Nelsinho Piquet e o drama da Formula 1

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011 às 2:52

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Nelsinho Piquet e o drama da Formula 1

Nelsinho Piquet pode fazer sua última corrida na F1 neste próximo final de semana na Hungria. A Renault quase o demitiu logo após a corrida na Alemanha e só não o fez porque o argumento de que o brasileiro teve um carro sem as atualizações pegou. Isso é o que todos do meio estão dizendo.

Mas se isso for verdade, e parece que é, então o GP da Hungria será vida ou morte para Nelsinho; ou ele anda perto do Alonso – de preferência na frente – ou será demitido logo após a corrida. Isso é o que eu chamo de pressão total!

As pessoas me perguntam se Nelsinho é mau piloto. Eu respondo que não, claro que não. Um piloto que venceu tudo antes de chegar na F1 não tem como ser ruim. O problema é que na F1 não basta “não ser ruim” e muitas vezes sequer basta “ser acima da média”. Eu disse no nosso programa de audio “Loucos por Automobilismo” e no forum do Autoracing que a entrada de Nelsinho na equipe Renault ao lado do Alonso seria um erro terrível.

Mas por que eu disse isso? Vamos as explicações.

Existem fatores e circunstâncias determinantes que só estão presentes na F1 e são eles que fazem a diferença em relação a todas as outras categorias. É por isso que muitas vezes um piloto que se deu bem em todas as categorias de base fracassa na F1. Comecemos pelo carro. Em todas as categorias de monopostos os carros são praticamente monomarca, no máximo temos 2 chassis e 2 motores, o que não é o caso em 90% delas, que correm apenas com 1 marca de chassi e 1 de motor. Na F1 cada equipe tem um chassi e motor próprio e as diferenças são grandes. Só isso já faz com que a F1 seja completamente diferente das outras para o piloto. Por que? Porque acarreta outros fatores; o acerto de carro, por exemplo. Nas categorias de base só existe 1 acerto ideal, na F1 existem “n” acertos, já que os carros são diferentes e se comportam todos de maneira diferente em cada pista. Isso sem falar das atualizações, que na F1 são comuns e nas outras categorias praticamente inexistentes. O carro pode mudar completamente seu comportamento de uma corrida para outra. Um carro mal acertado na F1 faz com que o piloto tome pelo menos 3 décimos de seu companheiro em classificação. Na corrida é pior, pois a cada volta que passa o acerto ruim prejudica os pneus e a tocada fica ainda mais difícil.

Um piloto inexperiente na F1 fica a mercê do acerto da equipe, afinal ele não tem o feeling do carro, não tem base de comparação com nada. Geralmente a equipe pega o acerto do piloto mais experiente e passa para o carro do novato. O caso de Nelsinho é emblemático. Quando eu o entrevistei semanas atrás perguntei se ele tinha sempre o mesmo equipamento e podia usar o mesmo acerto do Alonso. Ele escorregou e não respondeu. Hoje é óbvio que ele não tem sempre o mesmo equipamento e por consequência não tem como usar o mesmo acerto. Só nisso ele já toma tempo na cabeça. E é um tempo irrecuperável enquanto ele não aprender sozinho a acertar o carro.

Nelsinho tem a simpatia da equipe? Parece que tem, ou tinha. O fato é que Fernando Alonso tem um contrato de rei com a Renault. Depois de sofrer um verdadeiro inferno na McLaren com um novato chamado Lewis Hamilton, Alonso não quis mais nem pensar em ter qualquer tipo de problema em sua volta à Renault e por isso colocou tudo que podia para ele no contrato; de equipamento até estrartégia de corrida. Assim como era Michael Schumacher na Ferrari, Alonso é o piloto número 1, 2 e 3 na Renault. Está errado o Alonso? Claro que não. Quem está errado é o próprio Nelsinho e – muito me espanta – seu pai, um tricampeão que teoricamente deveria saber a fria que estava colocando seu filho. Por que não entraram na F1 por uma equipe pequena ou média? Por que escolheram justamente aquela na qual Nelsinho teria um bicampeão mundial com a faca nos dentes e os dois pés atrás contra novatos?

E a pressão de uma equipe grande de F1, quem aguenta? Em qual outra categoria de monopostos rola tanto dinheiro quanto na F1? Nenhuma. Dinheiro gera pressão e pressão gera política. Nelsinho é um bom político? É um cara desenvolto, super articulado, frequenta a mesma roda do Briatore, se dá super bem com toda a equipe?

Carros diferentes de tudo, pressão gigantesca e política intensa. Taí a diferença da F1 para as outras. Portanto, além do piloto ter que ser muito bom de braço, tem também que preencher este tripé de atribuições para se dar bem na F1. A maioria não preenche.

Até a próxima!

Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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