MotoGP – Coach

quinta-feira, 20 de abril de 2017 às 12:28
Pirro, Gabbarini e Lorenzo - Ducati

Pirro, Gabbarini e Lorenzo – Ducati

Colaboração: Carlos Alberto Goldani

Michele Pirro é um piloto italiano que competiu na MotoGP entre 2003 a 2016, considerando todas as classes já participou de 93 largadas e conseguiu uma única vitória na Moto2, GP de Valência em 2011. Em 2016 acumulou 36 pontos participando de nove etapas da temporada como piloto substituto para as equipes Ducati, Octo Pramac e Avintia, com equipamentos Ducati, modelos GP16, GP15 e GP14. Com este currículo modesto foi contratado como coach, termo que pode ser traduzido como conselheiro, treinador ou analista de pista, do piloto que recebe o maior salário entre os que disputam o campeonato, o multicampeão Jorge Lorenzo. Foi uma notícia inesperada, ainda assim tem lógica.

Ampliando mais o campo de visão, Luca Cadarola com um histórico de 34 vitórias e 3 títulos mundiais tem um acordo semelhante com Valentino Rossi, dono de 114 vitórias e 9 mundiais, Wilco Zeelenberg trabalhou com Lorenzo na Yamaha e agora assessora Maverick Vinales e Sete Gibernau realiza um trabalho semelhante com Dani Pedrosa.

Ser coach de um piloto da principal categoria da MotoGP não é uma função com atributos e responsabilidades rígidas, ele não existe apenas para abastecer o piloto com dicas sobre como pode melhorar seu desempenho, sua principal utilidade é coletar e fornecer informações para, em conjunto com os engenheiros e a equipe de apoio dos boxes, melhorar a competitividade. Um dos papeis mais importantes de um treinador ou analista de pista não é aconselhar piloto sobre o que está fazendo de certo ou errado, mas qual o resultado que pode obter em comparação com os concorrentes. Eventualmente é útil como um mediador interpretando o sentimento do piloto para os engenheiros e chefes de equipe, contribuindo assim para a melhoria do equipamento.

Wilko Zeelenberg, ex de Lorenzo e atualmente colaborando com Vinales, exemplifica que em uma ocasião Jorge estava insatisfeito com o desempenho em uma curva, ele observou a maneira como vários outros pilotos realizavam o contorno e descobriu que ele estava entrando com velocidade excessiva a perdia tempo ao corrigir a traseira. O simples fato de frear um átimo antes da entrada resultou em um ganho de décimos de segundo por volta.

Cada piloto tem um uma técnica própria de condução, há os que, como Rossi e Vinales, preferem um equipamento equilibrado, outros, como Márquez e Crutchlow, obtém melhores resultados com maior aderência na roda dianteira e administrando o que acontece com a roda de trás. O trabalho do coach é obter o melhor compromisso entre os atributos dos equipamentos, as preferências pessoais dos condutores e as características das pistas, avaliando o ambiente como um todo, incluindo a análise atenta do que acontece com os outros competidores. Ele é um observador que pode analisar as ocorrências e classificar os eventos sem a carga emocional que o piloto está submetido. Muitas vezes o sentimento dos condutores é que não estão obtendo os melhores resultados porque acreditam que estão com um ou outro problema, o analista de pista pode observar outros pilotos e verificar se compartilham a mesma dificuldade. Nesses casos deve tranquilizar o piloto e tomar as providências necessárias, com decisões racionais e desprovidas de pressão emocional.

As provas da MotoGP são disputas entre pilotos, desde a largada para a volta de apresentação até a bandeirada final todas as decisões são exclusivas dos condutores. O máximo que a equipe pode fazer para ajudar é sinalizar com instruções em placas apresentadas no muro da reta de chegada, que o piloto segue se quiser. Na prova de Sachsering de 2016, as placas de diversas equipes chamaram seus pilotos para a troca de equipamentos, mudar de pneus de chuva para intermediários porque a pista estava secando rapidamente. Nos boxes as equipes acompanhavam a evolução dos tempos de Marc Márquez, que se atrasou e recuperava mais de cinco segundos por volta, enquanto na pista Dovizioso, Rossi, Barbera e Crutchlow não queriam parar porque estavam disputando palmo a palmo a liderança. Os pilotos não acreditaram no apoio externo e seguiram seus próprios instintos, abrindo espaço para uma vitória improvável da Honda. Parte do trabalho dos analistas de pista é conquistar a confiança dos pilotos para, quando for adequado, acreditar em seu pessoal de apoio.

A utilização de treinadores abre novas oportunidades e novas perspectivas para o piloto, que passa a contar com um par de olhos extra. O coach pode interagir nas reuniões de acompanhamento com a equipe, incluindo engenheiros e projetistas, e propor alterações de procedimentos ou melhorias no equipamento. Ele acompanha o comportamento das motos em diversos pontos da pista, só assim pode verificar, por exemplo, se uma Honda em uma curva se comporta de forma diferente que uma Yamaha. O piloto sobre a moto e a equipe no box não tem esta possibilidade.

Carlos Alberto Goldani
Porto Alegre – RS

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