No automobilismo Brasilis

quarta-feira, 4 de abril de 2012 às 22:24
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Willians Farias

Este foi um convite especial do meu graaaande amigo Adauto e agradeço a oportunidade para contar aqui um pouco da minha estória no automobilismo.

Não sou um piloto profissional e nem vou contar aquele bla bla bla que a maioria dos pilotos fala. Vou contar sim uma estória, que mostra o quão é difícil e surpreendente este mundo. Um mundo “anônimo”, um mundo onde nem sempre sabemos o que ocorre. Onde um final de semana pode mudar a sua vida, tanto para melhor quanto para pior. Está aberta a prosa.

Estou no automobilismo nacional desde 2005. Estreei na extinta Copa Clio e lá tive a oportunidade de aprender muito sobre carros de corrida de tração dianteira. Segundo nosso tricampeão Nelson Piquet, isto não é carro de corrida, mas nós não ligamos para as “tiradas” dele. Até porque tivemos a oportunidade de ver seu show “in loco” na pista, com seu Ford GT, pneus semi-slicks e mais de 700cv de potencia.

Voltando a corrida deste final de semana. Sou piloto da Audi DTCC desde o ano passado e estive sempre em uma situação não convencional. Fui convidado no ano passado para correr, mas não tinha verba pra dividir o carro (campeonato são duas baterias e há opção de dividir o carro com outro piloto). Neste momento é bom ler estórias como a do piloto Roberto Moreno (sempre sem dinheiro, mas com muita determinação) e assim criar inspiração. Fui atrás de patrocínio e nada, “chorei” e finalmente consegui chegar a um acordo com meu companheiro de equipe. Comecei na segunda etapa, conquistamos duas vitorias na temporada e três poles, resultando em um comemorado vice-campeonato.

Com esta performance tive a promessa de uma renovação para 2012, mas percalços pelo caminho me deixaram sem carro a duas semanas da primeira etapa. Fiquei abatido, mas não desisti. Corri atrás e fechei com meu amigo Daniel Daroz. Fizemos a primeira corrida em Interlagos e depois de um treino de classificação atípico (choveu durante a classificação), larguei em 13º e finalizei na segunda posição. Conquistando o primeiro pódio do ano.

Entretanto, sabia que tinha chegado ao fim a minha jornada, pois sem patrocínio (consegui verba só para esta etapa) e mesmo com o excelente resultado estava a pé novamente. Vida de piloto sem patrocínio forte é assim e já estou acostumado. Afinal, não sou profissional, sou um piloto amador que gosta de rivalizar com os profissionais.

Ao invés de desistir, pensei. Vou tentar até o fim, caso consiga, ok. Caso não consiga, paciência. O segredo é não desistir (não li o livro, mas de tanto que falam já sei como funciona *rs). Conversei com vários pilotos, mas aparentemente eles não tinham condições de me ajudar. Muito compreensível, automobilismo é um esporte muito caro e de dificílimo acesso. Para se ter ideia de custo, só um jogo de pneus custa a bagatela de R$ 5 mil e dura no máximo 200 km. Para o leitor ter um efeito comparativo era como se você saísse de São Paulo (capital) fosse ao litoral e na volta trocasse seus 4 pneus. Um valor absurdo para o cidadão comum e eu sou um deles.

Falei, falei e ate agora não mudou nada. Vamos lá. Faltando uma semana, meu amigo Adolpho Rossi (piloto Audi DTCC) me liga perguntando quando iria viajar e respondi que não iria. Contei a minha historia e ele fez o convite:

“ Você topa ir comigo para lá e ser meu orientador?” e eu falei “Sem problemas”. Ele ainda disse “Minha esposa também vai correr e ela também vai precisar de ajuda”. Já ministrei aulas na escola de pilotagem e isto era um trabalho que eu gostava muito. Tenho experiência neste tipo de carro (tração dianteira) e passo todo conhecimento que adquiri nestes anos aos pilotos que estão iniciando. A esposa do Adolpho é a Alline Cipriani. Ela começou há pouco tempo nas corridas. Apesar disto, tem uma excelente noção de pilotagem e incomodou bastante os “marmanjos” na primeira etapa.

