MotoGP – Jerez de la Frontera 2019

quarta-feira, 8 de maio de 2019 às 19:20

Marc Marquez – Jerez 2019

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Surgiu na Inglaterra nos anos 80 uma série de livros orientados para o público infanto-juvenil que em pouco tempo fez sucesso no mundo inteiro. O conteúdo das publicações eram ilustrações que ocupavam duas páginas, com grafismos retratando multidões em atividades normais; circulando em praças públicas ou assistindo práticas esportivas. Em algum lugar estava Wally, o personagem central da série, identificado por óculos, uma camiseta com listras brancas e vermelhas e um gorro com as mesmas cores. O título das obras, que são comercializadas até os dias atuais, é “Onde está Wally” e o objetivo é localizar a personagem entre as diversas pessoas da ilustração. Ao encerrar a 4ª etapa da temporada de 2019 da MotoGP em Jerez houve, entre os diversos jornalistas que cobriam o evento, um comentário recorrente: “Onde estão Jorge Lorenzo e Johann Zarco”, as duas contratações mais comentadas no ano passado.

A prova foi caracterizada por números cabalísticos, 300º GP depois da introdução de novas regras e regulamentos que permitiram motores de 4 tempos em 2002, ano em que a competição adotou formalmente a marca MotoGP. Coincidiu com a 400ª competição do mundial de motovelocidade em território espanhol (de um total de 3.108 GPs em todas as classes pelos registros oficiais).

O desenvolvimento da prova transcorreu dentro do esperado. A esmagadora maioria dos espectadores presentes no circuito acreditava em uma vitória de Marc Márquez, como acabou acontecendo. Até a surpreendente colocação das duas Yamaha da equipe satélite Petronas na primeira fila do grid foi assimilada como normal. Os que transitam nos boxes da MotoGP sabem que é possível configurar equipamentos para ter um desempenho excepcional por um período curto, mas que é complicado conservar durante toda uma prova. Havia muita expectativa a respeito do desempenho das Suzuki depois da vitória de Alex Rins no Circuito das Américas, da recuperação de Rossi e do comportamento das Ducati, principalmente depois das exíguas diferenças dos tempos durante todo o final de semana.

Talvez como resultado do dispositivo Holeshot, Dovizioso conseguiu a melhor largada, chegou a andar ao lado de Márquez na aproximação da primeira curva, mas ficou sem trajetória e permitiu que a dupla da Petronas se alinhasse atrás do líder, recompondo a primeira fila do grid com as posições invertidas, Márquez em primeiro Morbidelli em segundo Quartararo em terceiro. Vinales fez uma largada surpreende e conquistou a 4ª colocação, deixando a Ducati do até então líder do campeonato em 5º.

Márquez adotou na prova a sua estratégia padrão, tentou abrir uma liderança confortável e foi seguido de perto pelas Yamaha da Petronas virando em tempos quase idênticos. Nas três primeiras voltas o trio na liderança abriu uma pequena distância, Vinales vinha meio segundo atrás, a mesma diferença que o separava Dovizioso e Rins. Nas voltas seguintes Vinales conseguiu uma aproximação com os líderes enquanto Rins ficou travado atrás da Ducati. Saindo da 13ª posição Valentino Rossi progrediu rapidamente até a 10ª, o progresso, entretanto ficou mais difícil quando se posicionou atrás da Ducati de Jack Miller.

A partir da 10ª volta Márquez começou a se descolar das Yamaha e abriu dois segundos. Aproveitando uma hesitação do colega, Quartararo assumiu a vice-liderança enquanto Morbidelli virou alvo de Rins e Vinales. Dovizioso pareceu ter perdido o gás em 6º e sua ambição se reduziu a ficar na frente do colega Petrucci. No meio da prova Quartararo sofreu um problema mecânico e abandonou, o desempenho de Morbidelli caiu e as posições definitivas começaram a ser desenhadas, Rins assumiu o 2º posto, Vinales o 3º terceiro seguido das Ducati, Rossi com uma prova consistente chegou até a 6ª posição.

Alguns fatos merecem ser mencionados. Pol Espargaro com a KTM cedeu a 12ª posição para Jorge Lorenzo por um erro estúpido, ao abrir a última volta ele imaginou ter encerrado na prova e desacelerou. No duelo familiar do clã Espargaró, Aleix com uma Aprilia obteve melhor classificação em todas as provas que concluiu, na contagem de pontos para o campeonato Pol leva uma pequena vantagem (3 pontos) por que o irmão mais velho abandonou em Austin.

As cinco Honda que participaram da prova ficaram na zona de pontuação, o piloto de testes da HRC Stefan Bradl participou como convidado testando um novo chassi. Apesar de Márquez ter vencido, a segunda RC213V melhor colocada ficou em 8º com Cal Crutchlow, seguida de Nakagami e Bradl, Lorenzo foi o 12º. O top ten foi dividido entre 4 Honda, 3 Yamaha, 2 Ducati e uma Suzuki.

A KTM está reeditando o que aconteceu com a Ducati no biênio 2017/2018, Johann Zarco tem o salário de 1º piloto e quem entrega resultados é Pol Espargaro, o espanhol chegou sistematicamente na frente do francês. A RC16 tem sido um prato indigesto, muito diferente da docilidade de condução que Zarco estava acostumado com a Yamaha. O piloto está enfrentando muitas dificuldades para controlar o equipamento e, como na vida (na MotoGP também) os males nunca estão desacompanhados, está perdendo a admiração dos franceses para a nova estrela em ascensão, Fábio Quartararo.

Todo o universo da MotoGP tinha a certeza que a tarefa de Jorge Lorenzo na Repsol-Honda era ingrata, seu colega de equipe além de ser considerado por muitos o melhor piloto em atividade, desenvolveu toda a sua carreira ligado à HRC e mantém a mesma equipe de apoio desde que subiu para a classe principal, Jorge é o “new kid on the block”. A demora de Lorenzo a apresentar resultados tem alimentado muitas conversas nos boxes da MotoGP. A seu favor tem o depoimento de Márquez que, mesmo com 2 vitórias em 4 provas, não está confortável com o desempenho da moto, o motor está melhor, porém a dirigibilidade está estranha, o comportamento da frente é complicado. A opinião do atual campeão do mundo sobre as dificuldades do equipamento é compartilhada por Cal Crutchlow, que apesar do pódio em Losail tem tido um mau início de temporada.

Nota final:
Um acidente, muito semelhante ao que causou o óbito de Marco Simoncelli na Malásia em 2011 aconteceu no início da Moto2 em Jerez. Remy Gardner, que disputava a terceira posição, sofreu um high side na curva 2 e caiu atravessado na frente de um compacto grupo de competidores. O efeito dominó causou a queda de outros pilotos, incluindo Alex Márquez que deslizou pela pista na frente de todo o pelotão que se aproximava. Por sorte ninguém o atingiu e os prejuízos foram só materiais. A moto de Márquez foi recomposta em tempo recorde, o suficiente para ele participar da nova largada do pit lane.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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