MotoGP – Espanhol teimoso

segunda-feira, 14 de maio de 2018 às 11:49

Filme Hitting the Apex

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

A teimosia dos espanhóis, principalmente dos catalães, é histórica. Conta a lenda que só existe uma maneira de colocar vinte espanhóis adultos dentro de um fusca, é só dizer que não cabem e eles dão um jeito. Marc Márquez é natural de Cervera, uma pequena cidade localizada a cento e poucos quilômetros de Barcelona por via rodoviária e, como todo o catalão, o atual campeão do mundo da MotoGP é um obstinado.

No final de 2015 foi lançado o documentário Hitting the Apex (A curva perfeita), contando a trajetória de seis dos pilotos da MotoGP mais rápidos do mundo, Valentino Rossi, Jorge Lorenzo, Dani Pedrosa, Marco Simoncelli, Casey Stoner e Marc Márquez. Com a versão original narrada por Brad Pitt, na parte inicial onde os princípios básicos do esporte são descritos há uma recomendação expressa para os candidatos a piloto: Evite quedas, fique na moto. Desde os seus prolegômenos o motociclismo esportivo convive com a ocorrência de acidentes durante provas. É inerente ao esporte, uma probabilidade real em uma competição desenvolvida com protótipos potentes que alcançam perto de 350 km/h equilibrados sobre duas rodas.

Alguns efeitos previsíveis acompanham o aumento da competitividade nas provas do mundial, entre eles a evolução dos ganhos dos pilotos. Os protótipos andam mais juntos, os condutores arriscam mais e a probabilidade de quedas e acidentes aumenta. Os números de 2017 indicaram um total de 313 incidentes exclusivamente nas etapas da MotoGP, um número 40% maior que o ano anterior (232).

O campeão de ocorrências na temporada de 2017 foi o piloto da Aprilia Sam Lowes, que contabilizou 31 quedas nas 18 etapas da competição. O segundo da relação foi o Marc Márquez, com 27 acidentes. Este número do espanhol é ainda mais notável porque apenas duas quedas ocorreram durante as severas condições das provas, todas as outras foram nas sessões de treinos que antecedem um GP. Este fato indica e existência de método, a sistemática de trabalho de Márquez é buscar o limite extremo para obter dados vitais para si e para seus engenheiros. Ninguém faz este trabalho melhor que ele. Como explica o piloto em suas próprias palavras “Quando você acelera até o limite, consegue obter um conhecimento melhor do equipamento e fornecer melhor feedback sobre a mecânica”. Márquez complementa: “Se caí 27 vezes, significa que estive muito próximo de cair talvez 50 vezes. Procuro entender melhor os limites da moto, saber onde errei, que falhas posso tentar corrigir e assim por diante”.

Marc Márquez é um recurso valioso para os engenheiros de desenvolvimento da Honda. Na etapa de Jerez caiu três vezes durante os treinos, venceu a prova administrando pelo menos um momento crítico, evitando a queda quando a roda traseira derrapou no cascalho jogado na pista pela Honda de Thomas Luthi da Marc VDS.

O resultado desta metodologia de trabalho mostrou sua eficácia na última prova de 2017 em Valência. Márquez liderava faltando 7 voltas para o final quando errou a freada da curva 1, evitou a queda apoiando o joelho na pista e controlando a máquina quando esta invadiu a área de escape com brita. O piloto retornou à prova e caiu da primeira para a quinta posição, não foi um desastre total porque até a sétima colocação garantiria seu título independente de qualquer resultado de seu desafiante. Em uma ocorrência muito semelhante duas voltas depois Andrea Dovizioso também invadiu a área de escape, não conseguiu manter o equilíbrio da sua Ducati e abandonou a prova.

O piloto espanhol protagonizou o acidente com maior velocidade já documentada na MotoGP. Em 2013, nas sessões de treinos da categoria principal que antecederam o GP da Itália em Mugello, ele perdeu o controle na maior reta do circuito enquanto desenvolvia 337,9 km/h. Os dados registrados pela telemetria são impressionantes, os acelerômetros indicaram que o piloto foi submetido a uma força de +25 G, o dado real pode ser maior porque este era o limite que podia ser mensurado pelos equipamentos. Apesar da gravidade da ocorrência o piloto sofreu apenas danos superficiais e foi autorizado a participar do GP. Abandonou a prova faltando três voltas para o final enquanto ocupava a segunda colocação.

Desde a sua edição inicial em 1949, o mundial de MotoGP foi decidido em três oportunidades em função de acidentes na etapa final. Em 1979 o italiano Virginio Ferrari liderava o campeonato com uma vantagem mínima sobre Kenny Rogers. Na última prova, o GP da França disputado em Le Mans, abandonou na primeira volta e a vitória do norte-americano garantiu o seu bicampeonato. No ano de 2006 Valentino Rossi, campeão das cinco temporadas anteriores, alinhou para a última prova em Valência com 8 pontos a mais que o desafiante Nicky Hayden. Rossi caiu na quarta volta e, embora tenha retornado à prova, obteve apenas a décima terceira colocação, o norte-americano com o terceiro lugar somou pontos suficientes para interromper a sequência de títulos do italiano. No ano passado Andrea Dovizioso largou em Valência com uma missão quase impossível, vencer a prova e contar com uma desistência improvável de Marc Márquez. O campeonato terminou na 25ª volta quando a Ducati do italiano abandonou a prova.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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