MotoGP – Sachsenring 2017 – Previsibilidade & Imprevisibilidade

terça-feira, 4 de julho de 2017 às 18:12
Marc Marquez em Sachsenring

Marc Marquez em Sachsenring – Foto site MotoGP

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Um modo simples de qualificar a atual temporada da MotoGP é uma única palavra – Imprevisível. Adivinhos e especialistas estão sendo obrigados a alterar suas previsões a cada corrida do calendário. Os treinos pré temporada e os resultados no Catar e em Rio Hondo cravavam uma certeza, a temporada seria um passeio da Yamaha #25 de Maverick Vinales. Depois da vitória (previsível) de Marc Márquez nos EUA, Valentino Rossi assumiu a liderança e houve uma pequena correção, talvez o campeão não seja o novato da equipe, mas com certeza seria um piloto Yamaha. A prova de Jerez embaralhou tudo, os quatro primeiros (Rossi, Vinales, Márquez e Pedrosa) ficaram separados por apenas dez pontos, as certezas abaladas até Le Mans, Rossi e Márquez não pontuaram e Vinales abriu uma vantagem de 17 pontos sobre Pedrosa, as previsões de depois da segunda rodada estavam sendo confirmadas.

Então um personagem coadjuvante apresentou-se em Mugello, Andrea Dovizioso venceu a sua primeira corrida de MotoGP em piso seco, Vinales abriu uma vantagem de 26 pontos sobre o segundo colocado, 30 sobre Rossi e 37 sobre Márquez, a tendência parecia irreversível. Três provas depois, Barcelona, Assen e Sachsenring mudaram tudo.

O quase descartado Marc Márquez é líder, Vinales está cinco pontos atrás, Dovizioso seis e Rossi dez. Em MotoGP somente duas previsões são confiáveis, Marc Márquez vence no Circuito das Américas e no GP da Alemanha, pelo menos é o que tem acontecido desde que o piloto espanhol estreou no mundial de motociclismo, todo o resto é imprevisível. Os que cultuam ciências ocultas ainda tentam antecipar resultados baseados em crendices, a mais citada depois de Sachsenring foi que desde que a MotoGP foi reestruturada, o piloto que lidera o campeonato no início das férias de verão (na Europa) vence o mundial. Só não aconteceu em 2015, os italianos alegam que naquele ano o título foi decidido fora das pistas, na punição de Rossi pelo incidente em Sepang.

GP da Alemanha
Os treinos livres da prova da Alemanha contribuíram para criar mais incertezas com os rumos do campeonato. Com tempo seco Dovizioso e Vinales brilharam, mas a esquadra da Honda, Márquez, Pedrosa e Crutchlow, andou muito perto. A mudança do clima favoreceu as Honda, mas surgiram vários estranhos no ninho, Danilo Petrucci com Ducati, Aleix Espargaró com Aprilia e as Yamaha da Tech 3 de Jonas Folger e Johann Zarco, talvez a esperada vitória de Márquez não estivesse tão garantida. Na classificação Petrucci conseguiu introduzir a sua Ducati satélite entre as Honda de fábrica, mas como aconteceu nos sete anos anteriores, com 125, Moto2 e MotoGP, a pole ficou com Márquez.

A sabedoria popular diz que treino é treino, jogo é jogo. Depois da largada Márquez assumiu a ponta, seguido por Pedrosa e por um surpreendente Jorge Lorenzo. A Yamaha de Folger fechou a primeira volta em quarto, escalou para terceiro na volta três e para segundo na volta cinco. Na liderança o campeão do mundo pilotava tranquilo poupando pneus quando foi surpreendido e ultrapassado pelo alemão. A festa de Folger, e da torcida alemã, durou cinco voltas, até o piloto cometer um erro e devolver a posição para Márquez. Todos esperavam que o espanhol abrisse uma distância confortável sobre o alemão, mas não foi o que aconteceu, a diferença entre eles esteve menor que um segundo até faltarem três voltas para o fim quando Folger, que nunca havia estado em um pódio da MotoGP, decidiu não correr mais riscos e contentar-se com o segundo lugar.

