MotoGP – Game Over

quarta-feira, 2 de novembro de 2016 às 11:46
Andrea Dovizioso

Andrea Dovizioso

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Sobrou pouca coisa para ser decidida em Valência, última prova do calendário da MotoGP em 2016. Os dois primeiros lugares já estão matematicamente definidos e há uma pequena possibilidade que Jorge Lorenzo (Yamaha) perca a terceira posição para Maverick Vinales (Suzuki), a diferença entre eles é de apenas oito pontos. Pelo mundial de construtores a Honda lidera com uma margem de 21 pontos sobre a Yamaha, diferença cômoda considerando que está previsto o retorno de Dani Pedrosa. No mundial de equipes a Movistar Yamaha lidera com dez pontos de vantagem sobre a Repsol Honda. Falta também decidir qual o melhor piloto de equipe independente, Cal Crutchlow entra na pista somando dezessete pontos a mais que Pol Espargaró.

A história da MotoGP vai considerar a temporada de 2016 como um ponto fora da curva, nove pilotos vencedores no ano, oito diferentes em oito corridas consecutivas são fatos inéditos na história do mundial de motociclismo. Neste ano já houve a queima geral da largada na Moto2 na primeira corrida no Catar, o imbróglio dos pneus na Argentina que forçou a troca compulsória de motos, o temporal em Assen, o clima maluco em Sachsering e o drama do composto fornecido pela Michelin em Brno. Com este histórico, qualquer ocorrência em Sepang poderia ser considerada normal.

Uma enquete realizada entre os pilotos antes da prova de Aragon apontou Andrea Dovizioso como o mais provável a ser o nono piloto a vencer na temporada. O italiano, uma pessoa com trânsito fácil em todo o paddock, estava sob os holofotes da mídia desde que foi confirmado como o companheiro de Lorenzo na Ducati para a próxima temporada. Muitos questionaram a escolha sugerindo que, por ser mais novo e mais atrevido, Andrea Iannone seria uma escolha mais adequada. Iannone estava à frente na pontuação do campeonato e seu estilo afoito, quase (?) irresponsável, encanta os torcedores italianos. Já Dovizioso sempre foi um eterno número dois, inteligente, analítico, mas sem o instinto assassino necessário para obter vitórias.

A conquista da pole em Sepang proporcionou a melhor chance de quebrar esta imagem, porém o clima instável da Malásia sempre foi um fator de desconfiança. Em uma corrida no molhado Dovizioso teria uma chance real de vitória, com a pista seca a balança penderia para os favoritos de sempre, a dupla de fábrica da Yamaha e o campeão antecipado da temporada. Houve um complicador a mais, o retorno de Andrea Iannone, afastado das últimas provas por uma costela fraturada.

A chuva esteve presente no horário da corrida, o início foi protelado por quinze minutos, seguidos de mais cinco até o clima melhorar e o início da prova ser autorizado. Logo nas primeiras voltas formaram-se dois grupos, Iannone, Rossi, Dovizioso, Márquez, Espargaró (Pol), Crutchlow e Lorenzo distanciando-se dos demais.

As Honda não se adaptaram ao piso recapado de Sepang, cujo grip agravou seu crônico problema de retomada de velocidade. Quando isto acontece a única opção dos pilotos é compensar na frenagem a falta de aceleração, e o equipamento de Márquez foi equipado com discos de carbono, 320mm, mais eficientes que os de aço, com um tipo de carenagem protetora para manter a temperatura adequada. Funcionou enquanto a pista estava molhada. Na décima segunda volta aconteceu uma destas coincidências que dificilmente se repetem, as duas Honda do bloco dianteiro perderam a frente na mesma volta, Crutchlow caiu na curva 2 e Márquez nove curvas depois. A queda do campeão da temporada não foi relacionada com a sua escolha de freios, ele estava acelerando quando perdeu o controle. Assim como aconteceu na França, o piloto recuperou a moto e voltou para a prova, ultrapassando vários retardatários para classificar-se em décimo primeiro lugar.

Sem as Honda, Lorenzo foi promovido para quarto, que rapidamente mudou para terceiro com a queda, mais uma, de Iannone. Foi o décimo “zero” de Iannone nas dezessete provas da temporada, face a este histórico, nos dias atuais ninguém mais questiona a opção da Ducati em manter Dovizioso na equipe.

Com Lorenzo acomodado, a corrida limitou-se à disputa entre Rossi e Dovizioso, e o piloto da Ducati percebeu que o desempenho da Yamaha estava deteriorando. Valentino errou o ponto de frenagem na curva 1 da décima quinta volta, foi obrigado a fazer uma trajetória aberta, permitindo a ultrapassagem da Ducati pela linha interna. Rossi estava pagando o preço de exigir demais de seu pneu dianteiro, que resultou em uma perda gradativa da eficiência, sentiu que a vitória era improvável e sequer tentou recuperar a posição, limitou-se a administrar a segunda posição para garantir o vice-campeonato antecipado. Recompensa amarga para quem disputou uma dura batalha pela liderança com Iannone, ao ultrapassar o conterrâneo começou a acreditar que a vitória era possível, entretanto a pista começou a secar seu pneu dianteiro (sempre ele) aqueceu demais.

A colocação de Rossi no campeonato foi importante para a disputa interna que mantém com Lorenzo na Yamaha, os dois compartilharam os boxes em sete dos últimos nove anos (em 2011 e 2012 Rossi pilotou para a Ducati), cada qual contabiliza dois campeonatos neste período, Rossi chegou na frente do companheiro em quatro temporadas, Lorenzo em três. É uma comparação malandra, Rossi conquistou o bicampeonato quando Lorenzo foi promovido da Moto2, em 2008/2009, a partir de 2010 o espanhol foi campeão três vezes (em uma delas enquanto o italiano estava na equipe italiana), Rossi nenhuma.

A prova de Sepang também proporcionou uma emocionante disputa pelo quarto lugar entre os pilotos da Avintia, o espanhol Hector Barberá e o francês Loriz Baz. Com o quarto lugar, sua melhor colocação em sete anos de MotoGP, Barberá com uma GP 14.2 acumula 97 pontos no ano, um a mais que Andrea Iannone, da equipe oficial de fábrica.

A vitória de Andrea Dovizioso em Sepang é um prêmio justo para um piloto tranquilo, que não tem desafetos em todo o paddock. Não é um piloto de exceção, mas sua condução é correta e, quando as condições permitem, é candidato a vitórias. Nos planos da Ducati para a próxima temporada, Jorge Lorenzo está escalado para vencer etapas, a posição esperada de Dovizioso está centrada no desenvolvimento da moto.

PS: O canal britânico BT Sports veiculou, para ocupar o espaço de tempo em que a largada da prova foi retardada, uma matéria sobre o incidente entre Marc Márquez e Valentino Rossi na corrida de 2015, que resultou na penalização do italiano e, praticamente, decidiu o campeão da temporada. Segundo o comentarista da emissora, Valentino Rossi, intencionalmente, manobrou para tirar Márquez da pista conforme comprovam as fotos abaixo e a penalidade foi bem aplicada. Não houve comentário sobre um possível contato físico entre o italiano e a moto do espanhol.

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Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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