MotoGP – O melhor da festa é esperar por ela

quarta-feira, 15 de maio de 2019 às 19:44

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Uma frase já inserida no cotidiano tupiniquim é que “O melhor da festa é esperar por ela”. Implica que, antes que um evento aconteça, a imaginação das pessoas não tem limites. Todos os cenários podem ser visualizados, mesmo os mais improváveis e que resultam em maior recompensa. Depois da festa vale a reflexão de Carlos Drummond de Andrade, “E agora José”?

A contratação de Johann Zarco para compor a equipe oficial da KTM no biênio 2019/2020 foi saudada com uma das boas notícias do ano passado, todos lembram os resultados dos seus dois primeiros anos na MotoGP quando pilotou para a Tech3. Passadas quatro etapas da atual temporada, assim como todos os que os que acompanham a MotoGP, a KTM está desagradavelmente surpresa com o baixo rendimento do piloto. O francês de 28 anos está em sua 11ª participação em mundiais de motovelocidade e migrou para a MotoGP depois de um bicampeonato na Moto2 (2015 e 2016) com uma Kalex. No biênio 2017/2018 pilotou para a equipe independente Tech3 utilizando o equipamento desenvolvido por Jorge Lorenzo em seu último ano na Yamaha. Nestas duas temporadas, Zarco com uma condução combativa conseguiu se classificar melhor a equipe oficial em diversas etapas. Em 2018 preferiu recusar os protótipos 2017 do fabricante e continuar com o chassi de 2016. Zarco foi o piloto de equipe independente melhor colocado em 2017 e 2018, ocupando a 6ª posição nos dois anos.

Graças ao seu desempenho nas pistas a contratação de Johann Zarco por uma equipe oficial era inevitável, ele assinou com a KTM para 2019/2020 e até agora não conseguiu reprisar os resultados duas temporadas anteriores por falta de adaptação com o equipamento austríaco. A KTM utiliza um motor V4, com características diferentes dos 4 cilindros em linha da Yamaha. O diretor executivo Stefan Pierer da equipe austríaca ficou incomodado com críticas do piloto sobre a dificuldade de controlar o protótipo, admitindo que pode não ser tão fácil pilotar uma moto com propulsor V4 como as que têm os cilindros em linha, mas salientou que nos últimos anos os V4 venceram a esmagadora maioria das provas.

Existem diferenças nas técnicas de condução relacionadas com as características dos motores. Cilindros dispostos em linha (Yamaha & Suzuki) resultam em propulsores mais compactos, facilitam o setup para distribuição de peso e os protótipos são mais ágeis nas curvas. Cilindros montados em V (Honda, Ducati, Aprilia e KTM) oferecem maior torque em baixas rotações, leia-se melhor retomada de velocidade.

O desempenho de um piloto tem muito a ver com as características da moto. Poucos dias atrás Valentino Rossi emitiu um comentário que, sem Marc Márquez, a Honda não seria um equipamento vencedor e citou, para exemplificar seus argumentos, os resultados de Jorge Lorenzo e Cal Crutchlow na presente temporada. Sua colocação foi contestada pelo campeão do mundo, que explicou que não é a moto nem o piloto que fazem a diferença, é compromisso do conjunto, moto, piloto e pessoal de apoio. Existem pilotos que, devido ao seu estilo de condução, não vão obter bons resultados com a Honda ou com qualquer outro equipamento que esteja frequentemente no pódio das provas. Esta também é a razão pela qual o Márquez sequer cogita em trocar de equipe, ele está onde tudo converge para o seu sucesso.

As dificuldades de Johann Zarco encontram paralelo no longo aprendizado de Jorge Lorenzo quando migrou da Yamaha para a Ducati em 2017. O cinco vezes campeão mundial desenvolveu um ambiente cáustico nos boxes da Yamaha ao entrar em rumo de colisão com seu colega de boxes Valentino Rossi. Sua transferência para a fábrica italiana foi notícia por valores até então inusitados na MotoGP.

Lembrando, Lorenzo foi o piloto que venceu Valentino Rossi em 2015 competindo com um equipamento igual ao dele e, como ensinou Marco Melandri tempos atrás, “Valentino é o melhor companheiro de equipe que alguém pode ter, exceto quando sente a sua hegemonia ameaçada”. O JL99 comentou em seus primeiros testes com a Ducati se sentiu um aprendiz, sua técnica de centrar o controle na roda dianteira era inadequada. Foi obrigado a aprender a usar o freio traseiro e pilotar a moto, segundo suas próprias palavras, “como um barco, administrando a traseira”. Esta aparenta ser a causa das dificuldades de Zarco, ele está lidando com um comportamento do equipamento ainda desconhecido. Este nível de dificuldade não é bem compreendido pelos gestores da equipe, estão investindo alto e querem resultados, a KTM tem ambição de ser protagonista na MotoGP, não apenas mais uma participante. Para os administradores, cada ponto obtido por Pol Espargaro sai muito mais em conta os que o #5 consegue.

O GP da França que se aproxima é mais uma oportunidade para Johann Zarco apresentar resultados. Ele já não é o único herói local e divide a torcida dos gauleses com Fabio Quartararo, um piloto com apenas 20 anos com um currículo enxuto, dois anos na Moto3, dois na Moto2. Entrou este ano na MotoGP, tem apenas uma vitória em mundiais (Moto2) e é uma aposta da equipe Petronas que assombrou a todos ao ser o piloto mais jovem da história a conseguir uma pole, feito obtido em Jerez.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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