MotoGP – Não há bônus sem ônus

terça-feira, 19 de abril de 2022 às 12:16

Moto GP

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

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Durante algum tempo um dos esportistas mais bem sucedidos desde entrou na categoria principal da MotoGP em 2013, o oito vezes campeão mundial Marc Márquez, considerou quedas como parte de seu trabalho. Entre 2014 e 2020 o espanhol contabilizou, segundo os registros oficiais da Dorna 107 quedas, considerando somente os fins de semana de competições, o maior número entre todos os participantes. Dono de uma técnica diferenciada, baseada no controle absurdo da roda dianteira, Márquez foi até 2016 auxiliado pelas características dos pneus Bridgestone. Neste ano a MotoGP trocou o fornecedor exclusivo pela francesa Michelin, que privilegia o pneu traseiro.

A temporada de 2016 registrou inúmeros recordes em relação a vencedores de corridas. Cal Crutchlow, Jack Miller, Andrea Ianonne e Maverick Vinales venceram suas primeiras provas na classe principal, a primeira vez que quatro novos vencedores surgiam em uma única temporada. Entre o GP da Itália em maio e o GP de San Marino os pilotos Jorge Lorenzo, Valentino Rossi, Jack Miller, Marc Márquez, Andrea Iannone, Cal Crutchlow, Maverick Vinales e Dani Pedrosa em sequência venceram oito corridas. As 18 provas realizadas em 2016 registraram um total de nove vencedores diferentes, um recorde para uma única temporada da primeira classe. O ano também testemunhou equipes não oficiais de fábrica vencendo corridas, algo que não acontecia desde a temporada de 2006, Jack Miller da equipe independente Marc VDS venceu a prova de TT Assen e Cal Crutchlow da LCR Honda foi vitorioso nos GPs da República Checa e Austrália. Com 5 vitórias na temporada Marc conquistou o seu quinto mundial (incluindo as categorias 125cc e Moto2) com três etapas de antecedência, depois de se acidentar 17 vezes. O procedimento de Marc tem método, o piloto busca explorar os limites do equipamento em cada pista.

Em Assen (2013) durante um treino livre, Márquez sofreu um acidente em alta velocidade na curva Ramshoek, que resultou em uma fratura do dedo mindinho da mão direita e no dedão do pé direito. Apesar da violência do acidente, o piloto foi liberado para participar do GP e conquistou a 2ª colocação. Jorge Lorenzo obteve a 5ª colocação nesta prova, apesar de ter fraturado a clavícula e ter sido operado no dia anterior.

O incidente em Assen ocorreu semanas depois de Márquez ter sido forçado a saltar de sua Honda a mais de 280 km/h depois de perder o controle ao longo da reta mais rápida do calendário da MotoGP em Mugello, durante os treinos de sexta-feira para o Grande Prêmio da Itália. Foi o acidente registrado com a maior velocidade ocorrido na MotoGP até então.

Embora não tenha sido o acidente mais rápido ou assustador, a queda em Jerez em 2020 marcou o início de um período conturbado para o piloto espanhol. A tentativa de um retorno prematuro sem a consolidação adequada da fratura o obrigou a abdicar da temporada em curso e em parte de 2021.

Marquez estava confiante no início de uma temporada a ser realizada exclusivamente na Europa como consequência da pandemia que assolou o planeta. No início da prova enquanto estava liderando perdeu a frente em uma curva e protagonizou mais uma de suas manobras milagrosas salvando a queda, porém saiu da pista e fez uma incursão na brita, voltou na 19ª colocação. Márquez iniciou uma recuperação fantástica que o levou até a 4ª colocação faltando 4 voltas para o final, quando sofreu um violento highside. Um fato óbvio é que salvar a perda da frente e um highside são histórias completamente diferentes, o piloto rolou pela brita e foi atingido por sua própria moto desgovernada, que causou a fratura de seu úmero. A tentativa prematura de retorno e complicações na consolidação do osso, associados a um episódio de diplopia (visão dupla) mantiveram o piloto afastado até o GP de Portugal (Portimão) de 2021.

Após o seu retorno às pistas o piloto ficou três etapas afastado (Le Mans, Mugello e Barcelona). O espanhol sofreu uma grave queda no início da programação de treinos livres do GP da Grand Bretanha, realizado no icônico circuito de Silverstone, que tradicionalmente tem sido difícil para ele e para a Honda. No primeiro treino livre Marc Marquez liderou a sessão e nos minutos finais protagonizou um enorme acidente, caindo enquanto desenvolvia uma velocidade de mais 280 km/h na aproximação da Curva 3. Marquez perdeu o controle de seu equipamento depois da curva 1, antes da sequência de velozes curvas em Maggotts, Becketts e Chapel. A Honda #93 foi parar no cascalho depois de ter capotado várias vezes e caiu destruída no meio da pista. A sessão terminou com o melhor tempo obtido pelo piloto, que procurou o atendimento em um hospital para limpar os olhos que ficaram sujos de areia.

Um último grande incidente ocorreu no circuito de Mandalika (Indonésia). Depois de cair três vezes – duas na curva 12 e uma na curva 13 – Márquez sofreu o que foi, sem dúvida, seu maior acidente desde que voltou de lesão.

O GP da Indonésia foi caracterizado por um fato incomum na MotoGP. Como o circuito só ficou pronto poucos dias antes da realização da prova, nos testes realizados uma semana antes mostraram que os pneus sofriam um desgaste acentuado na pista. Por questões de segurança e para preservar o espetáculo, o fabricante Michelin utilizou um composto antigo para a corrida. As RC213V não puderam ser adequadas para o novo componente. Embora Silverstone tenha sido um dos mais rápidos de sua carreira, Mandalika foi indiscutivelmente o pior acidente que ocorreu com o oito vezes campeão mundial.

Márquez estava no final do treino de aquecimento quando perdeu a traseira ao sair da curva 15. Felizmente conseguiu salvar o acidente, no entanto, não teve tanta sorte apenas alguns momentos depois quando a traseira voltou a comprometer, desta vez de forma muito mais rápida e espetacular. Marquez foi ejetado do seu assento e caiu de cabeça. Pareceu estar inconsciente quando bateu no chão, antes de conseguir se aprumar depois de algum tempo. As coisas estavam longe de estar bem para o piloto, que apresentava sintomas de perda de orientação sugerindo a ocorrência de uma concussão.

Foi transportado de helicóptero para um hospital local, onde os temores de uma concussão foram confirmados, a Honda tomou a decisão de abandonar a segunda rodada da temporada de 2022 e escalou o piloto de teste Stefan Bradley para completar a equipe no GP da Argentina.

A extraordinária corrida de recuperação de Márquez na prova do Circuito das Américas, depois da inexplicável pane na largada comprovou que Marc Márquez está readquirindo sua plena forma e em busca de seu nono título mundial.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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