MotoGP – Pneus, desempenho e durabilidade

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020 às 7:30

Pneu MotoGP

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

A pior curva para os pilotos da MotoGP em 2019 foi a Curva Três do circuito Le Mans Bugatti na França, um contorno à esquerda realizado em 80 km/m depois de um longo trecho em alta velocidade. Houve neste e em outros trechos do circuito um considerável número de situações onde a destreza dos pilotos foi insuficiente para manter as motos na pista durante no fim de semana. O GP começou estranho com as quedas de Joan Mir e Karel Abraham, ambos perderam a frente em incidentes separados durante a volta de apresentação. Uma explicação possível é que o lado esquerdo do pneu dianteiro muitas vezes chega neste trecho da pista sem a temperatura ideal.

Os pneus são a única parte do protótipo em contato com a pista, responsáveis pela adesão (grip) necessária para frear e acelerar e contornar curvas. A escolha do composto adequado é um fator importante para o resultado dos GPs, a Michelin tem consultores trabalhando no aconselhamento aos pilotos nos boxes de todas as equipes.

A Michelin, uma das principais fabricantes de pneus do mundo com sede em Clermont-Ferrand, França, desde 2016 é a fornecedora exclusiva de pneus da MotoGP e recentemente prorrogou seu contrato até 2023. A indústria francesa oferece uma gama de compostos selecionados de acordo com as condições previstas pela meteorologia, desenho (layout), topologia da pista e características do piso.

É um trabalho hercúleo, em cada fim de semana com clima seco a empresa fornece um conjunto de 22 pneus (10 dianteiros e 12 traseiros) para cada piloto, distribuídos por característica de aderência e durabilidade em macios (soft), médios (medium) ou resistentes (hard), cada equipe seleciona a quantidade da opção mais adequada. Para o piloto que participar de todas as seções de classificação (ou seja, praticamente todos) é concedido como bônus, um par adicional. Em condições adversas de clima, os pilotos terão disponíveis 13 pneus específicos para a pista molhada (6 dianteiros e 7 traseiros). Se por caprichos do tempo durante pelo menos quatro das sessões realizadas entre sexta-feira e sábado a pista estiver molhada, todos os pilotos recebem mais um conjunto de pneus.

A engenharia da Michelin especifica para cada pista uma composição diferente para pneus macios, médios ou resistentes, o que implica que existem múltiplos processos de produção, de acordo com as condições do piso um pneu considerado médio em um circuito pode receber a classificação de macio ou resistente em outro.

Os circuitos da MotoGP podem ter orientação horária (mesmo sentido dos ponteiros de um relógio) ou anti-horária, o desenho da pista define se existem mais curvas à direita ou à esquerda. Marc Márquez, formado pistas de saibro (dirty tracks) anti-horário, já declarou diversas vezes ter predileção por curvas para a esquerda. Buscando o melhor aproveitamento das características dos pneus em relação ao lay-out das pistas, a Michelin pode fornecer compostos assimétricos, com composição da borracha diferente em cada lado do pneu, permitindo maior resistência ao desgaste ou facilidade de aquecer e manter a temperatura nas bordas mais solicitadas, de acordo com o número de curvas para um lado ou outro.

Le Mans Bugatti

Um item importante para o correto funcionamento dos pneus é a pressão interna, conhecida como calibragem. A MotoGP implementa sensores de temperatura e pressão para que todas as especificações do fabricante sejam seguidas e resultem em condições de segurança de operações para todos os pilotos. Em 2016 Loris Baz pilotando uma Ducati sofreu um acidente na reta de Sepang a 290 km/h por causa da falha estrutural do pneu traseiro. Na época uma das razões indicadas para o colapso do componente foi que o pneu rodava com pressão menor que a indicada, manobra tentada para produzir maior grip. Desde então as equipes são obrigadas a utilizar as pressões recomendadas pela Michelin, amostradas por sensores dedicados que, dependendo das condições (clima, aderência do piso), ficam por volta de 29 psi (libras por polegada quadrada – pound per square inch) nas rodas dianteiras e 26,1 psi nas rodas traseiras, respectivamente 2 e 1,8 bares. A calibragem deve ser realizada na temperatura ambiente e com ar seco. Pneus com pressão inadequada deformam em condições de uso e dificultam conseguir e manter a temperatura ideal de funcionamento. Durante uma prova a temperatura de um pneu alcança mais de 100°C na roda dianteira e 120°C na traseira (60°C e 80°C na chuva). Os pneus Michelin oferecem o melhor desempenho (grip) em uma janela pequena de temperatura.

A pressão inadequada pode deformar o pneu durante o uso, resultando em maior dificuldade para obter a temperatura de trabalho correta, tornando a dirigibilidade mais perigosa.

Os pneus, como mencionamos no início, são os únicos pontos da moto em contato com o solo, o que faz com que todas as forças geradas pelo motor, aceleração, frenagem e movimento do piloto no assento passem para o asfalto através da sua superfície de contato mínima.

O ponto de contato tem uma área equivalente a um cartão de crédito. Através desta pequena área, o piloto transfere toda a energia gerada pelo motor e freios das motos mais avançadas do planeta. Ao suportar estas forças, o pneu deve manter sua forma não apresentar deformações.

Os esforços que são solicitados dos pneus durante uma aceleração em uma reta na roda traseira são da ordem de 2.200 Newtons (224 kg) e durante uma forte frenagem o pneu dianteiro excede 2.500 Newtons (254 kg). Durante as curvas as forças laterais excedem 2.000 Newtons (203 kg). A principal atividade dos pilotos nos testes que antecedem aos GPs é escolher o tipo de pneu mais adequado, o que apresenta o melhor compromisso entre desempenho e durabilidade.

Imagine todos estes esforços nos pneus em uma prova de 45 minutos, curva após curva, frenagem após frenagem, rodando em um piso em que a temperatura pode chegar a 60 como já aconteceu em Sepang. Não é fácil gerenciar a durabilidade dos pneus em situações tão críticas, porém é exatamente isso que separa bons pilotos de campeões.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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