MotoGP – Recesso de verão (na Europa)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016 às 18:44
Marc Marquez, Jorge Lorenzo e Valentino Rossi

Marc Marquez, Jorge Lorenzo e Valentino Rossi

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Experiências com gases costumam ser realizadas nas CNTP, condições normais de temperatura e pressão (0 °C e 1 atm), para normalizar os resultados e permitir comparações. Analogamente os projetistas da MotoGP especificam seus protótipos considerando que os pilotos exigem mais do equipamento e buscam obter o melhor desempenho em pistas secas e temperatura ambiente entre 27 e 32 °C, se uma destas variáveis é alterada, o comportamento da moto pode mudar radicalmente.

Com a consciência de dispor de dois dos melhores pilotos (Rossi & Lorenzo) e da moto mais consistente (M1), Lin Jarvis, Diretor Administrativo da Yamaha, vaticinou que 2016 seria uma temporada maluca. Ele se referia exclusivamente aos contratos dos principais pilotos, que vencem no final deste ano, e entendia que a dança das cadeiras poderia tumultuar os resultados nas pistas. Óbvio, como gestor competente, procurou manter a tranquilidade dos seus pilotos e pessoal de apoio, antecipando a prorrogação do contrato de Valentino Rossi e definindo rapidamente um substituto (Maverick Vinales) para Jorge Lorenzo, que foi seduzido pela Ducati.

Entretanto, no meio da temporada, os resultados estão longe de serem os esperados por Jarvis. Com nove provas realizadas, as Yamaha venceram cinco das seis disputadas em pista seca e temperatura ambiente normal, porém demonstram enorme dificuldade em condições adversas. Marc Márquez contabiliza três primeiros lugares, dois em provas complicadas (Argentina & Alemanha) e outra em uma pista em que mantém o monopólio de vitórias (EUA). A prova que restou foi vencida por Jack Miller em meio a um pequeno dilúvio. Embora com o maior número de vitórias, a Yamaha mantém um escasso ponto de vantagem sobre a Honda no Mundial de Construtores, está 33 pontos atrás na disputa por equipes e, entre os pilotos, Marc Márquez abriu uma quilométrica vantagem de 48 e 59 pontos sobre Jorge Lorenzo e Valentino Rossi respectivamente.

A temporada está decidida? Definitivamente não. Segundo os ensinamentos do filósofo tupiniquim Abelardo (Chacrinha) Barbosa, as coisas só acabam quando terminam. A matemática é inflexível, 48 pontos podem ser descontados em apenas duas vitórias, desde que o piloto da Honda não se classifique entre os catorze primeiros. O problema da Yamaha tem sido o amadurecimento de Márquez, que já não corre riscos absurdos e é o único dos “top five” na classificação a pontuar em todas as provas, uma só vez esteve ausente do pódio. Outro fator que pode complicar é a disputa interna entre seus dois pilotos, Lorenzo venceu três vezes e Rossi duas. Ambos estenderam a animosidade pessoal para as pistas, onde são ferrenhos adversários e, embora tenham a melhor moto do grid, só estiveram juntos entre os três primeiros em duas oportunidades. Em uma entrevista recente a um repórter britânico, que perguntou como era a sua convivência com o “melhor piloto do mundo”, o atual campeão da MotoGP respondeu rispidamente: “Respeito a história de Rossi, mas não me incluo entre os que acreditam que ele ainda seja o melhor. Seu último título foi antes de eu conquistar o meu primeiro”.

O que esperar da segunda metade da temporada? Dino Sani, treinador nas décadas de 70 e 80, costumava dizer: “Futebol é uma caixinha de surpresas”. Portando para a MotoGP, é lícito afirmar que resultados de corridas também podem ser surpreendentes. Na Argentina as duas Ducati da equipe de fábrica colidiram nas curvas finais da prova quando tinham o segundo e terceiro lugares assegurados. Se tudo acontecer sem sobressaltos, os pilotos da Yamaha têm grandes chances de recuperação na disputa do título, o que pode complicar é ambos dividirem resultados e beneficiarem Márquez, ou os pilotos da Ducati criarem juízo e não fazerem mais bobagens (com máquinas confiáveis e competitivas, ambos não completaram quatro das nove etapas e Dovizioso ainda classificou-se em 13° empurrando a moto na Argentina), ou finalmente se Vinales e a Suzuki reencontrarem o desempenho dos testes pré-temporada.

O mau desempenho das Yamaha nas últimas duas provas tem alguns pontos de convergência, as largadas foram autorizadas na condição de “Wet Race” e a temperatura ambiente estava baixa. A M1 aparenta ter maior dificuldade em aquecer os pneus dianteiros neste ambiente e apresenta acentuada queda de rendimento.

O que não pode prosperar é a insanidade de imaginar um tipo de Teoria da Conspiração, onde a equipe estaria atuando com prioridade para Rossi porque Lorenzo está de saída para a Ducati para o próximo biênio. Os números e os interesses que balizam a MotoGP são astronômicos, nenhum fabricante ou patrocinador aceitaria sequer imaginar um comportamento deste tipo.

Temporada Maluca? Talvez com resultados inesperados, mas não pelas razões originais imaginadas por Lin Jarvis.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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