Pedrosa acomodou-se correndo sozinho na terceira posição, Lorenzo não conseguiu gerenciar o aquecimento dos pneus e despencou na tabela, Vinales e Rossi recuperaram-se da classificação desastrosa do grid de largada e chegaram na quarta e quinta colocação respectivamente.

O desempenho de Jonas Folger foi impressionante. O alemão foi até então ofuscado pelo colega de equipe Johann Zarco e seu desempenho em seu próprio país foi memorável. Seu colega Zarco cometeu um erro na FP3 que o tirou da disputa pelas melhores posições no grid, e mesmo largando nas últimas colocações, ultrapassou dez concorrentes e classificou-se em nono.

A MotoGP mudou em muitos aspectos, especialmente fora das pistas. A satélite Tech3 da Yamaha, que seguido coloca suas motos na frente das da equipe oficial, tem como pilotos dois estreantes na categoria, Folger e Zarco, que competem com os equipamentos antigos da fábrica japonesa. A Honda, que recentemente unificou o chassi de todas as suas motos para a versão de 2017 (Márquez até então utilizava o chassi de 2014), passou a consultar seus cinco pilotos, dois da fábrica, dois da Marc VDS e o da LCR para contribuir com o desenvolvimento do equipamento. As observações de Cal Crutchlow são especialmente importantes porque ele já pilotou uma M1 (pela Tech3 entre 2011 e 2013) e uma GP14 (Equipe Ducati em 2014) e tem termos de comparação.

Acontecimentos que em outra época poderiam gerar páginas de discussões são considerados normais na atual MotoGP. Antes da prova de Assen o chefe da equipe Honda Santi Hernandez mandou uma mensagem via WhatsApp para seu amigo pessoal, Marc Márquez, prometendo que ele lideraria o campeonato antes das férias. Na ocasião o piloto, que estava na terceira colocação, 23 pontos atrás de Vinales e 16 atrás de Dovizioso, respondeu provocativo: “Maravilha, o que foi que você bebeu”? A troca de mensagens foi mostrada para diversas pessoas. Marc lembrou este episódio depois da prova da Alemanha, na mesma ocasião em que dedicou a vitória para Nick Hayden e sua família, indicando o quanto o carisma do piloto norte americano influenciou sua carreira.

A Michelin foi lembrada, não necessariamente de maneira elogiosa, Pedrosa, o terceiro colocado, disse que seus pneus só duraram 8 voltas. Petrucci nunca imaginou sua Ducati depois de 7 ou 8 voltas não ter tração suficiente e ser ultrapassada em plena reta por máquinas Suzuki, Yamaha e até KTM. Jack Miller não explicitamente culpou os pneus, disse que não eram ruins, mas tinham reações estranhas, principalmente nas curvas para a esquerda. Lorenzo nunca conseguiu a janela de temperatura ideal e dos pilotos com Ducati, Álvaro Bautista foi o único que não elencou os compostos da Michelin como um de seus maiores problemas. Interessante é que Pedrosa disse estar em dificuldades durante 21 ou 22 voltas, ainda assim conseguiu manter a terceira colocação. Cal Crutchlow conta uma história diferente, seu pneu dianteiro aqueceu demais quando ele andou em grupo, chegando inclusive a acionar o alarme de pressão. Quando ele saia do tráfego, tudo voltava ao normal. O diagnóstico realizado a algumas provas atrás é cada vez mais comprovado, a janela de temperatura de operação do Michelin é muito estreita, qualquer variação para mais ou para menos muda completamente o seu desempenho.

Hector Barbera foi a primeira vítima do novo sistema de sinalização via rádio. Ele queimou a largada e foi penalizado com um ride-through, indicado via mensagem em seu painel de controle. Andando no tráfego, o piloto não viu a mensagem e acabou recebendo uma bandeira preta.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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