MotoGP – Phillip Island – 2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017 às 14:06

Phillip Island – 2017

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Phillip Island é uma ilha de pouco mais de 10 mil hectares situada no sul da Austrália, ligada ao continente por uma ponte de 640 m. A economia local é baseada em turismo, criação de ovelhas e fazendas de gado. A população fixa gira em torno de 10 mil habitantes e pode exceder a 40 mil no verão. A ilha recebeu a sua primeira prova oficial de motovelocidade em 1990 e desde 1997 hospeda uma das etapas da MotoGP. Situado na beira do mar e com um clima instável, o circuito é de alta velocidade caracterizado por amplas curvas, é o que menos exige os freios em todo o calendário.

O circuito de Phillip Island tem um longo histórico de provas sensacionais. Em 2013 o “rookie” Marc Márquez liderava o mundial com 298 pontos contra 255 do então campeão Jorge Lorenzo, o circuito havia sido recapado e o fornecedor de pneus, Bridgestone, identificou que não tinha como fornecer um produto que resistisse mais de 10 voltas no asfalto muito abrasivo. O GP foi encurtado de 27 para 19 voltas, com troca de moto obrigatória na 10ª (Flag-to-Flag). O pessoal de apoio da Honda interpretou errado as orientações da direção da prova, Márquez foi desclassificado com uma bandeira preta e o campeonato só foi decidido na última prova.

A etapa de 2015 é considerada uma das melhores de todos os tempos. A disputa do mundial estava restrita aos dois pilotos da Yamaha Rossi e Lorenzo e ambos, mais a Ducati de Iannone e a Honda de Márquez, revezaram-se na liderança durante toda a prova. A volta final foi fantástica, iniciou com um posicionamento dos pilotos que pareceu definido, Lorenzo liderava seguido por Márquez, Rossi e Iannone. Nos últimos metros tudo mudou, Márquez e Iannone ultrapassaram as Yamaha e terminaram respectivamente em primeiro e terceiro, Rossi ficou fora do pódio.

A corrida deste ano foi, de longe, a mais imprevisível e a mais agressiva da temporada. Durante toda a competição houve disputas acirradas entre diversos pilotos pela liderança, nem sempre amistosas. No parque fechado, onde após o encerramento se reúnem os três primeiros colocados e o melhor das equipes independentes, os pilotos ostentavam marcas de borracha de pneus nos macacões e a rabeta da Honda de Márquez foi danificada por uma colisão.

Há um sentimento de desconforto entre os pilotos com o comportamento agressivo do francês Johann Zarco, que tem obtido bons resultados com uma Yamaha M1 2016 da Tech3. Lorenzo e Rossi já tiveram problemas com ele por manobras arrojadas que resultaram em contato durante disputas. Na prova da Austrália este ano ele voltou a apresentar o mesmo comportamento e aparentemente contaminou os outros pilotos, em sua entrevista no final da corrida no Parc Fermé Valentino Rossi, o segundo colocado, afirmou que “quando todos estão muito agressivos, a única opção é ser tão ou mais estúpido que eles”.

Marc Marquez (Honda) foi o vencedor de uma das corridas mais incríveis de todos os tempos, oito pilotos andaram juntos disputando a liderança até as voltas finais. Durante a prova o atual campeão do mundo, depois de combinar com a sua equipe que não queria ser distraído com informações sobre a posição de Andrea Dovizioso na prova, foi flagrado pela TV procurando o adversário quando contornava a curva 4, que proporciona uma visão privilegiada da pista.

Para a Ducati, que está realizando uma temporada maravilhosa este ano, a etapa da Austrália foi o pior dos pesadelos. A melhor colocação de uma das oito motos da fábrica italiana que disputaram a competição foi a 11ª obtida por Scott Redding da satélite Pramac, as motos da equipe oficial classificaram-se em 13º (Dovizioso) e 15º (Lorenzo). Depois da conclusão da prova o inglês (Redding) revelou que havia recebido pelo painel de controle uma orientação para não prejudicar a ultrapassagem de Dovizioso, que fazia uma corrida de recuperação depois de um erro seu no início da prova, entretanto a disputa com Pedrosa na reta final o impediu de colaborar com a pontuação do colega.

Veja um compacto da corrida:

A evolução das motos nesta temporada está alterando características básicas dos fabricantes, o desenvolvimento da RC123V baseado na aderência absurda do pneu dianteiro da Bridgestone havia estabelecido uma vantagem significativa para as Honda em frenagens, os Michelin transferiram esta propriedade para as Ducati, que encontraram nos novos compostos uma condição favorável para domar a potência de seus motores. Nas últimas provas as máquinas italianas tem sido as mais eficientes na redução de velocidade, entretanto este detalhe não pode ser explorado em Phillip Island porque o traçado do circuito não contempla frenagens expressivas. Muito da evolução da Ducati, KTM, e de certa maneira também da Honda, está centrada na excelência dos que testam os equipamentos, estas equipes na prática já implementam o conceito de terceiro piloto. Os ajustes na Ducati GP 17 contam, além de Lorenzo e Dovizioso, com a colaboração de Danilo Petrucci, Mika Kallio auxilia Pol Spargaro e Bradley Smith na KTM e a Honda segue na mesma linha, a máquina de Cal Crutchlow é idêntica a utilizada por Márquez e Pedrosa. Talvez explique em parte a pouca evolução da M1 2017 da Yamaha, que vem sendo incomodada pelos resultados do modelo 2016 da Tech3.

Existe uma parábola sobre um copo pela metade, o otimista diz que está meio cheio, o pessimista meio vazio e um engenheiro o define como mal dimensionado para a sua real necessidade. Da mesma forma existem três modos de prever o resultado do mundial deste ano, para alguns o título já está decidido, 33 pontos é uma diferença impossível de descontar em duas provas, outros entendem que tudo pode acontecer, até Márquez não completar as provas restantes, o mais seguro é seguir a orientação do filósofo tupiniquim Abelardo Barbosa, “Só acaba quando termina”.

Os resultados das pistas costumam ser imprevisíveis, em 2016 para Márquez conquistar o título com antecipação em Motegi era necessário um conjunto de eventos altamente improvável, vencer a prova e os dois pilotos da Yamaha, também candidatos, não marcarem pontos. Pela primeira vez em muitos anos os dois equipamentos de uma equipe ainda na disputa caíram em uma mesma prova e o piloto da Honda conquistou o troféu. Em 2006 na última etapa da temporada em Valência, Valentino Rossi encaminhava seu sexto título consecutivo ao iniciar a prova com 8 pontos a mais que Nicky Hayden, seu mais próximo concorrente. No encontro com a imprensa que antecede aos GPs o americano declarou que tudo o que precisava era um dia perfeito para ele e muito ruim para o italiano. Valentino caiu durante a prova, recuperou o equipamento e conseguiu a 13ª colocação, Hayden ficou em 3º e foi campeão por 5 pontos, o mesmo número que Rossi havia perdido na prova anterior (Estoril) para Toni Elias, por exatos 0,002 segundos.

Carlos Alerto Goldani
Porto Alegre – RS

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