Chegamos ao hotel e fui para o quarto fazer a planilha no computador para o dia seguinte. Gosto de organizar certinho, tempos de volta, trechos, algumas características de pilotagem, para depois mostrar aos pilotos e os fazerem compreender onde podem melhorar.  

Os leitores devem estar achando o texto um pouco confuso, mas prometo que vai melhorar daqui em diante.

Acordei às 7h, tomei um banho e fui tomar café da manha.  Partimos para o autódromo e já estava fazendo minha função. Eu não falei onde estou, né? Estamos em Brasília, capital federal. A opção de configuração do traçado foi o anel externo. Um pena não ter sido utilizado o traçado interno, disparado em minha opinião, o mais desafiador do Brasil com seus 5.476 metros.

No caminho o Adolpho falou. “Willians, vou te inscrever, pois quero que você faça um treino e ajude a Alline”. E eu disse: “Ok”. Cheguei à pista, andei o primeiro treino, ajudei a Alline, e ela fez o trabalho certinho, se posicionando em nono lugar, com 18 carros na pista. Fiz o sétimo tempo, mas não estava preocupado com o meu resultado.

A partir daí entreguei o carro #8 ao Adolpho, que pôde fazer o segundo e terceiro treino. Alguns pilotos instalaram pneus novos e não deu pra fazer um comparativo. A Alline mais uma vez mostrou a força feminina se mantendo entre os 10 primeiros, ficando muito perto dos líderes.

Já preparando “meus pilotos” para a classificação, recebo do Adolpho o sinal que ele não está nas melhores condições físicas e por conta de uma virose, não está em condições de pilotar.

Recebi o sinal de ok. Sim, eu devia classificar e sendo assim, “obrigado” a correr a primeira etapa. Fiquei um tempo paralisado e não acreditava na chance que estava sendo me dada. Agradeci a todos e tentei me concentrar para a classificação.

Foi muito complicado se concentrar para a classificação e ter apenas três voltas. Estes carros A3 2.0 turbo, da Audi são manhosos e possuem muita eletrônica embarcada. São muito sensíveis aos erros e aproximações. Freei muito dentro da curva 2 e perdi a chance de brigar pela pole. Fiquei com o quarto tempo.

A sensação dos treinos foi a Alline. Em um volta espetacular, deixou pra trás pilotos experientes da GT3, GT4, Stock Car e classificou seu carro #84 Racing Girls, na sétima colocação do grid. O que me deixou extremamente feliz por ter sido o orientador e de alguma forma responsável pelo resultado.

Na primeira bateria não “pulei” bem na largada, mas logo na curva 1 recuperei o tempo perdido e já me posicionei na quarta posição. Fiquei no aguardo da briga entre o Elias Jr, Landi (pole) e o Queirolo. Acompanhei a disputa dos três com uma margem de segurança só esperando o final da corrida. Logo, o Pedro Queirolo perdeu rendimento e pude efetuar a ultrapassagem na curva 3. Fui à caça dos líderes, mas o safety-car destruiu minhas pretensões. Pra piorar, na relargada faltando 5 voltas errei a troca de marcha e cai pra sétimo.

A partir daí, usei o famoso bordão “faca nos dentes” e fui fazendo as ultrapassagens sem perder tempo, quebrei o recorde da pista por três vezes consecutivas. Não posso deixar de falar do cavalheirismo do Felipe Gama, que percebendo meu ritmo, não brigou e com isto pude puxá-lo para escalarmos o pelotão. O balanço do carro estava excelente e acelerei tudo. Conclui na terceira colocação e entreguei o carro para o parceiro Adolpho, que finalizou a segunda bateria em uma boa sétima colocação.

O campeonato está eletrizante e temos pelo menos os dez primeiros com chances de titulo. Este campeonato de 2012, da Audi DTCC vai entrar pra historia do automobilismo nacional.

E eu? Bom, eu seguirei na luta para conseguir mais uma oportunidade de trazer um troféu pra casa. Sigo com determinação. Não tenho nada fechado para toda temporada e estou na espera. Sem nunca desistir.

Abraço a todos

Willians Farias  

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