondo seu trabalho e customizando uma moto por dia ao vivo durante o evento.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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